Publicado em 20 de maio de 2025 às 06:39
Em um laboratório escondido acima da neblina das florestas da Dakota do Sul, nos Estados Unidos, cientistas estão em busca da resposta para uma das maiores perguntas da ciência: por que o Universo existe?>
A equipe está em uma verdadeira corrida científica com cientistas do Japão — que, por sinal, estão alguns anos à frente. >
A teoria atual sobre a origem do Universo não consegue explicar a existência dos planetas, estrelas e galáxias que vemos ao nosso redor. Por isso, os dois grupos estão construindo detectores para estudar uma partícula subatômica chamada neutrino, na esperança de encontrar respostas. >
A colaboração internacional liderada pelos americanos acredita que a resposta esteja no subsolo, e batizou o projeto de Dune (sigla, em inglês, para Experimento de Neutrinos em Grande Profundidade).>
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Os cientistas vão descer 1.500 metros de profundidade até três enormes cavernas, que foram escavadas para abrigar o projeto. O tamanho do local é tão impressionante que a equipe de construção e seus tratores parecem brinquedos de plástico.>
Jaret Heise, diretor científico da instalação, descreve as cavernas como "catedrais da ciência". Segundo ele, elas foram projetadas para isolar o experimento Dune do barulho e da radiação da superfície. >
Agora, o Dune está pronto para entrar em sua próxima fase. >
"Estamos preparados para construir o detector que pode mudar completamente o nosso entendimento sobre o Universo", afirma Heise, que está envolvido na construção das cavernas na Instalação de Pesquisa Subterrânea Sanford há quase dez anos. >
"Os instrumentos serão operados por mais de 1.400 cientistas de 35 países, que estão motivados por uma única pergunta: por que existimos?".>
Quando o Universo foi criado, dois tipos de partículas surgiram: a matéria — que forma tudo ao nosso redor, como estrelas e planetas — e, na mesma proporção, a antimatéria, que é o oposto da matéria. >
Em teoria, essas duas deveriam ter se anulado, deixando apenas uma grande explosão de energia. Mesmo assim, aqui estamos nós, feitos de matéria. >
Cientistas acreditam que, para entender por que a matéria ainda existe — e, consequentemente, por que nós existimos — é preciso estudar uma partícula chamada neutrino e a sua antimatéria, o antineutrino. >
Eles vão disparar feixes de ambos os tipos de partículas a partir de um ponto profundo do subsolo em Illinois para detectores na Dakota do Sul, a cerca de 1.300 quilômetros de distância. >
Isso porque, ao longo do trajeto, neutrinos e antineutrinos passam por pequenas mudanças. Os pesquisadores querem descobrir se essas mudanças são diferentes nos neutrinos e nos antineutrinos. Se forem, isso pode levá-los a algumas respostas que explicariam a causa da matéria e antimatéria não terem se anulado no início do Universo. >
Entre os 1.400 cientistas que atuam no Dune está Kate Shaw, da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Ela afirma que as descobertas que estão por vir serão "transformadoras" para a nossa compreensão do Universo e para a maneira como a humanidade se enxerga. >
"É muito empolgante estarmos aqui, hoje, com esse tipo de tecnologia, engenharia, e as habilidades em software de computadores que nos permitem, de fato, enfrentar essas grandes questões", disse à BBC. >
Do outro lado do mundo, no Japão, cientistas estão usando esferas douradas brilhantes em busca das mesmas respostas. O grupo está construindo o Hyper-K, que será uma versão maior e melhor do seu atual detector de neutrinos, o Super-K. O projeto é tão impressionante que lembra um templo dedicado à ciência.>
A equipe deve estar pronta para ativar seu feixe de neutrinos em menos de três anos — muito antes do projeto americano. Assim como o Dune, o Hyper-K também é uma colaboração internacional. >
Mark Scott, do Imperial College, em Londres, participa da equipe japonesa, e acredita que seu time está em posição de vantagem para fazer uma das maiores descobertas sobre a origem do Universo. >
"Vamos começar antes e temos um detector maior, então devemos ter mais resultados antes que o Dune", afirma. >
Ter os dois experimentos funcionando juntos — o americano e o japonês — significa que os cientistas vão aprender muito mais do que aprenderiam se tivessem apenas um projeto. Mas, Scott afirma: "Eu gostaria de chegar primeiro.">
Já Linda Cremonesi, da Queen Mary University, em Londres, que atua no projeto Dune, acredita que ser o primeiro pode não garantir uma visão completa do que realmente está acontecendo. >
"Existe, sim, um certo clima de corrida. Mas o Hyper K ainda não tem todos os ingredientes necessários para entender se os neutrinos e antineutrinos se comportam de forma diferente.">
A corrida já está acontecendo, mas os primeiros resultados são esperados só daqui a alguns anos. Enquanto isso, a pergunta sobre o que aconteceu no início dos tempos, e que nos trouxe até aqui, permanece um mistério.>
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