Publicado em 21 de março de 2018 às 14:58
O nome da empresa de análise de dados Cambridge Analytica, com sede em Londres, está nas manchetes dos noticiários pelo mundo. A companhia é acusada de interferir na eleição nos Estados Unidos em 2016 por meio da compra ilegal e manipulação de dados pessoais de cerca de 50 milhões de usuários do Facebook. As informações teriam sido usadas pela campanha do presidente americano Donald Trump para direcionar propaganda política. A Cambridge Analytica também teria atuado de forma ilegal na campanha do Brexit. E mais: vídeo gravado secretamente e divulgado pelo Channel 4 News, do Reino Unido, nesta semana, mostra dois dos mais altos executivos da empresa afirmando que usaram a coleta de dados ilegal em outros países, como México e Malásia, e que estavam vindo para o Brasil participar da eleição de outubro deste ano.>
No vídeo, registrado em um dos quatro encontros realizados com empresários da CA entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, Alex Tyler, chefe de dados da consultoria, diz que a coleta de dados pessoais ajuda a segmentar a população para "passar mensagens sobre questões com as quais se importam e linguagens e imagens com as quais provavelmente se engajam". Ele admite:>
Usamos isso nos Estados Unidos, na África... É o que fazemos como empresa explica Tyler, que é complementado pelo diretor-gerente da CA, Mark Turnbul:>
Fizemos no México, na Malásia, e agora estamos indo para o Brasil, China, Austrália...>
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Em novembro do ano passado, uma reportagem da Bloomberg mostrou que a CA vinha mantendo contatos no Brasil para trabalhar com políticos brasileiros na eleição presidencial deste ano. A CA Ponte, parceria entre a consultoria britânica e a empresa brasileira Ponte Estratégia, disse na época estar em contato com três possíveis candidatos, mas ainda sem acordo fechado.>
André Torreta, presidente da firma brasileira, disse então à Bloomberg que a ideia era "tropicalizar" os métodos de análise de dados da CA e adaptá-los ao contexto brasileiro. Ao GLOBO, no último sábado, o publicitário disse que foi pego de surpresa com a investigação aberta contra a CA e que suspendeu a parceria com a consultoria britânica.>
Com uma câmera escondida, a reportagem do Channel 4 News capturou o momento em que o diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, sugere táticas para prejudicar políticos, indicando que há muitas estratégias para "cavar fundo". Ele diz que é preciso "oferecer um acordo que seja muito bom para ser verdade e garantir que o vídeo esteja gravando".>
O repórter do Channel 4 News, que não foi identificado, se passou por um funcionário de uma família rica do Sri Lanka que queria ajudar a promover políticos aliados. Nos encontros gravados sigilosamente, Nix e outros executivos da Cambridge Analytica se vangloriavam ao dizer que contratam empresas de fachada e ex-espiões em nome de clientes políticos.>
COLETA DE DADOS NOS EUA>
Com a ajuda do psicólogo Aleksandr Kogan, a CA desenvolveu um aplicativo chamado "This is Your Digital Life" (Esta é sua vida digital), que consistia em um teste de personalidade que perguntava aos usuários se eles são extrovertidos, vingativos, se concluem os projetos que começam, se têm a tendência da preocupação ou se gostam de arte, entre várias outras coisas. O método foi usado para reunir dados de 270 mil usuários do Facebook e também de "amigos" das pessoas que utilizaram o sistema na rede social. Com isso, o aplicativo chegou a coletar dados de 50 milhões de pessoas.>
Os resultados básicos obtidos com a pesquisa eram combinados com dados retirados dos perfis e amizades do Facebook para conseguir uma longa lista de características de um usuário, ao qual poderia ser enviada uma mensagem eleitoral mais ou menos sob medida chegaram a dispor de 175.000 mensagens diferentes.>
De acordo com um ex-funcionário da Cambridge Analytica, Christopher Wylie delator do escândalo , a empresa conseguiu informações de 50 milhões de pessoas que acabaram sendo usadas para criar um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores na eleição dos Estados Unidos e no referendo do Brexit em 2016. Wylie, cofundador da empresa, se dispôs a depor à Comissão de Inteligência da Câmara dos EUA, responsável pela investigação que apura a suposta interferência da Rússia na eleição americana.>
As regras não importam para eles. Isso é uma guerra e tudo é justo afirmou Wylie sobre a consultoria. Eles querem lutar uma guerra cultural nos EUA, e a Cambridge Analytica deveria ser seu arsenal.>
PLANEJAMENTO DE ESCÂNDALOS>
O escândalo da Cambridge Analytica, cujos diretores acreditavam ter o poder de mudar tendências eleitorais, inclusive com o planejamento de escândalos com prostitutas e subornos para arruinar a reputação de candidatos, arrastou o Facebook, cuja proteção de dados dos usuários passou a ser questionada.>
A Cambridge Analytica trabalhou para a campanha vitoriosa do presidente americano Donald Trump e, segundo os líderes do movimento britânico pró-Brexit, também para eles, embora a consultoria negue a atuação no referendo do Reino Unido.>
CEO DA CAMBRIDGE ANALYTICA DEMITIDO>
Nix foi demitido, após a divulgação do vídeo gravado no qual afirma que a campanha online de sua consultoria com sede em Londres desempenhou um papel decisivo na vitória do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na eleição de 2016.>
Os comentários de Nix "não representam os valores ou operações da empresa e sua suspensão reflete a seriedade com que vemos essa violação", disse a Cambridge Analytica em comunicado na terça-feira.>
Seus comentários, que não puderam ser verificados, são potencialmente um problema ainda maior para o Facebook à medida que enfrenta o escrutínio de parlamentares nos EUA e Europa sobre o uso indevido da de dados pessoais de usuários. Em 2015, quando "Guardian" revelou que a Cambridge Analytica estava usando informações privadas de usuários da rede social, a empresa constatou o vazamento, sem reconhecê-lo publicamente, e exigiu a destruição dos dados.>
Agora, rede social proibiu que Cambridge Analytica e Aleksandr Kogan utilizem a plataforma. O fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi convidado a dar explicações no Parlamento britânico, no Parlamento europeu e no Congresso americano. Já nos Estados Unidos, a Federal Trade Commission (FTC), comissão que regulamenta o comércio, iniciou uma investigação e abriu dois processos em Nova York e Massachusetts.>
As ações da rede social caíram pelo segundo dia seguido na terça-feira, fechando em queda de 2,5%, a US$ 168,15, com investidores preocupados de que a sua relação com a Cambridge Analytica possa danificar sua reputação, dissuadir anunciantes e abrir espaço para regulações restritivas. A companhia perdeu US$ 60 bilhões de seu valor de mercado ao longo dos últimos dois dias.>
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