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IA pode ajudar a prever risco de enchentes e ondas de calor em regiões vulneráveis

IA pode ajudar a prever risco de enchentes e ondas de calor em regiões vulneráveis

Além de mapear as regiões com maior chance de sofrer com o impacto climático, tecnologia pode ser usada para analisar riscos de doenças

Gabriela Maia

Estagiária / [email protected]

Publicado em 12 de junho de 2025 às 16:24

O evento Sustentabilidade Brasil 2025 acontece do dia 11 a 14 de junho, na praça do Papa
Waleska Queiroz reforça a importância de mapear as particularidades de cada região para criar soluções mais eficientes Crédito: Gabriela Maia

Aliar o conhecimento das comunidades às ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial (IA). Esse é um dos caminhos apontados por especialistas para os desafios causados pela crise climática e falta de infraestrutura em regiões mais vulneráveis. O tema foi debatido em um dos painéis da quarta edição da conferência Sustentabilidade Brasil, que reúne mais de 120 palestrantes de todo o país até sábado (14), na Praça do Papa, em Vitória.

Com o tema "Cidades do Futuro: IA e a infraestrutura para resiliência climática", um dos painéis do evento teve como foco a apresentação de projetos voltados para cidades inteligentes, desenvolvimento social e justiça climática. A apresentação contou com a participação da engenheira sanitarista e ambiental e mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis Waleska Queiroz; o gestor público e pós-graduando em Economia Comportamental e Inteligência Artificial Christian Basílio; e o presidente e fundador da Associação Nacional dos Diplomados do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (ANDP), Amilton Machado.

Pesquisadora do Observatório das Baixadas, Waleska Queiroz explica que para iniciar um trabalho dentro de uma comunidade, o primeiro passo é coletar dados, conhecer a cultura e resgatar o conhecimento daquele local. No caso do projeto, o foco está nas baixadas, que são tipos de periferias ou comunidades em estado de vulnerabilidade. Esses locais possuem característica geográfica típica, que são os terrenos baixos. As ações da iniciativa têm como objetivo promover a justiça social e climática e o combate ao racismo ambiental.

“O Observatório entende que as cidades inteligentes não devem considerar apenas fatores tecnológicos, mas também as soluções comunitárias que são desenvolvidas em um local. Enquanto pesquisadores negros, a gente consegue trazer esse envolvimento para a comunidade e gerar esses dados. Temos geógrafos, cientistas sociais, profissionais da área de exatas e humanas. Com essa multidisciplinaridade, é possível gerar pesquisa da melhor forma para diferentes territórios”, detalha.

A pesquisadora reforça a importância de mapear e compreender as particularidades de cada região para criar soluções e políticas públicas mais eficientes para as regiões periféricas. “É importante destacar o projeto como ferramenta de denúncia, em que a própria comunidade pode mostrar a sua realidade de forma a trazer a atenção do governo para essas questões”, defende.

O gestor público Christian Basilio atua fazendo o diagnóstico e incentivando a promoção de dados cidadãos nas favelas, onde a própria comunidade coleta as informações e faz o compartilhamento através de canais adequados.

As inovações podem acontecer da mesma maneira em lugares diferentes. Pode ser a própria prefeitura, mas também acontece dentro das comunidades e dos projetos.

Christian Basilio

Gestor público e pós-graduando em Economia Comportamental e Inteligência Artificial

O especialista explica que os moradores das comunidades passam por uma capacitação, e a partir daí, começam a se envolver mais com a própria região e a identificar melhor os problemas daquela realidade, como a falta de saneamento básico e os impactos da crise climática. “Com essas informações, a gente consegue fazer um diagnóstico do local. Com a ajuda da inteligência artificial, é possível ver quais regiões estão em alerta, onde estão os riscos de enchentes e ondas de calor e até quais regiões têm maior risco de sofrer com doenças como dengue e leptospirose, que costumam ser associadas a esses tipos de desastres naturais”, conta.

“Criar uma proposta de censo é muito importante e interessante. Dessa forma, a gente consegue criar pertencimento dentro dessas localidades. Não necessariamente só com os pesquisadores mas também com as pessoas do próprio território”, aponta.

Para o pesquisador, a participação social na construção dessas informações é essencial para compreender a realidade vivida por determinado grupo “O censo nem sempre consegue dizer sobre toda a realidade de um local, principalmente se esses locais forem difíceis de serem acessados ou se forem acometidos por questões de crime organizado ou qualquer outro tipo de barreira”, esclarece.

Depois de atuar junto com as prefeituras do Rio de Janeiro e Niterói, Basílio conta que conseguiu aprimorar técnicas para compreender os dados demográficos das regiões com mais eficiência. “Eu vejo a cartografia social como um caminho possível para gente ter dados mais elaborados sobre os territórios”, defende.

Ao se deparar com a falta de informações sobre comunidades quilombolas, o mestre em engenharia de produção Amilton Machado passou a realizar um trabalho que incentiva e promove a gestão territorial dentro desses grupos.

A gente trabalha com uma janela de oportunidade que é exatamente essa questão de diversidade, cuidado e inclusão. E o que é o Brasil? É o negro, o quilombola, o indígena, o ribeirinho, e é dessa maneira que a gente está fazendo esse trabalho

Amilton Machado 

Mestre em engenharia de produção e  fundador da Associação Nacional dos Diplomados do Prominp (ANDP)

A partir dessa iniciativa, Amilton desenvolve suas pesquisas com os dados baseados no comportamento das comunidades quilombolas, desde o uso de energia até a gestão daquele território. “Quando entra com a infraestrutura de energia e sensoriza, você vai ver qual é o nível de utilização de carga elétrica no quilombo. São informações que o governo brasileiro ainda não tem, por exemplo."

“A partir daí, você constrói uma cidade inteligente com hierarquia. Você analisa a eletricidade, a gestão territorial, a segurança e vê todas as vertentes de uma cidade inteligente dentro dos quilombos”, completa.

Machado afirma que, sem esse tipo de dado, o governo não consegue pensar e nem executar ações eficientes para as populações menos favorecidas. “Quando você começa a ver essas informações e percebe que estão totalmente desorganizadas, o que acontece é a invisibilização das mulheres e dos homens negros, que representam 56% da população brasileira. E onde estão as políticas públicas pensadas para estas pessoas?” questiona.

O painelista também destacou a importância de valorizar o conhecimento e a inteligência dessas comunidades, que muitas das vezes criam soluções sociais através da sabedoria local. “A gente tem que auxiliar não dando peixe, mas ensinando a pescar. O potencial da ancestralidade e do saber é grande demais”, reforça o engenheiro.

Segundo Machado, apesar dos aportes financeiros, muitas vezes o fluxo não tem a eficiência necessária para que os investimentos cheguem da maneira correta dentro dos territórios. “Se queremos fazer combate à mudança climática, temos que olhar o fluxo de como o investimento está sendo feito”, completa.

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