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Rafifa13: 'Aos poucos vamos superando o preconceito com os gamers'

Rafifa13: "Aos poucos vamos superando o preconceito com os gamers"

Maior atleta brasileiro de Fifa da atualidade, Rafael Fortes, o Rafifa, fala sobre o cenário dos e-sports e do sucesso pessoal no segmento

Publicado em 31 de agosto de 2018 às 21:00

Rafifa13 é um dos maiores jogadores brasileiro da atualidade de Fifa e atleta do PSG Crédito: Arquivo Pessoal

Rafael Fortes é um carioca de 23 anos e graduando em Relações Públicas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O perfil é de um jovem comum, mas ele não é. No mundo dos games, ele atende por Rafifa13, nome internacionalmente conhecido, premiado e respeitado no maior jogo de futebol virtual da atualidade, o Fifa.

O sucesso é tanto, que hoje ele defende as cores do Paris Saint-Germain, da França, e tem a oportunidade de jogar com Neymar, Cavani e Mbappé. Não dentro do campo, mas nas imponentes telas específicas para os games.

Rafifa: "hoje eu sou remunerado pelo clube para representá-lo nas competições de Fifa no Brasil e também internacionalmente. É dedicação exclusiva" Crédito: Arquivo Pessoal

Expoente da febre que se tornou os games, Rafifa fala sobre a transformação que o setor passa, a profissionalização dos atletas e das quebras de barreiras que os gamers superam a cada dia, além do sucesso que já atingiu.

Por que Rafifa13?

É a junção do meu nome com o do jogo. O número 13 é uma homenagem ao Loco Abreu, meu ídolo e que jogou no Botafogo. Meus amigos me chamavam de Rafifa e o adotei.

Quando foi apresentado aos games?

Meu primeiro contato foi bem novo, eu devia ter uns 5, 6 anos e foi jogando Super Mario, International SuperStar Soccer (futebol) e o próprio Fifa. Pouco tempo depois migrei para os consoles mais modernos, como o Nintendo 64, mas a preferência sempre foram pelos jogos de futebol mesmo.

Em qual momento notou que a diversão poderia se tornar profissão?

Eu tive a ideia em 2012, no primeiro torneio competitivo que disputei e acabei em quarto lugar no Brasileiro, sendo o segundo colocado do Rio, e tive a chance de viajar para São Paulo. Foi uma viagem legal para mim, pois eu tinha 16, 17 anos e foi uma experiência ótima. Ali ganhei uma premiação em dinheiro, além de disputar com os melhores do Brasil na época. Nessa perpectiva, identifiquei que tinha talento, mas precisaria me dedicar e me esforçar em busca desse sonho.

Qual foi a participação da sua família nessa transição?

Para todos aqui de casa e meu ciclo de amigos, minha escolha em ser gamer e viver disso foi vista com naturalidade. Estou concluindo meus estudos em Relações Públicas na Uerj. Eu trabalhava em uma agência como social media paralelamente à dedicação aos games, pois ainda não dava o retorno. Isso mudou quando surgiu a oportunidade de ir para o PSG no ano passado. Ali eu sabia que tinha que abraçar a oportunidade e me dedicar exclusivamente.

Atualmente você é contratado pelo PSG. Como funciona?

Hoje eu sou remunerado pelo clube para representá-lo nas competições de Fifa no Brasil e também internacionalmente. É dedicação exclusiva.

Qual o máximo de premiação que já alcançou?

O último campeão mundial de Fifa levou uma premiação de U$ 250 mil (cerca de R$ 1,2 milhão).

Como é sua rotina?

Treino com os principais jogadores do Brasil por cerca de três a quatro horas por dia. Mas agora estamos em período de férias, pois é fim de temporada do Fifa 18 (O novo será lançado mundialmente no próximo dia 28). Nesse sentido, eu tenho o suporte do PSG, eles me dão apoio e tudo que eu preciso para desempenhar bem o meu papel.

O que diferencia um jogador comum para um profissional: é a habilidade, velocidade de raciocínio?

Inicialmente é necessário ter um talento a mais, porém precisa ter tempo e recursos a mais para se dedicar. Claro que um profissional tem mais habilidade para extrair o que o jogo permite. Tudo isso soma para sermos superiores aos jogadores casuais. Isso no caso do Fifa, game que jogo. Mas sempre tem atletas novos, uma galera boa entrando no cenário, o que acaba por ter uma rotatividade grande dos gamers.

Como funcionam as competições do modo Ultimate Team?

O Ultimate Team seria o modo arcade do Fifa. Essa foi a modalidade escolhida para os campeonatos pela produtora dos jogos (EA Sports). É semelhante a um álbum de figurinhas da Copa. Você compra os cards (cartinhas) e a partir dela você monta seu time com jogadores de todas as equipes e nacionalidades existentes no Fifa. Você pode ter um time com Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar simultaneamente. Dependendo de quais cartinhas tirar, você consegue vender as que não tiver interesse e também jogar com seu time para disputar competições dentro desse modo de acordo com seu ranking. Basicamente funciona como um mercado de compra e venda.

Rafifa tem 23 anos e roda o mundo em campeonatos de e-sports Crédito: Arquivo Pessoal

Como foi vencer a Seletiva das Américas para o Mundial?

Foi uma realização, em especial pelo tempo que eu me dedicava ao Fifa. Já tem um tempinho (2017). Naquele momento eu já estava consolidado, era um dos jogadores mais experientes do país, com dois títulos brasileiros. Mas ter essa oportunidade de ganhar um campeonato como esse foi sem dúvidas importante demais para mim.

Quais são os próximos desafios e até quando vai seu contrato com o PSG?

Tenho contrato até março de 2019 com o clube. Vamos jogar a próxima temporada e espero que seja muito melhor e vou trabalhar firme para seguir representando o PSG e o Brasil lá fora.

Hoje talvez você seja o maior expoente em Fifa no Brasil e uma referência para quem deseja seguir nessa área. O que pode aconselhar a esses jovens?

Investir tempo é fundamental, mas no modo Ultimate Team também é necessário investir dinheiro. De alguma forma necessita montar um time forte e competir contra os melhores gamers.

Os e-sports já ocupam espaços nas grades de canais fechados e tem programas na TV aberta. Qual a importância disso para o crescimento do setor?

A entrada dos e-sports na mídia especializada em esportes já é um indício para que se quebrem os preconceitos do grande público em geral, que ainda tem aquela ideia de que e-sports é coisa de preguiçoso, de quem está ocioso. Com o auxílio dos outros jogos (CS: GO e LOL) nós vamos crescendo no cenário atual.

O futebol virtual ainda está atrás de LOL e CS: GO, por exemplo. O que falta para chegar ao nível dessas competições, inclusive nas premiações?

É primordial trazer o público casual, já que Fifa é um dos jogos mais vendidos do mundo, mas desempenhado na grande maioria como um lazer. Mas isso é uma questão de tempo. O Lol e o CS: GO, por exemplo, são jogos com bastante tempo de mercado no cenário competitivo, enquanto o Fifa é relativamente novo. Com o tempo vamos aumentando e nos aproximando desses games.

Acredita que os e-sports possam ser reconhecidos como modalidade esportiva e serem incluídos em uma Olimpíada em um futuro próximo?

Seria uma quebra de paradigma, mas é preciso ir com calma. Ao invés de já tentar colocar os e-sports nos Jogos, acho mais válido criar uma Olimpíada específica para games. Claro que se for incluído nas olimpíadas tradicionais daria uma visibilidade absurda, mas é algo que precisa ser muito bem analisado.

Recentemente, presenciamos um ataque cometido por um gamer de futebol americano em uma competição nos EUA e que acabou com vítimas. Qual é o limite para um jogador amador ou profissional não se ver em meio à uma dependência do game?

São assuntos completamente separados e sem relação. O que se viu nos Estados Unidos foi um caso pontual, que tem todo um lastro de uma política de armas interna do local. Acredito mais em um destempero emocional de um jogador do evento e que não tinha condições de portar uma arma, mas aí já é questão da regulamentação dos EUA. O ocorrido não tem nada a ver com vício. É uma discussão mais ampla. Cada jogador ou pessoa conhece os próprios limites. Nunca ultrapassei os meus. A partir do momento que começa a ser prejudicial, é o momento de parar.

Pretende ir até onde no e-sports?

Sou relativamente novo. Acho que ainda tenho muita coisa para disputar.

Quem é o seu ídolo?

Sem dúvidas o Gabriel "Fallen" Toledo, jogador de CS: GO.

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