Publicado em 8 de março de 2018 às 13:19
"Vai lavar vasilha" ou "já limpou a casa hoje?". Essas são apenas duas entre as diversas frases que certas mulheres são obrigadas a ouvir em suas rotinas. Para as que trabalham no mundo esportivo o cenário costuma ser ainda pior. Fernanda Lima, atual técnica do Instituto ARES, que vai disputar a Copa Espírito Santo de Basquete neste ano, é constantemente vítima de expressões preconceituosas que são entoadas nas arquibancadas e até mesmo dentro das quadras. Este, no entanto, não é o primeiro obstáculo de sua carreira. Ser a única treinadora dentre todos os times da Copinha exige dela muita garra e força de vontade para se manter no meio de um universo ainda bastante masculino. Ao longo dos meses que está à frente do clube, ela enfrentou muitas barreiras, mas superou todas elas.>
"Nossa, já ouvi muitas coisas negativas e em diversas ocasiões. São coisas que ouvimos de torcedores e até mesmo de profissionais... árbitros e até técnicos de equipes adversárias já me falaram gracinhas, soltaram piadinhas machistas. O momento que mais me impactou foi em 2015, em um jogo contra um time do Ceará. Na ocasião, quando terminou a partida e meu time venceu, o treinador adversário não quis me cumprimentar e proibiu os jogadores dele de me cumprimentar também. Isso tudo por eu ser mulher e por ser mais nova e ter vencido. Achei uma situação lamentável e fiquei muito ofendida", contou Fernanda. >
A ideia de colocá-la como treinadora do time de Domingos Martins veio do dirigente Rogério Machado. No começo deste ano, o cartola decidiu dar uma chance a Fernanda Lima, que havia feito parte do processo de reestruturação dos times masculino e feminino do clube. Como educadora física formada em 2014 e com uma bagagem que impõe respeito dentro da modalidade, ela foi a responsável, ainda em 2017, por levar o time ao título da Pré-Copa ES de Basquete, seletiva que garantiu de vez a vaga da equipe na competição mais importante do basquete capixaba.>
"Minha trajetória no basquete sempre foi intensa. Comecei bem nova e, aos 13 anos, me mudei para Minas Gerais. Retornei ao Espírito Santo aos 16 anos, quando passei a fazer parte dos times femininos. Aos 18 anos, decidi me tornar treinadora e entrei para um projeto de técnicos para aprender mais sobre a modalidade. Treinei seleções capixabas sub-13, sub-15 e sub-17 para ir ganhando experiência. Em 2014, assumi o Gorilas, que foi a primeira equipe adulta masculina que treinei. Agora, espero poder contribuir com o basquete do Instituto Ares", afirmou Fernanda Lima.>
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A comandante sempre foi ligada ao meio esportivo. Seu pai, Lourivam Lima, e sua mãe, Carmem Dutra, sempre foram seus maiores incentivadores e colocaram Fernanda aos 11 anos de idade numa escolinha de basquete - foi amor à primeira vista. É uma longa caminhada no meio, e Fernanda garante estar "adaptada" aos xingamentos. Não deixa, no entanto, de enfatizar a falta de respeito com as mulheres para que a sociedade seja alertada.>
"Passei por situações desagradáveis e persisti em busca de fazer o que mais amo, que é estar envolvida com o basquete. Espero que outras mulheres também corram em busca de seus sonhos, de suas vontades. Precisamos deixar de lado esse preconceito para termos nossas conquistas pessoais", concluiu a treinadora.>
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