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Desempenho da trans Tiffany na Superliga Feminina provoca discussão

Desempenho da trans Tiffany na Superliga Feminina provoca discussão

Primeira trans a jogar entre as mulheres, Tiffany Abreu divide opiniões: ela leva vantagem sobre as outras jogadoras?

Publicado em 8 de fevereiro de 2018 às 22:10

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Todos os holofotes estão voltados para ela, dentro e fora de quadra. Aos 33 anos, Tiffany Abreu virou a maior protagonista da Superliga Feminina de Vôlei. Com um ataque poderosíssimo e uma força que poucas atletas têm, a primeira transgênero a jogar na elite entre as mulheres gera discussão: por ter nascido homem, ela leva vantagem sobre as outras jogadoras?

Tiffany defende o Vôlei Bauru nesta Superliga. (Marcelo Ferrazoli/Vôlei Bauru)

Tiffany inspira, mas também incomoda. Em todo caso, a oposta do Bauru tem o respaldo do Comitê Olímpico Internacional (COI). Segundo a entidade, não é preciso fazer a cirurgia de mudança de sexo para disputar competições femininas. Basta ter um nível de testosterona abaixo de 10 nanomols por litro de sangue. Tiffany tem apenas 0,2 nanomol e precisa fazer exames regularmente para atestar a baixa testosterona.

 “Eu acho que todo mundo tem que ter oportunidade, mas ela realmente leva algumas vantagens, porque tem a estrutura masculina. Tem que ver como vai se encaminhar, porque já tem uns nove pedidos de trans para entrarem na Superliga. Uma atleta trans teria uma pontuação de medalhista olímpica, então talvez a solução seria nivelar os times para não ficarem desiguais”, questionou a jogadora de vôlei de praia Lili, que iniciou sua carreira nas quadras.

Tiffany nasceu Rodrigo Pereira de Abreu e virou jogador de vôlei. Atuou por clubes da Superliga Masculina, entre outras equipes de países como Espanha, França e Bélgica. Em 2012, começou a mudança de sexo ainda fora do Brasil. A transição se deu aos 30 anos.

No início do ano passado, Tiffany recebeu a permissão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em ligas femininas. Já a liberação para atuar pelo Bauru na Superliga Feminina veio em dezembro.

O forte ataque é a principal característica de Tiffany. (Neide Carlos/Vôlei Bauru)

"No feminino me transformei em uma mulher forte. Se eu fosse um menino fraco, me transformaria em uma mulher fraca. Quando jogava com os meninos, eu também tinha essa testosterona alta e era muito forte. Quando comecei a fazer a transição, não era mais aquela atacante de força, já era uma atacante mais de preparação”, disse Tiffany em entrevista à TV Globo.

A atleta trans virou a sensação do Bauru. Em poucos jogos, a referência de ataque do time tornou-se uma das melhores jogadoras do País e já até entrou para a história. Contra o Praia Clube, em janeiro, Tiffany anotou 39 pontos e bateu o recorde de pontuação em uma única partida. O recorde pertencia à atacante Tandara (37) desde 2013.

Muitas rivais de quadra da oposta garantem: Tiffany leva vantagem, sim, mesmo que hoje tenha menos testosterona em seu corpo. Isso porque ela viveu por 30 longos anos como um homem atleta, então carrega parte da herança de anos de crescimento com níveis masculinos de testosterona.

"Eu particularmente penso que fisiologicamente interfere. A questão de força, fibras musculares, mesmo porque ela participou de campeonatos masculinos. Experiência, altura da rede... tudo isso influencia. Lógico que tem que haver um respeito, isso é fundamental, ela está no direito dela de correr atrás das coisas dela. A opinião das jogadoras pode até interferir, mas o que vai valer, o que todos nós precisamos saber, é uma resposta a nível de médicos, especialistas. A Tiffany é corajosa, está abrindo portas para outras, então tem que ser bem estudado, não pode abafar o caso", explicou a líbero Dani Leal. 

Em meio à tanta repercussão, o COI prometeu que irá fazer uma reunião depois da Olimpíada de Inverno para debater melhor o delicado assunto. Tiffany, no entanto, não teme o futuro. “Estou muito tranquila. Se mudar a lei, vou para outro trabalho sem problema nenhum, como qualquer mulher. Mas, no momento, a lei está comigo”, disparou.

Tiffany. (Infografia: Obadias Santos)

Federação Capixaba defende Tiffany

A ponteira Tiffany Abreu preenche todos os requisitos estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em relação a participação de mulheres trans em competições femininas. Com base nisso, Fernando Pasolini, presidente da Federação Espiritossantense de Vôlei, defende que a jogadora se mantenha na Superliga Feminina.

 “A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) segue normas internacionais e se a Tiffany passa pelos critérios, ela tem que jogar. Não vejo nada demais isso, desde que ela cumpra com todos os requisitos. Ela está dentro da legalidade”, opinou Pasolini.

Entre os críticos, há quem sugira que a CBV deveria criar uma liga específica para atletas trans. Pasolini, no entanto, rechaça essa possibilidade e a vê como inviável em meio ao cenário da modalidade no Brasil.

 “É complicado criar mais uma liga. Já temos o feminino, masculino, várias categorias de idade, além do vôlei de praia, vôlei adaptado. Não tem espaço nem tempo para uma nova liga. Já existe a dificuldade para cumprir essas categorias mirim, infantil, infanto-juvenil, e etc.”

 Análise do médico esportivo Eduardo Oliveira

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"Do ponto de vista social, não tem problema uma trans competir com mulheres. Do ponto de vista fisiológico, não deveria. Ela mudou de sexo com 30 anos, então o corpo foi desenvolvido por 30 anos de forma masculina: estrutura óssea, muscular, força, articulações, sem contar que já era um atleta de alta performance. Mesmo com tratamento hormonal e perda de testosterona, ela não perde o que desenvolveu ao longo da vida. Por questão genética, homens têm fibras musculares mais voltadas para força e a mulher para resistência. Além deles terem mais glóbulos vermelhos no sangue, por isso respiram melhor."

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