"Grande descaso", diz leitora sobre baixa remuneração de professores

Série de reportagens de A Gazeta dedicada ao Dia do Professor mostra que 35 dos 78 municípios do Estado pagam abaixo do piso

Publicado em 14/10/2019 às 13h35
Anézio Roque de Souza, 60 anos, dá aulas há 25 anos. Todos os dias, ele dirige 40 km, de um município para o outro, para conseguir aumentar a renda e sustentar a famíia. Crédito: Carlos Alberto Silva
Anézio Roque de Souza, 60 anos, dá aulas há 25 anos. Todos os dias, ele dirige 40 km, de um município para o outro, para conseguir aumentar a renda e sustentar a famíia. Crédito: Carlos Alberto Silva

Eles dedicam a vida à Educação, mas ainda estão longe de receber remuneração adequada. Uma série de reportagens de A Gazeta dedicada ao Dia do Professor, publicadas desde o último sábado (12), mostra que de Norte a Sul do Estado a desvalorização dos professores é uma realidade. Levantamento exclusivo mostra que 35 dos 78 municípios pagam abaixo do piso.

Foram três meses de trabalho para traçar o cenário da remuneração nas redes municipais de ensino, com pesquisas em todas as prefeituras e viagens a várias cidades para conhecer de perto o dia a dia de quem se dedica às salas de aula. 

Por trás dos números, encontramos profissionais com anos de carreira e também aqueles que acabaram de começar. Um deles foi Anézio Roque, professor em Águia Branca. Pedagogo, com duas pós-graduações, ele recebe R$ 2.200 mesmo após 25 anos de carreira.

As reportagens geraram intenso debate entre os leitores, entre eles muitos também professores, que reconhecem a dura rotina e a falta de valorização da profissão. Confira alguns comentários:

Parabéns, A Gazeta, por provocar o tema, é muito importante. Cada vez mais profissionais se distanciam da área da educação por não oferecer atrativo financeiro. (Fredson Rodrigues Ribeiro)

Os baixos salários recebidos pelos professores no Brasil, principalmente na rede pública de ensino, retratam bem o nível de instrução, educação e civismo de uma considerável parcela de nossos políticos, entre os mais bem pagos do mundo, afora toda a gama de mordomias e penduricalhos que se autoconcedem. Por isso não é de se estranhar a atual situação precaríssima, em todos os setores da atividade humana, em que se encontra o Brasil. (Roberto Pimentel)

Vocês deveriam falar da enorme discrepância entre salários de professores das redes federais, estaduais e municipais... Mesmo tendo as mesmas qualificações. (Wanessa Pimentel)

Exatamente. Tenho doutorado e ganho uma mixaria para lecionar para o ensino fundamental (superdesgastante e trabalhoso), comparado ao que um professor de IF ou UF ganha (e garanto que nenhum fica 18h em sala de aula, embora cumpra com outras atividades). A real é que deveríamos ganhar mais. Ficaria feliz e realizada continuando a trabalhar no Estado se ganhasse pelo menos 25% a mais do que recebo. Infelizmente, minha meta é largar o trabalho, porque com a atual remuneração não compensa, é desgastante para a saúde física e mental. (Camilla Ferreira Paulino da Silva)

Isso é um grande descaso com quem contribui muito com a formação do cidadão. Lamentável a desvalorização dos professores pelos governantes. (Lu Lübe)

E ainda tem que ouvir que servidor público ganha muito e trabalha pouco. Trabalha muito pois não existe demanda pequena em postos de saúde, escolas e demais serviços. A demanda é grande, cada vez maior, com a crise latente e o desemprego gerando trabalho informal e muitas pessoas migrando para o serviço público. E o governo diz que o problema é o serviço público! Quem valoriza o professor valoriza uma sociedade mais equilibrada, eficiente e mais feliz ! (Cathiana Dalto)

A educação básica é fase mais importante da educação, é fase da construção do saber, a construção do caráter, a fase que faz um educando amar ou odiar a educação, deveria ser tão valorizada quanto o educador de ensino superior de uma instituição federal. Não existe professor que dá aula por dinheiro, porque não se recebe para isso. Quem dá aula o faz por amor à profissão, que é tão linda. Se todos pensassem em dinheiro não existiria professor de educação básica. Amo trabalhar na educação infantil e quero ser valorizada na minha área, faço mestrado para trabalhar na minha área, o que aumenta apenas R$ 300 o salário para tanto estudo. (Simone Camilo)

R$ 2.200 reais, e ainda desconta o transporte. Muitas vezes precisamos usar carro de uma escola para outra, haja combustível. Pagamos pelo nosso cafezinho, fora os cursos caríssimos que fazemos para nos mantermos atualizados, materiais de trabalho e tantas outras despesas. Se eu quiser proporcionar uma aula diferente para os meus alunos, tenho que tirar dinheiro do meu bolso. Então, não se deslumbrem com R$ 2.200, como se isso fosse uma fortuna, pois não é. Pior do que sermos desvalorizados pelo governo, é saber que ele tem apoiadores. Ninguém respeita, tão pouco valoriza nossa classe, e ainda acham que estamos nisso pelo dinheiro. Pelo dinheiro já teríamos abandonado o barco há muito tempo. (Aline S. Viçosi)

É um absurdo esse valor. É complicado ficarmos atualizados e sempre fazermos coisas diferente em sala de aula, pois para tudo temos que tirar do nossos bolsos. Nossos governos são uma vergonha, não nos valorizam. Até quando, meu Deus? (Nayara Fehlberg)

A minha mãe é professora aposentada e ganha, no total, R$ 1.598. E trabalhou 30 anos. (Leandro Bragato)

Estou aposentada há 25 anos e ganho um pouquinho mais que isso, mesmo com todas as vantagens a que tive direito na época. De escola estadual. (Everi Porcino Andrade)

São R$ 2.200 reais de salário, mas esqueceram de falar que não tem FGTS, plano de saúde, plano odontológico, vale transporte e outros benefícios. Se o professor se especializa, não ganha nunca como um pesquisador universitário, continua ganhando a mesma coisa no ensino infantil. (Simone Nascimento)

Se a própria sociedade não reconhece o professor como a mais importante das profissões, imagine, então, os governantes! É retrato de uma nação pobre de conceitos e valores. (Magda Vieira)

Além dos baixos salários, o desrespeito com a nossa categoria está sendo uma constante. Hoje o profissional trabalha tenso. O fator violência é um agravante. Não me refiro a uma comunidade com índice de violência, o que me assusta são algumas famílias que agridem esse profissional, que muitas vezes não sabem o porquê da agressão. Nada a comemorar no Dia dos Professores. Os governos têm que investir muito nas escolas, nos profissionais e, principalmente, nos alunos. Infelizmente a educação virou politicagem. Mas acredito numa reversão desse quadro. (Angela Bermudes)

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