Publicado em 15 de dezembro de 2019 às 17:39
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Quando Edimar chegou ao Braga (POR), em 2009, foi levado a uma sala por Jorge Jesus, que mostrou uma tela ao jogador brasileiro. Para a surpresa do lateral com passagens por São Paulo e Cruzeiro, lhe foi apresentado um vídeo de uma atuação sua pelo Tupi-MG contra o Atlético-MG na semifinal do Campeonato Mineiro que ele havia disputado.>
O técnico, então, contou que tinha assistido ao jogo pelo PFC, canal pago do Grupo Globo, e decidido correr atrás de sua contratação em seguida. Não foi um caso único. Em sua casa na região da Costa da Caparica, próxima a Lisboa, o comandante do Flamengo tem um estúdio com diversas televisões espalhadas. Elas estão quase sempre sintonizadas no serviço de pay-per-view do Brasileiro.>
Esse interesse, no entanto, não era compartilhado da mesma forma por seus compatriotas. A última emissora portuguesa a comprar os direitos do Campeonato Brasileiro, a SIC Radical, preferiu não transmiti-lo em 2018 por falta de audiência. Existe um antes e depois, contudo, nessa história. Ele foi desencadeado pela loucura que assola os portugueses desde a ida de Jorge Jesus para o Flamengo.>
Com o sucesso do "Mister" no Brasil, seus passos têm sido contados diariamente em uma cobertura ampla no noticiário local. Não é difícil se deparar com o esquema tático rubro-negro sendo destrinchado em horário nobre nas emissoras do país. Há até comentaristas discutindo em debates na televisão com o uniforme do clube carioca.>
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Ficou mais fácil ver os jogos do Flamengo também. Três emissoras diferentes passaram jogos da equipe em Portugal. A CMTV transmitiu a estreia de Jesus em amistoso com o Madureira, o Sport TV (canal português homônimo da emissora brasileira) exibiu toda a campanha na Copa Libertadores e o Canal 11 mostrou os jogos do Brasileiro. Agora será a vez da RTP transmitir o Mundial de Clubes.>
"O que justifica isso é o impacto que ele tem aqui. Existe interesse do público em saber o que se passa com Jesus", afirma Irene Palma, repórter de A Bola TV, que já foi enviada mais de uma vez ao Rio de Janeiro para fazer reportagens sobre o técnico.>
"Nunca houve um interesse tão grande no futebol do Brasil como agora. Antes de Jesus, a maioria não sabia o nome de três jogadores do Flamengo. Havia preconceito com o futebol brasileiro porque as pessoas não gostavam muito do estilo, achavam desorganizado", comenta Duarte Tornesi, repórter do jornal O Jogo. "É por ele estar lá que as pessoas passaram a assistir. Acredito que Jesus tenha apresentado um admirável mundo novo aos portugueses", completa.>
Essa obsessão pelo técnico foi um dos fatores que motivou o Canal 11, que pertence à Federação Portuguesa de Futebol, a fechar acordos pontuais com o Flamengo e seus adversários para mostrar as partidas do Brasileiro. No total, foram 15 jogos transmitidos entre setembro e dezembro. Somente Palmeiras e Santos se negaram a vender seus direitos, o que impossibilitou a exibição dos jogos.>
A aposta da emissora se mostrou acertada. Na TV paga, os confrontos do time carioca estiveram invariavelmente entre as maiores audiências do país, com destaque para a vitória de 1 a 0 sobre o Grêmio, em 17 de novembro. Segundo dados do site Meios & Publicidade, ficou na vice-liderança daquela semana, com 219 mil telespectadores.>
"Foi muito bom. Nunca tinham ligado muito para a Libertadores. Pouca gente parou para ver Boca Juniors e River Plate no ano passado. Qual foi a final antes disso? Ninguém se lembra", afirma o jornalista Pedro Sousa, apresentador do Canal 11.>
"Mas creio que o Brasil tem que se abrir mais para o mundo. Não sei se as pessoas têm muito essa noção, os seus próprios dirigentes, de que não estão sendo vistos em outros lugares", completa.>
Um atestado da força do técnico em Portugal é que, mesmo do outro lado do oceano, a sua sombra segue incomodando alguns treinadores do país.>
No fim de outubro, ao escutar pergunta sobre uma suposta pressão para vê-lo substituído por Jorge Jesus, o técnico do Porto, Sérgio Conceição, sorriu, se levantou e abandonou coletiva.>
Bruno Lage, treinador do Benfica, passou por situação semelhante antes de partida da Champions League e não escondeu a sua indignação.>
A onipresença do técnico tricampeão português na imprensa local não surpreende.>
Se por um lado ele se mostra a par do que existe de mais moderno em termos de treinamento de suas equipes, por outro, mantém também uma faceta mais antiga em seu relacionamento com a imprensa. Não teve assessor durante boa parte de sua carreira e intermediava ele próprio convites para entrevistas.>
"Não tenha dúvida de que essa autêntica loucura que se viu na cobertura do Flamengo foi potencializada por ele na relação estreita que possui com jornalistas do país", afirma Tornesi.>
Uma cena comum no Rio é vê-lo jantando em restaurantes com profissionais enviados para cobrir a sua rotina.>
"Existe uma relação de respeito. O português tem muito isso. Quando está fora do país, acolhe em sua casa como se fosse a deles. É um pouco naquela de receber bem quem veio ter comigo", descreve Irene, que diz ter acompanhado o primeiro treino de Jesus, há 20 anos, ainda no modesto Estrela da Amadora.>
Foi um longo percurso para o técnico, que agora curte a fama enquanto embala o sonho de reconduzir o Flamengo ao título mundial no Qatar.>
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