A viagem de ônibus foi cancelada. Mas, surgiu uma carona. No entanto, a reserva de hospedagem na cidade de destino não se concretizou e o jeito foi dormir na praça da cidade de Mariana-MG. Esses detalhes contam um pouco da história de Alex Fagundes, artista e atleta capixaba que participou do Iron Biker, a maior prova de Mountain Bike da América Latina. Ele ainda faturou um prêmio e se tornou embaixador da competição.
Fagundes é morador do bairro de Maruípe, em Vitória, e estava com toda sua viagem programada para a competição. Mas na hora de iniciar o roteiro, no dia 11 de novembro, na Praça do Papa, na capital capixaba, as coisas começaram a desandar. O ônibus que ele pegaria para ir até à cidade da prova, atrasou e depois foi cancelado sem aviso prévio da empresa.
Fagundes tentou conseguir outro meio para chegar em seu destino, até arranjou uma carona, mas o motorista não quis levar a bicicleta. Então, o esportista voltou para casa e começou uma verdadeira saga para conseguir achar um caminho que o fizesse chegar a tempo do início da competição.
O capixaba procurou todas as formas possíveis de transporte: avião, ônibus, van e até táxi. Mas nada dava certo. No outro dia pela manhã, ele contou a história para um amigo que logo depois ofereceu uma carona até Mariana.
Já bem tarde da noite de sexta-feira (12), Fagundes chegou na cidade mineira e foi direto para a loja do evento ciclístico. Por lá, jantou e conversou com um homem sobre as escolhas que tinha feito para a prova do dia seguinte e as dificuldades que teve para chegar até ali. Quando estava se despedindo, Fagundes descobriu que "aquele cara" era o diretor da competição.
Bom, até aqui parece que a história do capixaba estava caminhando para dar certo… mas ainda não. O local onde ele iria dormir não estava atendendo as ligações telefônicas e de todos os hotéis e pousadas da cidade, só havia uma vaga que tinha um valor muito alto.
Então, o atleta voltou para o local da loja, conversou com os seguranças e pediu ajuda para dormir ali mesmo, debaixo de uma tenda e no chão. O esportista conta que naquela noite fazia muito frio, por volta dos 15º C, e que utilizou um papelão para se cobrir e outro para forrar o chão de “pedrinhas”. Assim, Fagundes virou mais uma noite sem dormir.
No outro dia, quando seria a competição, ele enfrentou um percurso de 96,2 km. “Foi uma prova dura, muito técnica e de muita tensão. Sofri demais e cheguei muito cansado”, afirma.
No segundo dia da competição, Fagundes estava mais preparado e descansado, após conseguir repousar na casa de uma senhora. Quando tudo parecia se encaminhar para dar certo, o destino pregou mais uma peça. Faltavam cerca de 150 m para a chegada, quando a corrente da bicicleta em que ele utilizava arrebentou. Mas ele não desistiu e finalizou a prova a pé.
Quando a competição acabou, um segurança pediu que Fagundes permanecesse ali. Um tempo depois, Lucas Fonda, organizador do evento, aquele mesmo cara que o atleta conversou quando chegou em Mariana, começou a discursar sobre persistência e entregou o Troféu Abelha para o capixaba.
O prêmio homenageia um dos pioneiros da modalidade no Brasil, André Abelha. De acordo com Fonda, o troféu sempre é concedido a alguém que tem um espírito de garra e determinação dentro do esporte.
Além do troféu, o atleta capixaba também se tornou embaixador da tradicional competição de Mountain Bike, já que, segundo Fonda, Fagundes tem a essência do evento com amor pelo esporte e sorriso no rosto mesmo nas adversidades da vida. Os embaixadores também são convidados a participar gratuitamente dos eventos Iron Biker.
Alex Fagundes é portador de Parkinson, uma doença neurológica degenerativa que afeta os movimentos da pessoa. Ele percebeu os primeiros sintomas há oito anos, mas o relatório médico confirmando a síndrome veio há cinco anos. O grafiteiro conta que precisa fazer três vezes mais força que um atleta normal para conseguir pedalar e que praticar o esporte exige “três lutas ao mesmo tempo”. Mas nem a doença foi empecilho para parar o capixaba, pelo contrário. Fagundes afirma que é por meio do esporte que encontra forças para lidar com a doença e viver melhor.
“O ciclismo trabalha os labirintos do cérebro. O responsável pela geração de equilíbrio, então quanto mais você estimula, mais você fica resistente. E tem o lado mental, também. Você esquece do mundo, você esquece dos problemas”, diz.
Fagundes já havia participado de outras duas edições do Iron Biker Brasil. Na sua segunda competição, ele conta que desistiu da prova no meio do percurso e parou no ponto de apoio. Mas ali, mais uma vez, o destino parecia ter intervido. Uma pessoa o encontrou e pediu ajuda: auxílio para salvar a vida do irmão dela. O motivo? O esportista continuava vivendo e se desafiando mesmo com o parkinson, e o irmão do homem que o parou ali, queria desistir de tudo após descobrir a doença.
“Os movimentos involuntários atrapalham demais. E as pessoas se preocupam comigo: ‘nossa tá tudo bem com você?’. ‘Não, tá tudo bem, tá tudo bem comigo”.
O capixaba, então, gravou um vídeo motivando o jovem, recém diagnosticado com a síndrome, a seguir em frente. Hoje, o incentivado possui até um canal de vídeos na internet para falar sobre assuntos relacionados à superação.
De fato, a vida de Fagundes parece até a história de um filme cheio de reviravoltas, aquelas que fazem rir e logo depois chorar, em questões de segundos. Ele, que começou a praticar o ciclismo em 2013 sem muitos objetivos, apenas para ir até à academia, hoje diz que quer participar de muitas outras competições, regionais e estaduais. Mas claro, tudo dentro do seu limite.
Fagundes, além de ciclista, é também grafiteiro e possui muitos painéis espalhados em vários pontos de Vitória, como o mural em homenagem à menina Araceli, no final da praia de Camburi. Mas no momento, Alex Fagundes diz que está parado em relação ao grafite e tem se dedicado ao esporte, à vida e à fé em Deus.
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