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Missão Portugal: 'Não basta só trazer a tecnologia. Tem que vir o conhecimento'

Missão Portugal: "Não basta só trazer a tecnologia. Tem que vir o conhecimento"

Secretária Cristina Engel destaca como as parcerias firmadas com centros de excelência portugueses vão ajudar o Espírito Santo

Publicado em 27 de novembro de 2019 às 19:22

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Cristina Engel é secretária de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional. (Secti/Divulgação)

O caminho do Espírito Santo rumo à inovação vai contar com a ajuda de Portugal, onde uma missão do governo do Estado, realizada entre os dias 2 e 9 de novembro, cumpriu uma série de compromissos ligados à tecnologia e ao conhecimento que resultaram na assinatura de três acordos de cooperação.

Liderada pelo governador Renato Casagrande, a comitiva percorreu universidades e centros de excelência em inovação, incluindo uma visita à conferência global de tecnologia Web Summit 2019. 

A comitiva do governo do Estado durante visita ao Inesc Tec. (Secti/Divulgação)

O primeiro acordo foi assinado com a Universidade do Minho e a Associação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento (TecMinho). Já o segundo foi firmado com a Prefeitura de Braga. E o terceiro com o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) e o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Pesquisa e Desenvolvimento do Brasil (Inesc P&D Brasil).

A secretária de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional, Cristina Engel, participou da missão e voltou animada com as parcerias fechadas que permitirão troca de experiências que irão facilitar o desenvolvimento científico, a inovação tecnológica e o empreendedorismo.

Nesta entrevista, ela adianta que, no início de 2020, uma missão portuguesa deverá vir ao Espírito Santo para conhecer as demandas locais e trocar experiências.

Por que Portugal foi escolhido para essa missão do governo do Estado?

Cristina Engel - Há uma diretriz do governo de que a inovação é uma das formas de alavancar a economia. O Espírito Santo tem uma grande vocação para a inovação por uma série de coisas. Nós temos um tamanho administrável, e isso é muito bom. Temos uma posição geográfica muito boa. Em termos de logística, temos portos, aeroporto, estradas, ferrovia... Temos uma série de coisas que facilitam a logística. Temos também um clima ótimo, uma qualidade de vida muito boa na maior parte dos lugares. A gente tem um potencial de que a inovação aqui aconteça verdadeiramente.

A primeira missão da qual participei foi para Israel. Fui para lá e, se houvesse interesse, a gente faria uma missão com governador em Israel, que é um dos lugares de maior relevância em termos de inovação. Foi muito importante ter ido nesta missão, mas a realidade de Israel é muito diferente do que a gente pode esperar para o Espírito Santo.

O objetivo da missão era de aprender com os israelenses para podermos aplicar no Estado. Em todos os aspectos. O planejamento de Israel é de longuíssimo prazo. Percebi que não era o modelo que nós queríamos para o Espírito Santo. Não nos serviria.

Já Portugal deu a volta por cima na crise. Eles saíram de um país em crise para serem um dos melhores países da Comunidade Europeia.

Olha o tamanho de Portugal e olha como ele está geograficamente na Comunidade Europeia, num cantinho envolvido pela Espanha. E mesmo assim conseguiu ressurgir das cinzas e se reinventar através da inovação. Esse foi um dos aspectos que nos fez escolher Portugal para a missão com o governador.

Outro aspecto foi a proximidade cultural entre o Espírito Santo e Portugal. Somos filhos de Portugal, temos uma forma de pensar muito parecida. E isso foi muito importante. O Estado também já tinha relações com algumas universidades portuguesas. E tudo isso foi motivação para termos escolhido Portugal.

Ao mesmo tempo, lá teve uma conferência global chamada Web Summit, que é uma feira mundialmente conhecida e que é uma demonstração enorme de inovação. Tudo isso nos motivou a ir, e foi uma missão espetacular.

Três dos acordos que foram fechados em Portugal visam promover desenvolvimento científico, inovação tecnológica e empreendedorismo. Qual aplicação prática que isso teria?

A primeira coisa é que nós já estamos organizando a vinda de dois desses parceiros, que foram as cooperações firmadas com o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) e a Universidade do Minho. Já estamos planejando uma missão deles aqui no Estado. Qual a ideia do que nós pretendemos fazer aqui? Fazer com que eles conheçam o que nós temos de potencial e vejam o que temos de demandas.

Qual é o nosso papel independente de Portugal? Uma das missões que a secretaria tem é de fazer a conexão entre o conhecimento da academia, dos institutos de pesquisa e de educação, com as empresas, indústrias, prestadoras de serviço e governo. Se produz muito conhecimento na universidade que só vai para os congressos, que não é aproveitado. Ou então, a empresa tem uma demanda e vai em São Paulo ou em Santa Catarina, buscar essa mão de obra porque não sabe que tem aqui no Espírito Santo.

Portugal faz isso muito bem. Um dos objetivos da vinda dessas pessoas para o Estado é apresentar para eles esse cenário, o que temos de melhor e o que temos de deficiência.

Uma coisa é fácil de incrementar, que é mobilidade estudantil, porque ela já acontece, principalmente, no âmbito do mestrado e doutorado. Só que são muitos os capixabas que vão para Portugal e poucos os portugueses que vêm para o Espírito Santo. Queremos mostrar que também podemos recebê-los e que também temos centros de excelência que são pouco conhecidos.

Essa conexão universidade x universidade é fácil de acontecer. Além disso, a Universidade do Minho, por exemplo, possui a TecMinho, que é uma instituição que já promove essa ligação entre a universidade e as empresas, muitas vezes, influenciando o direcionamento dos cursos da universidade. Então, se eu tenho uma demanda das empresas capixabas por um tipo de serviço ou produto, por que não incentivar a universidade para que atenda essa demanda?

Podemos usar Portugal para ajudar nessa questão tanto para incrementar naquilo que já temos de relação, quanto para aplicarmos os modelos que eles fazem aqui no Estado. E eles estão interessados no Brasil! Todo mundo está de olho no Brasil! Em termos de economia nós somos grandes.

E queremos que esse olhar, que está voltado para o Brasil, seja pelo Espírito Santo. Que a entrada dessas pessoas que têm interesse em fazer negócios aqui que seja pelo Espírito Santo. Ora, quer coisa melhor que o português para falar português? Fica muito mais fácil. Então espera-se que tenha um incremento nas relações econômicas também.

O governador Renato Casagrande mostra um dos acordos fechados em Portugal. (Secti)

Isso inclui enviar estudantes daqui para Portugal para aprender com eles?

Sim. E isso já existe. Nem sempre com recurso estadual, mas às vezes também. Quando tem um evento científico, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) lança editais de incentivo.

Agora o que a gente pode fazer é direcionar para que tenha cada vez mais. Muitas vezes, é necessário apenas que as pessoas se conheçam. Às vezes, as pessoas não sabem o que Portugal pode oferecer, como eles não sabem o que tem de excelência aqui no Espírito Santo. E aí a busca de recursos pode ser de diferentes maneiras.

Quando os portugueses devem vir ao Espírito Santo?

A missão da Universidade do Minho provavelmente será em março e estamos negociando para que a da INESC-TEC também seja nesse mês. Para nós, também é melhor porque é quando as universidades estarão funcionando.

Eles poderão questionar a qualidade do sinal de internet aqui, que precisa melhorar…

O que nós conseguimos aqui no Estado é que as principais instituições de ensino e pesquisa tenham internet veloz e confiável, mas os investimentos foram feitos, principalmente, na região metropolitana. Mas também está no nosso radar essa questão da internet, porque se eu quiser que o Estado seja inovativo, temos que oferecer esse serviço em todo o território.

Agora, aumentar a rede de fibra óptica e de telefonia é uma linha que queremos colocar dentro do planejamento estratégico do governo. Lembrando que quando se fala em inovação, temos uma preocupação de que ela não fique restrita apenas à Região Metropolitana.

Quais as soluções tecnológicas para problemas cotidianos que a senhora viu em Portugal que podem ser trazidas para cá?

Quando você olha com um olhar superficial, a primeira ideia que se tem é a de que vou comprar essa tecnologia e trazer para o Estado.

Não basta só trazer a tecnologia. Tem que vir o conhecimento. E a dependência tecnológica é uma realidade. Se a gente não traz esse conhecimento junto com os produtos, a tendência é que isso se torne um calo na vida do cidadão e do próprio governo.

As soluções são milhares, há coisas encantadoras e deslumbrantes. Eu gosto mais de pensar na ideia de essas soluções, na medida do possível, serem desenvolvidas aqui.

De que forma essa troca de experiências poderia ajudar quem é empreendedor?

Vimos algumas coisas que são muito interessantes. Temos muitas ideias maravilhosas aqui no Estado. E lá em Portugal também. O que tentamos aprender com eles lá? Como eles pegam essas ideias e transformam em algo efetivo. Como eles fazem esses processos, como eles transformam e selecionam ideias e vão tornando isso realidade? E como dar agilidade aos novos negócios.

Essa forma de trabalhar de Portugal, que já é mais experiente do que nós, que estamos tentando trazer. Como a gente pode direcionar essa ideia, como a gente pode fazer isso?

Uma coisa fundamental, por exemplo, são os ambientes integrados de inovação. Não deixar o empreendedor ficar num cantinho isolado – a famosa empresa de garagem –, em que ele não troca nada com ninguém. Queremos que essas pessoas fiquem em ambientes adequados, que possam intercambiar ideias, que aprendam uns com os outros. Ter mais essa união de pessoas, para que o empreendedor não fique reinventando o que já foi inventado. E que possam produzir mais através da união de esforços.

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