Prestes a assumir oficialmente o posto de vice-governadora do Espírito Santo, Jacqueline Moraes (PSB) compara sua posição à de um soldado pronto para ser chamado para a batalha e, por reiteradas vezes, garante que estará ao lado do correligionário Renato Casagrande sempre que por ele for requisitada.
Apesar disso, ela afasta de si o peso do título de braço direito do futuro governador. Temos muitos braços direitos nesse governo. A gente vai fazer de tudo para ser o melhor governo da história do Estado, pontua, apostando no trabalho em equipe.
Moradora do bairro Operário, em Vitória, Jacqueline chegou à política por meio de bases populares. Aos 43 anos, já foi líder comunitária por dois mandatos, presidiu a Associação dos Camelôs do Estado e ocupou a cadeira de vereadora e de vice-presidente da Câmara de Cariacica entre 2013 e 2016.
De vendedora ambulante na juventude tornou-se microempresária. Após os 25 anos, concluiu o ensino fundamental e médio no programa Escola para Jovens e Adultos (EJA). Hoje cursa o sétimo período de Direito. A trajetória de vida, segundo ela, é o que a guia na carreira pública, em que o desenvolvimento social e o diálogo com as comunidades tornaram-se suas bandeiras.
Em entrevista para A GAZETA, Jacqueline mostra um discurso alinhado ao de Casagrande, incluindo a defesa de uma política de austeridade em nome da saúde dos cofres do Estado. Embora não aponte soluções definitivas para os problemas, traça o que considera serem os maiores desafios do Estado. Confira.
Por que acha que seu nome foi o mais indicado para a Vice-Governadoria?
O Renato pegou toda essa bagagem social, a minha história, e trouxe para o centro do poder para que haja interlocução com movimentos sociais, uma construção de políticas com muito diálogo, pela minha expertise na vida, pela minha experiência e por eu gostar muito do trabalho social. Acredito que a transformação do país passa pela educação, pelo esporte e pela construção social que a gente faz. Temos muitas áreas sociais que precisam ser olhadas com mais atenção.
De que forma vai atuar na administração e qual considera o principal desafio do Estado?
Vou atuar diretamente ao lado do governador, ajudando em tudo o que for preciso, fazendo interlocução com todos os segmentos. Estamos fazendo isso na transição, temos conversado juntos sobre os nomes da equipe e isso está sendo legal porque coloca uma afinidade com essa equipe que está sendo escolhida pelo perfil técnico e pela sensibilidade política. Isso tem sido amostra da atuação que terei no governo, ao lado dele, atendendo ao que for necessário para que a gente faça um bom governo.
Você se considera então o braço-direito do governador?
(Risos) Não sei se seria prepotência falar braço direito, acho que ele tem pessoas que já caminham há muitos anos com ele. Mas ele me escolheu pela minha capacidade de iniciativa e de diálogo. Temos muitos braços direitos nesse governo. A gente vai fazer de tudo para ser o melhor governo da história do Estado.
Casagrande tem dito que será cauteloso quanto aos investimentos e também cortará gastos com pessoal. Como a senhora avalia essa medida?
Precisamos fazer a análise do cenário nacional, de como a economia se comportará. O Estado teve nota A na gestão de Casagrande, agora novamente. É um mérito de governos bem geridos e administrados, que passaram por Renato Casagrande e agora, mais uma vez, ele vai mostrar que é preciso ter equilíbrio fiscal. Faremos um governo eficiente, fazendo muito com pouco.
Hoje, os maiores desafios apontados pela população e por nós que estamos na base eu moro em periferia são a segurança pública, a saúde, a educação, a infraestrutura e o sistema prisional. Talvez as pessoas não tenham conhecimento de que o sistema prisional está colapsado. São oito mil presos a mais. Teremos que tratar disso pessoalmente. A violência está assustadora e precisamos reduzir os crimes contra mulheres.
A segurança pública é um problema grave. Qual é o foco que a senhora acredita que deve ter a equipe de segurança do Estado?
Nós anunciamos os nossos secretários de Segurança e de Justiça e estamos nos reunindo semanalmente na comissão de transição para mapear índices existentes e entregar agora, na transição, um diagnóstico mais exato. Ninguém faz plano de trabalho de excelência sem diagnóstico. Eu não poderia esmiuçar exatamente o que vamos fazer porque um projeto é feito a muitas mãos. Quando você fala de segurança... eu só acredito na redução da violência através da educação e da inclusão social. O Estado precisa entrar nisso e o (programa) Estado Presente trata disso. É uma política de efetividade na segurança, e o governador vai cuidar disso pessoalmente, mas eu estarei capitaneando a inclusão social, que faz parte do que eu gosto de fazer. Vamos envolver igrejas, associações, sociedade civil.
Além de vice, gostaria de acumular uma secretaria? Se sim, há alguma preferência?
Eu falei com Renato esses dias: estou como um soldado pronto para ser chamado para a batalha. Inicialmente, a ideia é que eu esteja do lado dele para o que for preciso. Se for necessário, quem vai dizer é ele. Mas não existe nenhuma preferência. O bom soldado tem que estar preparado para assumir qualquer desafio proposto pelo comandante.
A senhora foi vereadora, vice-presidente da Câmara de Cariacica. Nunca teve atuação no Executivo. Qual acredita que será a maior dificuldade?
Não vai haver dificuldades, pois já estamos em transição e eu já estou em sintonia com a equipe desde agora. Eu tenho uma capacidade de diálogo muito grande. O fato de não ter participado diretamente de uma pasta não me desmerece. Eu sou empreendedora e a gente enfrenta muitas vezes as mesmas dificuldades que um governo enfrenta, que é saber cortar na carne, fazer muito com pouco. A vida me ensinou muito e levarei essas experiências para o governo com maestria e muita humildade, sem querer ser prepotente. A gente precisa entender que, como mulher, eu tenho um legado a deixar: de mulher, de política, de gestora. Mas como vice-presidente da Câmara eu era interlocutora entre o presidente e as demandas internas da Casa. Então participava indiretamente das atribuições da Mesa. Automaticamente eu adquiri esse papel de gestora. Eu vejo muita força de vontade que eu tenho de trabalhar. Isso vai fazer toda a diferença, porque ninguém faz nada sozinho.
Se houver uma greve do funcionalismo enquanto a senhora estiver no comando do governo, como pretende agir?
O diálogo para mim é preponderante. Nenhuma relação de poder pode se sobrepor ao diálogo. Se um grupo faz greve é porque ele quer ser ouvido. E nem sempre a demanda pode ser resolvida naquele momento. Mas se você trata qualquer tipo de movimento de greve sem dialogar e mostrar... Nosso governo será transparente, essa será nossa marca. Agirei com transparência, diálogo. Farei a interlocução com qualquer movimento que seja.
A senhora já atuou nas comissões de Saúde e Educação da Câmara de Cariacica. Em relação a essas áreas, o que considera prioridade?
O que eu mais tenho ouvido é sobre a falta de leitos e a necessidade de descentralização das especialidades. Vou fazer um relato breve: uma pessoa de Colatina tem câncer, ela consegue fazer quimioterapia lá, mas a radioterapia é aqui. É um deslocamento muito difícil. São coisas que ouvimos no decorrer da nossa campanha eleitoral e temos que traçar metas para atender a essa demanda.
Na Educação, temos que cumprir as metas do PNE (Plano Nacional de Educação) da escola de tempo integral, sempre dialogando com a comunidade que vai recebê-la. Temos também que estudar as possibilidades para que os jovens voltem para a escola. Há uma grande quantidade de jovens fora da escola e entendemos que, em parte, isso se deu pelo fechamento de escolas. Precisaremos conversar em equipe.
SAIBA MAIS
Perfil
Moradora do bairro Operário, em Vitória, a futura vice-governadora do Estado tem 43 anos e é mãe de três filhos, incluindo uma criança de dois anos e quatro meses. Ela também é avó de um menino. É casada com o ex-presidente da Câmara de Cariacica Adilson Avelina (Podemos).
Vinda para o Estado
Jacqueline nasceu em Duque de Caxias (RJ), onde os pais trabalhavam como vendedores ambulantes. Em 1986, quando ela tinha 12 anos, a família se mudou para o Espírito Santo. Em função da morte do pai, ela começou a trabalhar como ambulante em uma barraca na Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória, para ajudar no sustento da mãe e dos dois irmãos.
Carreira política
O primeiro contato de Jacqueline Moraes com a política foi por meio do trabalho de líder comunitária, já que foi eleita duas vezes presidente da Associação de Moradores do bairro onde vive. Ela também é ex-presidente da Associação dos Camelôs do Espírito Santo.
Vereadora
Em 2012, Jacqueline foi eleita vereadora do município de Cariacica pelo PSD. Foi vice-presidente da Casa por dois biênios e atuou nas comissões de Saúde e de Educação. Em 2016, não concorreu à reeleição. Atualmente, é a secretária estadual de mulheres do PSB e coordenadora da campanha #nãosejalaranja, de estímulo à participação de mulheres na política.
Formação
Jacqueline é microempreendedora e está no sétimo período do curso de Direito. Ela concluiu o ensino fundamental e médio, após os 25 anos, no programa Escola Para Jovens e Adultos (EJA).
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