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Temer afasta capixaba da vice-presidência da Caixa

Temer afasta capixaba da vice-presidência da Caixa

Antônio Carlos Ferreira é alvo de investigações por suspeita de corrupção. Outros três vice-presidentes do banco também foram afetados por decisão de Temer

Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 23:00

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Antônio Carlos Ferreira é afastado por determinação do presidente Michel Temer. (Edson Chagas | GZ | Arquivo)

O presidente Michel Temer (PMDB) decidiu afastar por 15 dias quatro vice-presidentes da Caixa. Entre eles está o capixaba Antônio Carlos Ferreira, vice-presidente Corporativo do banco. A medida foi tomada após recomendação do Banco Central (BC) e do Ministério Público Federal (MPF). Investigações apontam suspeitas de corrupção e outras irregularidades envolvendo executivos da instituição.

O afastamento foi informado pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República nesta terça-feira (16). De acordo com a nota, o prazo determinado é para que os executivos possam "apresentar ampla defesa das acusações". Ferreira atuou como superintendente da Caixa no Espírito Santo durante nove anos.

Também são afetados pela decisão Deusdina dos Reis Pereira (vice-presidente de Loterias), Roberto Derziê de Sant'Ana (vice-presidente de Governo) e José Henrique Marques da Cruz (Clientes, Negócios e Transformação Digital). O banco tem outros oito vice-presidentes que continuam no cargo.

O MPF pediu o afastamento de todos os vice-presidentes, enquanto o BC sugeriu a saída apenas dos investigados. Os dois órgãos não solicitaram, contudo, o prazo de 15 dias. O pedido do Banco Central foi encaminhado no dia 10 de janeiro à presidente do Conselho de Administração da Caixa, Ana Paula Vescovi, também chefe do Tesouro.

INVESTIGAÇÕES

Documentos apontaram várias interferências políticas envolvendo os vices da Caixa. Entre elas, do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para Antônio Carlos Ferreira.

O MPF cita o fato de o próprio Ferreira ter contado que Cunha colocou condições para mantê-lo no cargo. Entre elas, encontrar-se com o deputado. Ele disse que não entendeu que seria uma reunião para prestar contas. Outra condicional era fornecer listas de operações acima de R$ 50 milhões para ajudar a "rentabilizar seu mandato", de acordo com o Ministério Público.

Os procuradores relatam ainda pedidos de financiamento de campanha e uma possível influência do ex-ministro Pereira e também do deputado Celso Russomano (PRB-SP).

Ferreira teria dito aos investigadores que quatro consultores que trabalhavam com o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) poderiam ser fontes de vazamento de informações privilegiadas da Caixa. E que, depois do afastamento de um deles, Rodrigo Rocha Loures (ex-deputado flagrado ao correr com malas de dinheiro) teria procurado o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, para tratar de operações de interesse da Rodrimar, que opera no Porto de Santos.

O executivo capixaba já tinha sido citado na delação de Joesley Batista, dono da JBS, por ter pedido propina de R$ 6 milhões para ser repassada ao ex-ministro do Desenvolvimento, o capixaba Marcos Pereira (PRB).

Informações divulgadas pelo Jornal Nacional na noite desta terça-feira (16) dão conta de que o relato de Ferreira contido em auditoria independente contratada pela Caixa revela que Cunha foi agressivo ao cobrar o executivo capixaba, que afirmou ter negado todos os pedidos.

O capixaba então teria contado tudo para o presidente da Caixa na ocasião, Jorge Hereda, que o aconselhou a falar para Michel Temer, então vice-presidente da República.

De acordo com a auditoria, Ferreira visitou Temer, que o teria tranquilizado dizendo que ele deveria continuar trabalhando porque Eduardo Cunha era um deputado controverso e que estava recebendo ligações da Cunha naquele exato momento.

OUTRO LADO

Por meio de nota, o capixaba Antônio Carlos Ferreira disse que é inocente. Confira abaixo na íntegra:

"Mais uma vez reafirmo a minha história de servidor efetivo da Caixa, instituição onde possuo 35 anos de Serviços prestados, com ética e dedicação.

Portanto, sou um profissional de carreira, sempre disposto a contribuir com aqueles que desejam um Brasil livre dos velhos costumes.

A minha caminhada na vice-presidência Corporativa da Caixa desde que assumi, em julho de 2014, está marcada por muita luta e enfrentamentos políticos. Deixando no campo de batalha a minha marca de compromisso com a ética e honestidade.

A única ligação que adquiri com o PRB foi ideológica, pois foi esse partido que apoiou a intensa luta pela implantação de uma cultura profissional e de governança, pautada sempre na honestidade e discrição. Me incentivou e encorajou a enfrentar de peito aberto os percalços causados por aqueles que disseminaram a corrupção naquela instituição.

Que fique claro, portanto, que, ao contrário do que propagam os dignos procuradores da República na recomendação em foco, enfrentei com veemência as absurdas exigências do Deputado Eduardo Cunha assim que fui nomeado para o cargo que atualmente ocupo. Situação esta estampada com clareza no relatório independente entregue a CEF. Totalmente indene de dúvidas!

Afinal, após ter me negado a ceder às inescrupulosas e anti republicanas pressões do Deputado Eduardo Cunha, que comecei a ter que enfrentar essas práticas das quais não comungo, e que a todo momento tentavam me afastar das minhas funções. Ali começou a minha 'via crucis'.

Tenho a convicção de que esse transtorno pelo qual passo nesse momento, representa o ápice da minha luta, o momento da batalha decisiva, e só interessa aqueles que se alimentam com o desgaste da instituição Caixa e de seus quase 90.000 servidores honestos.

Esclareço ainda que, apesar de me colocar a inteira disposição do MPF, jamais fui convidado ou intimado para prestar depoimento.

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Aliás, o próprio relatório do escritório de Advocacia Pinheiro Netto, que prestou serviços independentes de auditoria na CEF, conclui que não há indícios de qualquer crime cometido por mim. Os pontos surpreendentemente citados pelo MPF não constam da conclusão dos trabalhos do escritório Pinheiro Neto. Sou inocente!"

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