Publicado em 17 de setembro de 2019 às 22:01
Após pressão interna e externa e a tentativa de um acordão com o governo Jair Bolsonaro (PSL), o Senado recuou e desistiu nesta terça (17) de afrouxar as regras eleitorais. Em votação simbólica no plenário, ou seja, sem registro nominal dos votos, a Casa aprovou um texto enxuto, assegurando só a verba do fundo eleitoral (uma das fontes públicas das campanhas políticas), sem a definição do valor.>
O projeto aprovado no início do mês na Câmara, em votação-relâmpago de uma hora e meia, ampliava brechas para caixa dois e reduzia a possibilidade de punição por irregularidades, além de esvaziar os mecanismos de controle e transparência no uso de verbas públicas eleitorais.>
A proposta tinha apoio de 15 partidos e dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM. O Senado tentou na semana passada aprovar a medida também a toque de caixa, mas uma pressão de alguns parlamentares e de entidades da sociedade civil acabou adiando a análise.>
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Nesta terça, buscou-se um acordo com o governo de Jair Bolsonaro para salvar alguns pontos, mas a repercussão contrária levou líderes partidários a optar pela rejeição de praticamente todo o projeto.>
VOLTA À CÂMARA>
Mas o texto aprovado no Senado assegura só a verba do fundo eleitoral, sem a definição do valor.>
Com a modificação, o texto retorna nesta quarta (18) para uma segunda análise da Câmara, que pode acatar a decisão do Senado ou rejeitá-la e resgatar o que havia decidido inicialmente --neste caso, assumiriam forte desgaste.>
Os deputados são, nesse caso, responsáveis pela palavra final antes de seguir para sanção ou veto de Bolsonaro.>
Para que valha nas eleições de 2020, qualquer alteração precisa estar sancionada até um ano antes do pleito - ou seja, antes de 4 de outubro.>
"Esta partitura, muito mal escrita pela Câmara, hoje vai voltar para lá. E espero que eles aprendam a lição, que esta é uma Casa revisora, não carimbadora. Nós não estamos aqui para, a toque de caixa, em 12 horas, em uma hora, em 24 horas, ratificar o que quer que seja que vem da Câmara dos Deputados", afirmou a senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da CCJ. >
Davi Alcolumbre disse em rede social que a Casa buscou "corrigir o texto aprovado pelos deputados".>
O principal ponto do projeto que reduzia a transparência no uso pelos partidos das verbas públicas era o que permitia o uso de qualquer modelos eletrônico de prestação de contas. Isso acabaria com a padronização usada pela Justiça Eleitoral, o que dificultaria enormemente o trabalho de fiscalização feita pelas autoridades e pela população.>
VERBAS>
Sobre o uso das verbas - pelo menos R$ 2,7 bilhões distribuídos aos partidos em ano eleitoral -, o texto abria um leque de novas possibilidades de gasto, como a compra de passagens aéreas até para não filiados e a aquisição de sedes partidárias.>
Além disso, ficaria muito difícil a punição pelo mau uso do dinheiro público.>
Seria preciso provar dolo do dirigente partidário ou do candidato, ou seja, que ele agiu com conhecimento e intenção de cometer um crime. Erros, omissões e atrasos na prestação de contas seriam perdoados caso corrigidos até o julgamento, benefício que seria estendido a todos os casos em andamento.>
Outro ponto questionado era a possibilidade de uso das verbas para contratar consultoria contábil e advocatícia para "interesse direto e indireto do partido", sem que esse valor contasse para o teto de gastos das campanhas - ampliando as brechas para o caixa dois, segundo especialistas.>
O projeto também permitia o uso das verbas para impulsionamento de conteúdo das legendas na internet, além da volta da obrigatoriedade da propaganda partidária no rádio e na TV.>
Na primeira votação na Câmara, no dia 3, quase nenhum dos pontos do projeto foi abordado. Deputados gastaram a maior parte da sessão discutindo o valor do fundo eleitoral, decisão que não constava na proposta, e outros temas, como as mensagens da Lava Jato e até a demissão de motoristas e cobradores em Salvador. Às 23h32, Maia anunciou a aprovação do texto-base por 263 votos contra 144.>
VOTAÇÃO>
Quinze partidos orientaram suas bancadas a votar a favor da medida, entre eles o PSL de Bolsonaro, que só mudou de posição no minuto final, quando todos já haviam registrado o voto no sistema.>
Além do PSL, orientaram suas bancadas a votar sim ao projeto PT, PP, MDB, PTB, PL (ex-PR), PSD, PSB, PSDB, Republicanos (ex-PRB), DEM, Solidariedade, PROS, PC do B e PV, com dissidências em várias dessas siglas.>
Os que orientaram suas bancadas a votar contra a proposta foram PSOL, Cidadania, PSC e Novo. PDT e Podemos pediram aos seus deputados que não participassem da votação com o intuito de derrubá-la por falta de quórum.>
A análise do mapa de votações mostra que o PT, que é a maior bancada da Câmara, deu a maior parte dos votos favoráveis à medida, 46. Só Vander Loubet (MS) votou contra.>
No PSL, foram 38 votos contra e 10 a favor. Um dos que apoiaram o projeto foi o líder da bancada, Delegado Waldir (GO). Um dos contrários foi Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente da República.>
O Novo votou fechado contra a medida e foi, ao lado do PSOL, o que mais protestou contra o projeto.>
"Este é um projeto errado do início ao fim. É um absurdo o que estamos fazendo aqui hoje. Claramente percebe-se que os partidos não entenderam o recado da sociedade em relação ao que é feito na política deste país", discursou Tiago Mitraud (Novo-MG).>
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