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Sede da Petrobras em Vitória deixa rombo de R$ 800 milhões

Sede da Petrobras em Vitória deixa rombo de R$ 800 milhões

Nova apuração do TCU vai identificar responsáveis pelo prejuízo

Publicado em 17 de junho de 2020 às 17:12

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O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que sobrepreço, edital obscuro e um financiamento desvantajoso fizeram com que a construção da sede da Petrobras, na Reta da Penha, em Vitória, causasse prejuízo projetado em R$ 819 milhões aos cofres públicos.

Sede da Petrobras em Vitória, Espírito Santo
Sede da Petrobras em Vitória, Espírito Santo. (Vitor Jubini)

As conclusões são de auditoria técnica de uma secretaria extraordinária do TCU, específica para suspeitas relacionadas à Operação Lava Jato. A força-tarefa investiga direcionamento de contrato e pagamento de propina na obra.

O relatório foi apresentado na sessão plenária de quarta-feira pelo ministro relator, José Múcio Monteiro. Foi determinada a abertura de uma tomada de contas especial para que sejam apontados os responsáveis pela má destinação dos recursos.

O cálculo do rombo foi feito usando duas variáveis. A primeira diz respeito ao financiamento do negócio. A sede foi construída com dinheiro de um Fundo de Investimento Imobiliário. A ideia era captar R$ 550 milhões para, entre outras coisas, a construção e a reconfiguração geométrica da Reta da Penha.

Foram captados R$ 763,4 milhões em recursos privados. Para garantir a remuneração dos investidores, ficou acertado que a Petrobras pagaria aluguel pelo uso do prédio à gestora do Fundo, entre 2008 e 2025. “Na prática, o aluguel não representa uma contraprestação pelo uso do imóvel, mas sim uma parcela destinada à amortização do capital obtido junto aos investidores”, explica um dos relatórios.

Sendo assim, os técnicos apuraram que o custo dos aluguéis, até 2025, será de R$ 1,745 bilhão.

Em seguida, a área técnica simulou outros tipos de financiamentos para obtenção de recursos compatíveis com a construção. Mesmo no BNDES, um empréstimo seria mais vantajoso. Ao final de 15 anos, o desembolso seria de R$ 978,6 milhões.

Ou seja, uma diferença final de R$ 767,1 milhões entre uma opção e outra.

O relator concordou parcialmente com esse raciocínio, principalmente porque a simulação mais precisa da economicidade deveria ter sido feita com o montante captado pelo Fundo (R$ 763,4 milhões), e não com o valor aproximado da construção (R$ 570 milhões).

“(Além disso), é importante ter em mente que a diferença entre os juros praticados pelo mercado com relação ao cobrado pelo banco estatal é subsidiada pelos cofres da União. Nesta hipótese, seria como se o Tesouro arcasse com parte da construção de uma unidade administrativa da estatal”, disse.

Variável

A segunda variável são as subcontratações. O consórcio contratado – Odebrecht, Camargo Corrêa e Hochtief (OCCH) – ficou com a responsabilidade de apenas 16,48% do serviço. Os outros 83,52% ficaram com subempreiteiras, o que acarretou “dupla incidência de custos indiretos como administração central, contingências, seguros, lucros, custos financeiros e tributos”. Com isso, de acordo com os técnicos, foram outros R$ 52,5 milhões desnecessários.

Outro lado

Em nota, a Petrobras informou que as autoridades reconhecem que a empresa é vítima dos fatos investigados. Pontuou que já recebeu cerca de R$ 660 milhões recuperados de práticas criminosas. Por fim, alegou que “segue colaborando com as autoridades e buscará o ressarcimento de todos os prejuízos causados em função dos atos ilícitos cometidos contra a companhia”. O valor total pode chegar a R$ 5,5 bilhões.

Entenda o caso

Da sede: A construção se deu por captação de recursos privados por intermédio de um Fundo de Investimento Imobiliário (FII), de participação majoritária da Petrobras.

Mecanismo: O Fundo adquiriu da Petrobras o direito real de superfície do terreno e foi o encarregado da execução do contrato de construção. Para isso, obteria recursos no mercado para financiar as despesas. Para garantir a remuneração dos investidores, o Fundo receberia da estatal um aluguel pelo uso do prédio.

Bagunça: O TCU verificou que, quando o contrato com as empreiteiras foi celebrado, em janeiro de 2007, nem havia definição sobre qual seria a fonte orçamentária do empreendimento. As tratativas com a gestora do Fundo só começaram em maio de 2008.

Sobrepreço: O TCU já havia identificado sobrepreço. O edifício-sede tinha custo estimado de R$ 90 milhões. Na licitação, foi para R$ 436,6 milhões, mas o contrato foi de R$ 486,1 milhões. Aditivos levaram o preço final a R$ 567,4 milhões.

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Flexibilidade: Foram admitidos preços até 20% maiores que o edital, com base em norma internacional. Mas, para o TCU, “essa norma tem aplicação restrita a empreendimentos classificados como indústrias de processo”, e não podia ter sido aplicada ao edifício-sede.

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