Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 01:31
Alvo de críticas após apontar movimentação atípica de R$ 1,2 milhão de um ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro - filho de Jair Bolsonaro -, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) disponibilizou apoio crucial para desfechos do mensalão e do petrolão. O órgão de inteligência financeira do país também embasou algumas das principais operações de combate a desvios de recursos no Espírito Santo.>
Entre os casos emblemáticos, cinco operações e ação: a Robusta, contra fraudes superiores a R$ 100 milhões na exportação de café, em 2013; a Sanguinello, contra prejuízos de R$ 200 milhões da "máfia do vinho", em 2014; e Âmbar, contra suspeitas de sonegação de R$ 1,5 bilhão no setor de rochas ornamentais. Mais recentemente, em 2017, o MPF ajuizou uma ação penal contra grupo investigado por suspeitas de evasão de divisas, com movimentações de R$ 95 milhões.>
Em todos esses casos, investigadores capixabas consultados apontam que os dados do Coaf foram fundamentais. Dizem, inclusive, que é praxe acionar o órgão para casos complexos. Os documentos do órgão, ressaltam, ajudam a direcionar as investigações. No Ministério Público Estadual, por exemplo, há técnicos que analisam os relatórios do Coaf para orientar a ação dos promotores.>
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O Coaf não julga ou prende ninguém. Apenas produz e reúne informações que precisam chegar ao conhecimento de autoridades que investigam lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.>
As remessas de informações por parte do Coaf para PF, Receita e Ministérios Públicos Federal ou Estadual se dão de duas maneiras. A primeira é espontânea, elaborada a partir de denúncias ou de comunicações obrigatórias enviadas pelo Banco Central, por exemplo.>
É que, por lei, os bancos devem informar ao Coaf saques ou depósitos de valor igual ou superior a R$ 50 mil em dinheiro vivo. E estabelecimentos como joalherias, imobiliárias, loja de carros e comércio de obras de arte devem informar pagamentos de R$ 30 mil em espécie. O Coaf pode complementar as comunicações analisando a compatibilidade com os ganhos do cidadão e fazendo outros cruzamentos.>
Também existem os relatórios "de intercâmbio". Estes atendem a pedidos específicos de investigadores.>
O Coaf foi criado em 1998, junto com a Lei de Lavagem de Dinheiro. Passou a se fortalecer em 2001, após o 11 de Setembro. Na época, os EUA cobraram dos países parceiros um rigor maior do controle de capitais para evitar financiamento do terrorismo no mundo, explicou o procurador do MPF no Espírito Santo Julio Cesar de Castilhos, para quem os dados compilados pelo Coaf são fundamentais para investigações complexas.>
"Nas operações complexas, (o Coaf) é fundamental. A primeira informação que nos chama a atenção é quando a pessoa não tem capacidade econômica grande e movimenta altas quantias. Pode ser uma sonegação fiscal, pode haver crime de evasão de divisas. Pode ser indício de crime ou confirmação de algo que já estamos investigando", comentou.>
Em 20 anos, o Coaf produziu cerca de 40 mil Relatórios de Inteligência Financeira (RIF). No mesmo período, foram 372 para o Estado. São mais de 18 por ano, em média. Estes são os documentos enviados às autoridades competentes, elaborados a partir de todos os dados recebidos ou levantados pelo órgão e que indicam a existência de fundados indícios de lavagem de dinheiro.>
O ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, apareceu em um RIF.>
RIFs, "comunicações de operações suspeitas" e "comunicações de operações em dinheiro" servem como matéria-prima para as grandes operações.>
SAIBA MAIS>
COAF>
O que faz>
Recebe informações de bancos, lojas de carros, imobiliárias e outros estabelecimentos sobre movimentações financeiras e cruza dados para subsidiar as autoridades.>
AÇÕES COM O COAF NO ESTADO>
Operação Caxangá, 2016>
Suspeitas de fraude de R$ 500 milhões por empresas do setor de plástico e embalagens. A partir do Coaf, a PF notou que as firmas não tinham sedes compatíveis com as operações alegadas.>
Evasão de divisas, 2017>
MPF ajuizou ação penal contra quatro pessoas, após identificar evasão de divisas. A investigação começou com dados do Coaf. Sigilos quebrados, foi pega movimentação de R$ 95 milhões.>
Operação Robusta, 2013>
Investigação do MPES atacou fraudes na exportação de café, com cifra superior a R$ 100 milhões. Operação se desdobrou em ES, MG e RJ.>
Op. Sanguinello, 2014>
Investigações do MPES citaram esquema de empresas fantasmas para formar um império milionário com recursos que pertenceriam ao Fisco. Prejuízos foram estimados em R$ 200 milhões.>
Operação Âmbar, 2015>
Resultado de investigação sobre suspeita de sonegação superior a R$ 1,5 bilhão no setor de rochas.>
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