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PSL ainda não reflete tamanho de Bolsonaro

PSL ainda não reflete tamanho de Bolsonaro

Na esteira da popularidade do presidente da República, legenda tenta ganhar importância política

Publicado em 24 de março de 2019 às 19:45

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O presidente Jair Bolsonaro é o principal nome do PSL, mas partido ainda busca relevância. (Marcos Corrêa/PR)

O sucesso recente do PSL consagrado nas urnas em 2018, para além do presidente Jair Bolsonaro, fez o partido, até então nanico, conseguir representação também nos Estados, com membros em 22 Assembleias Legislativas, além de três governadores – Santa Catarina, Rondônia e Roraima.

No entanto, os quase três meses presente nas mais diversas esferas de poder ainda não significaram poder político do partido para além de Brasília.

Com a ausência de um perfil de organização forte, com militância, diretórios estaduais e municipais organizados e uma agenda programática, o tamanho de Bolsonaro ainda não se reflete nos Estados.

Em apenas seis deles, por exemplo, há membros do partido com posições na Mesa Diretora do Legislativo Estadual. É o caso do Espírito Santo, que tem o deputado Torino Marques como 2º vice-presidente da Casa. No entanto, o cargo possui relevância relativa, motivo que inclusive provocou insatisfação na legenda, que esperava ter alçado a 1ª vice-presidência.

O PSL comanda também a Comissão de Segurança da Assembleia, visto que sua bancada é formada essencialmente por nomes vinculados à área de segurança pública. Além de Torino, há o delegado da Polícia Civil Danilo Bahiense, o Capitão Assumção e o Coronel Alexandre Quintino, ambos da Polícia Militar.

No entanto, mesmo sendo numericamente a maior bancada da Casa, com 4 parlamentares, até agora ela não tem exercido nenhuma proeminência no comportamento das sessões, e em vez de atuar como bancada, tem operado de forma fragmentada.

Sem nenhuma presidência legislativa no país, e com a presença frágil, pequena e fora das Mesas, em outros Estados o PSL inclusive se aliou a partidos que fazem oposição ao governo Bolsonaro no plano nacional, para conseguir espaço.

Presidindo o PSL no Espírito Santo e principal responsável por sua ascensão, em 2018, o secretário especial da Casa Civil do governo federal, Carlos Manato, explica a atuação da bancada.

"Eu exigi primeiramente lealdade na votação do presidente da Assembleia, para a gente ocupar nosso espaço. Falei com eles que somos de direita, que queremos um Espírito Santo melhor, e vamos discutir governo do Estado só em 2022. Então, o Executivo tem nosso apoio, e tudo que for bom para o Estado, orientei que eles apoiem. Não é para fazer como a esquerda mesquinha em Brasília, que é contra tudo", afirma.

Segundo Manato, ainda não há propriamente um estímulo para que os deputados busquem protagonismo. "Defendo que cada um vote com sua consciência, não apoiando, é claro, tudo o que for contra nossos princípios éticos, morais e partidários. O partido está à disposição deles, com assessoria e experiência. Mas o mandato é deles, e são eles que vão prestar contas", justifica.

Líder da bancada na Assembleia, Capitão Assumção ressalta que o compromisso principal do grupo de parlamentares, é de agir em comum nas questões de caráter ideológico. Até agora, ele diz não haver dificuldade de relacionamento com os demais partidos e com o governo do Estado, mesmo que o PSB, partido do governador Renato Casagrande, seja oposição ao PSL.

"A gente está em sintonia. O que a gente evita fazer na Assembleia é trazer para a tribuna da Casa questões mais nacionais, que são pertinentes à Câmara e ao Senado. Temos o compromisso de dar governabilidade. Também estamos nos mobilizando nas questões da área de segurança, fazendo audiências públicas, convocando autoridades", afirma.

CONGRESSO

No Congresso Nacional, o PSL ocupa hoje 54 cadeiras na Câmara dos Deputados e 4 no Senado. No entanto, ainda não há sinais de que o partido vá se consolidar enquanto bancada e formar lideranças com musculatura política, pois atrela profundamente o seu futuro ao de Jair Bolsonaro.

Lá, um fator que explica esta situação de vulnerabilidade é a inexperiência política, não entender o funcionamento complexo das Casas. Além disso, os ataques do PSL à chamada “velha política” dificultam a articulação do partido no Legislativo.

Única representante do PSL na bancada federal capixaba, a deputada Soraya Manato defende as vantagens desta nova forma de fazer política.

Aspas de citação

O PSL é muito mais democrático do que qualquer outro que esteve no governo. Nossa bancada, na Câmara, não tem tratamento nem melhor nem pior do que as outras. A visão é de que não adianta fechar só conosco, se vão precisar de todos nas votações

Soraya Manato, deputada federal
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Doutoranda em Ciência Política e pesquisadora do Laboratório de Partidos Políticos e Sistemas Partidários, Flávia Babireski analisa que este comportamento ainda tímido dos membros do partido é por compreender que apesar de contarem com o peso da figura de Bolsonaro, o jogo de poder no Congresso exige outras variáveis.

"O PSL não é um partido que criou membros históricos, militantes. São pessoas que entraram pelo bolsonarismo e pelas eleições, e que podem sair. Eles sabem que o jogo político não se joga sozinho. Fortalecer só o partido deles não garante nada no Congresso, a pauta deles não caminha. É preciso retribuir o apoio que se busca", avalia.

PLANO É ELEIÇÃO DE 2020

Apesar da aparência de que o até então nanico PSL era um partido recém-fundado, nas eleições de 2018, ele completou 20 anos de existência.

A partir de então, a sigla nasceu como um ator central do novo quadro partidário, já que a partir deste ano, recebe a maior fatia do fundo partidário, de cerca de R$ 110 milhões, e também deve receber o maior volume do fundo eleitoral nas disputas de 2020 e 2022. Sem contar que terá o maior tempo no horário eleitoral.

Carlos Manato é presidente estadual do PSL. (Marcelo Prest)

Desta forma, mesmo que ainda não tenha ganhado relevância considerável nas esferas além do Palácio do Planalto, o partido já conta com o potencial do próximo pleito, nos municípios, como um importante passo para se consolidar como uma sigla forte.

Além disso, aposta que será o grande polo de atração para políticos de outros partidos, como aqueles de direita que não atingiram a cláusula de barreira.

No Espírito Santo, a meta é eleger de 20 a 30 prefeitos e 80 vereadores, de acordo com o vice-presidente da sigla, Amarildo Lovato.

Membro desde 2016, era ele quem presidia o PSL até o ano passado, quando Bolsonaro se filiou em março, um mês antes do prazo definido por lei para quem queria ser candidato. Na época, ele dispôs de 30 dias para filiar seus seguidores e organizar a lista de candidatos de cada Estado, e com o Espírito Santo não foi diferente.

No entanto, foi um dos poucos Estados onde não houve destituição do diretório para que houvesse a entrada de bolsonaristas, assim como Maranhão e Distrito Federal. Aqui, fechou-se um acordo para a vinda do então deputado Carlos Manato e seus aliados, de saída do Solidariedade.

"O PSL cresceu no Espírito Santo em 2018 porque juntamos a boa chapa que eu tinha com a do Solidariedade, e fizemos um grupo forte. Muitos se filiaram por causa do Bolsonaro", afirma Lovato.

INTERNAMENTE

Segundo Manato, após o bom resultado de 2018, a tarefa de agora é reorganizar o partido nos municípios.

"Nosso diretório ainda é provisório, e entre maio e junho pretendemos fazer uma eleição definitiva. O estatuto diz que temos que ter no mínimo 12 executivas municipais definitivas para compor a estadual, e estamos trabalhando nisso. Mas não queremos quantidade, e sim qualidade. Pessoas que militem e entendam que somos um partido de direita, liberal na economia e conservador nos costumes", afirma.

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Manato disse ainda que pretende se candidatar para permanecer no comando da sigla, e pretende trabalhar por uma chapa de consenso.

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