> >
Primeiros seis meses de governo são cruciais para presidente

Primeiros seis meses de governo são cruciais para presidente

História brasileira mostra que é neste período que os mandatários conseguem implementar suas principais propostas de governo

Publicado em 4 de novembro de 2018 às 21:55

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

especial

O início de mandato de um presidente é normalmente caracterizado por uma lua de mel com os eleitos. Afinal, o candidato escolhido pela maioria do povo possui, no início do seu mandato, a confiança da maioria do país para realizar aquilo que prometeu durante sua campanha. Mas o que os presidentes eleitos pelo voto do povo após a ditadura conseguiram fazer no primeiro semestre de seus mandatos?

"Esses seis primeiros meses são um período de grande expectativa de todos os lados, tanto para quem votou quanto para quem não votou no candidato. Mas é um período em geral de planejamento, de estudo. Mudanças consideráveis não costumam ser vistas nesses meses. É um momento apaziguador", disse o historiador Ariel Cherxes Batista.

Palácio do Planalto, sede do governo federal, terá um novo presidente a partir de 1º de janeiro de 2019. (Beto Barata/PR)

Para se ter uma ideia de como a lua de mel de Jair Bolsonaro (PSL) pode ser, cabe análise dos mandatos dos outros presidentes eleitos após a redemocratização. Fernando Collor de Mello (1990 a 1992), na época no PRN, por exemplo, teve dificuldades em seu primeiro semestre, pois seu plano econômico não agradou a população e não apresentou resultados positivos. Ele sofreu impeachment em 1992, sendo substituído por Itamar Franco.

Em seu primeiro mandato (1995 a 1999), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sancionou a lei de concessões públicas no primeiro semestre, abrindo à iniciativa privada a exploração de serviços prestados pelo Estado. Já nos primeiros seis meses do segundo mandato (1999 a 2003), o tucano concretizou as vendas da Damatec (empresa no setor de informática), do Porto de Salvador e da Companhia Elétrica do Estado de São Paulo (Cesp).

MUDANÇAS

Lula (PT), em seu primeiro mandato (2003-2007), utilizou os primeiros seis meses de governo para realizar mudanças nos setores de energia, Previdência e tributário. Já no primeiro semestre do segundo mandato (2007-2011), o petista criou um programa para desenvolver a infraestrutura do país (o PAC) e um fundo de desenvolvimento para a educação básica (Fundeb).

Dilma Rousseff (PT) viu os dois lados da moeda. Enquanto o primeiro mandato (2011 a 2015) teve um primeiro semestre tranquilo com o Programa Rede Cegonha para gestantes e Plano Brasil sem Miséria para tentar erradicar a extrema pobreza no país, o segundo mandato (2015 a 2016) foi turbulento, conforme explicou o cientista político Fábio Ribeiro Machado.

"Ela passou o segundo mandato sob pressão por conta de um escândalo envolvendo a compra de uma refinaria em Pasadena (EUA), em 2014. Ali, o povo já começava a se voltar contra o governo Dilma", disse.

POPULARIDADE

Em fevereiro de 2015, a popularidade de Dilma caiu para 23%, a menor de um presidente desde 1999, por conta de medidas impopulares que envolviam o aumento do preço da gasolina e da conta de luz. Ela sofreu impeachment em 2016, sendo substituída por Michel Temer (MDB), hoje no cargo.

Curiosamente, o historiador Guilherme Gouveia Soares Torres observou semelhanças entre Fernando Collor e Bolsonaro.

"Ambos possuem pautas similares, focadas na moralização da política, diminuição do Estado, de combate aos problemas econômicos do país. Collor criou uma expectativa muito grande, assim como Bolsonaro está criando agora", disse.

Além dos deputados de seu partido, o presidente eleito também conta com apoio das chamadas bancadas "tematizadas", formadas pelas frentes parlamentares da segurança pública, da agropecuária e dos evangélicos, o que pode facilitar a realização das reformas políticas e econômicas que Bolsonaro almeja realizar.

PROPOSTAS

O economista Wallace Millis, porém, destacou que o presidente eleito precisará ter propostas claras e eficazes, além de ter de lidar com uma herança difícil do governo anterior.

"A nova equipe econômica já enfrenta grande pressão sobre as contas públicas, que possuem um déficit primário projetado para mais de R$ 130 bilhões. O corte de gastos e enxugamento da máquina pública com a redução de ministério e um novo programa de privatizações podem ajudar a conter a escalada da dívida pública", analisou Millis.

Resta saber se o povo reagirá de maneira positiva às ações iniciais de Bolsonaro, como nos casos dos primeiros mandatos de FHC e Lula, ou se terá uma recepção negativa de imediato, como nos casos de Fernando Collor e no segundo mandato de Dilma Rousseff.

AÇÕES DOS PRESIDENTES EM SEUS PRIMEIROS 6 MESES

Collor foi presidente por apenas dois anos

Governo Collor

Período: 1990-1992

Fernando Collor de Mello (PRN) anunciou em seu primeiro dia de governo o Plano Brasil Novo (Plano Collor), que estabeleceu a volta do cruzeiro como moeda em substituição ao cruzado novo. A medida de maior impacto foi o bloqueio por 18 meses dos depósito em contas correntes e cadernetas de poupança que ultrapassassem os 50 mil cruzados novos, além do congelamento de preços e salários. O governo prometeu corrigir o dinheiro pela inflação da época, mas na prática apenas metade dos recursos foi devolvida. A medida visava enxugar a máquina administrativa para acabar com a hiperinflação e modernizar a economia, mas foi mal recebida. O PIB chegou a cair 6% no primeiro semestre do governo de Collor. Envolvido em um escândalo de corrupção, Collor sofreu impeachment em 1992, sendo substituído pelo vice Itamar Franco.

Fernando Henrique Cardoso desfilando de carro em Brasília

Governo FHC

Período: 1995-1999

Um dos responsáveis pela criação do Plano Real durante a gestão de Itamar Franco, que implantou o real como moeda do país, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) começou seu primeiro ano de mandato com prestígio junto à população, visto que a inflação, que em 1993 era de 2489%, acabou caindo para menos de 1000% no final de seu primeiro ano de gestão. Logo nos seus primeiros seis meses no poder, FHC sancionou a lei de concessões públicas, abrindo à iniciativa privada a exploração de serviços prestados pelo Estado.

Período: 1999-2003

Nos primeiros seis meses do segundo mandato, FHC concretizou as vendas da Damatec (empresa no setor de informática), do Porto de Salvador e da Companhia Elétrica do Estado de São Paulo (Cesp).

Lula acena ao subir a rampa do Palácio do Planalto

Governo Lula

Período: 2003-2007

Em seus primeiros seis meses no governo, Lula (PT) realizou reformas no setor de energia e promulgou em tempo recorde propostas relacionadas à Previdência e ao setor tributário, em 2003. No mesmo período ocorreu a criação do Estatuto do Desarmamento, cuja meta era frear a violência e reduzir o número de homicídios no país.

Período: 2007-2011

Lula foi reeleito em 2006, e o primeiro semestre de seu segundo mandato teve como destaques a criação do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), com o objetivo de desenvolver a infraestrutura do país, focando na construção de portos, rodovias, ferrovias e investindo no saneamento básico, e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), para auxiliar o financiamento e a expansão da educação básica.

Reeleita, Dilma acena em sua posse

Governo Dilma

Período: 2011-2015

Sucessora de Lula eleita em 2011, Dilma Rousseff (PT) implantou a Rede Cegonha logo no primeiro semestre de governo, para apoiar gestantes, lactantes e bebês. Também criou o Plano Brasil Sem Miséria, para erradicar a extrema pobreza, aumentando o orçamento das famílias que recebessem menos de

R$ 70,00 mensais por pessoa.

Período: 2015-2016

O segundo mandato de Dilma, iniciado em 2015, passou por turbulências. No início do ano, a popularidade da presidente caiu para 23%, por conta de medidas impopulares, como o aumento na conta de luz e no preço da gasolina, reajuste de impostos e cortes em diversas áreas. A rejeição popular se refletiu no Congresso, onde Dilma ficou isolada politicamente. Acusada de pedaladas fiscais, sofreu impeachment em 2016, sendo substituída por Michel Temer (MDB).

Este vídeo pode te interessar

O autor é residente em jornalismo. Texto sob supervisão de Samanta Nogueira

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais