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Publicado em 19 de dezembro de 2022 às 14:36
O pastor Fabiano Oliveira, preso na madrugada desta segunda-feira (19), divide cela com o vereador de Vitória, Armandinho Fontoura (Podemos) no sistema prisional capixaba. Os mandados de prisão dos dois foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), assinados pelo ministro Alexandre de Moraes, e cumpridos em megaoperação realizada pela Polícia Federal.
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Fabiano foi detido nas primeiras horas da manhã em frente ao 38º Batalhão de Infantaria do Exército, na Prainha, em Vila Velha. Às 9h38, a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) informou que ele deu entrada no Centro de Detenção Provisória de Viana II. Ele é apontado pelo Ministério Público do Espírito Santo como um dos líderes dos movimentos antidemocráticos que questiona o resultado das eleições deste ano e pede intervenção das Forças Armadas no país.
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Na mesma unidade está detido o vereador Armandinho, que se apresentou à Polícia Federal na quinta-feira (15). Os dois vão dividir a mesma cela que, durante o fim de semana, teve Armandinho como único ocupante.
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A cela fica em uma galeria destinada a detentos oriundos de operações realizadas pelas polícias e devedores de pensão alimentícia. >
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A ala por eles ocupada é vizinha de uma outra onde está um detento de um caso de grande repercussão no Espírito Santo, ambas localizadas na mesma galeria.>
Trata-se de Georgeval Alves Gonçalves, o ex-pastor que foi denunciado pelo assassinato dos irmãos Kauã, 6 anos, e Joaquim, 3, em um incêndio criminoso em Linhares, Norte do Espírito Santo. Ele era pai da criança mais nova. >
As crianças foram mortas em 21 de abril de 2018 e, pelo crime, Georgeval vai sentar no banco dos réus em julgamento que ainda não foi marcado.>
A galeria onde Armandinho, Fabiano e Georgeval estão detidos tem um espaço comum destinado ao banho de sol, onde eles poderão se encontrar, e também com os demais presos da unidade.>
O vereador usa o mesmo uniforme azul da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), destinado a todos os que estão no sistema prisional. A alimentação a ele oferecida também é a mesma dos demais detentos, assim como o espaço destinado ao banho, que é coletivo.
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Para o Complexo Penitenciário de Viana também foi levado outro detento da operação contra os atos bolsonaristas. É o caso do proprietário do site "Folha do ES", Jackson Rangel, preso em Cachoeiro, e levado para a Penitenciária de Segurança Média 1. >
Ele partilha a mesma unidade com outros detentos que também têm formação em Direito e por isso têm acesso a uma cela especial.>
Na mesma unidade de Jackson está Hilário Frasson, o ex-policial civil que foi condenado em 2021 pelo assassinato da ex-mulher, a médica Milena Gottardi. >
Ele recebeu condenação de 30 anos de prisão em um dos julgamentos mais longos da história do Estado, por feminicídio. Um crime que contou com a participação do pai de Hilário, Esperidião Frasson, e de outras quatro pessoas.>
Embora não compartilhem o espaço do banho de sol, podem vir a se encontrar - Jackson e Hilário -, nas movimentações de presos na unidade.>
Na mesma galeria estão ainda os advogados que foram presos em operações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).>
Na última operação, 10 advogados foram detidos e tiveram suas prisões mantidas pelo Tribunal de Justiça. Eles são acusados de atuarem como "pombos-correios" para lideranças do tráfico de drogas da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV). >
Os dez ocupam uma ala especial na unidade, cujas celas permanecem abertas durante o dia, quando podem compartilhar o espaço interno, e é fechada a noite. O uniforme azul da Sejus e a alimentação é a mesma destinada ao restante dos internos do sistema prisional.>
Armandinho foi eleito em agosto para presidir a Câmara Vitória a partir de janeiro de 2023. Ele teve a prisão requerida pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) no âmbito dos inquéritos 4781 e 4874, que investigam ataques ao STF e financiamento de milícias digitais.>
Segundo a decisão, Armandinho fez várias críticas a ministros do Corte em redes sociais, incitando, por exemplo, que fosse colocado "limite nesses bandidos togados" e dizendo que "vai ter enfrentamento sim, constitucional, pra não deixar esses vagabundos que sequer foram eleitos governarem o nosso país". >
O MPES também sustentou ao STF que é "facilmente verificada ligação" do vereador de Vitória com o portal "Folha do ES", site sediado em Cachoeiro de Itapemirim e que tem como proprietário Jackson Rangel, preso no mesmo dia de Armandinho. >
Já Rangel, segundo as investigações do MPES, seria a ponta do vértice que conecta toda a milícia digital, da qual Armandinho também faria parte. >
O periódico do qual ele é sócio (um site sediado em Cachoeiro de Itapemirim), segundo as investigações do MPES, funciona como veículo propulsor das fake news contrárias à existência dos poderes constituídos e seu pleno funcionamento.>
O pastor Fabiano, assim como o radialista e publicitário Maxcione Pitangui - mais conhecido como Max Pitangui -, atuariam como líderes dos atos antidemocráticos na frente do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, na Prainha, em Vila Velha. A informação consta no inquérito feito pela Procuradoria Geral de Justiça do Estado e apresentado ao STF. Max Pitangui está foragido.>
ARMANDINHO FONTOURA>
Nota assinada pelo gabinete do vereador Armandinho Fontoura diz que "causa espanto o envolvimento do vereador na operação relacionada à investigação sobre atos antidemocráticos contra o resultado das eleições. O vereador não frequentou nenhuma manifestação antidemocrática, não incentivou a realização delas, tampouco as patrocinou. A própria imprensa nunca registrou nenhum tipo de ato semelhante".>
A nota diz ainda que o "vereador não compreende porque suas opiniões, de cunho conservador e liberal, sejam motivo para uma operação que fere a liberdade de expressão - sobretudo enquanto representante da população no parlamento municipal" e que le está à disposição da Justiça para esclarecer todos os fatos. "Sua defesa técnica vai tomar todas as medidas jurídicas cabíveis", finaliza.>
Já o advogado Rodrigo Horta, que faz a defesa de Armandinho, disse que busca acesso aos autos, "mas desde já afirma a inocência" do cliente. "Inclusive, ele se absteve, por conta própria, de realizar qualquer manifestação dirigida ao público, diretamente ou por redes sociais, após a ciência dos termos da decisão proferida por S.Exa. Min Alexandre Moraes, quando se dirigiu, imediatamente e de forma espontânea, à sede da Polícia Federal".>
O pastor Fabiano Oliveira, preso na manhã desta segunda-feira (19), se manifestou em vídeo em frente ao 38° BI na quinta-feira (15) depois de saber que tinha mandado de prisão em aberto contra ele. "Estou ciente de que não cometi nenhum crime e continuo com a mesma certeza de que não vamos dar um só passo atrás até que o comunismo caia", afirmou no vídeo.>
O radialista e publicitário Max Pitangui (PTB), que nas eleições deste ano disputou uma vaga na Assembleia Legislativa do Espírito Santo mas não foi eleito, disse ao site G1 ES que considera a ação equivocada.>
"Essa ação é um erro. Nunca participei de atos antidemocráticos, sou contra fecharem a rua, para mim isso é uma bandidagem. Nunca fiz post influenciando ninguém. Já fiz sim, denúncias ao Conselho Nacional de Justiça e até a Polícia Federal contra a Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Espírito Santo, sobre nepotismo, altos salários e outras irregularidades. Essa é uma represália contra isso e não sobre atos que envolvam o candidato derrotado. Isso é um absurdo. A gente não pode se expressar no Brasil, não temos liberdade de imprensa e nem de expressão. Vou pedir exílio à Israel", disse Max, que está foragido.>
A reportagem ainda tenta localizar a defesa de Jackson Rangel. Quando isto acontecer, este texto será atualizado.>
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