Publicado em 15 de março de 2018 às 16:12
A Polícia Federal vai intimar o PSD e a Brand Consultoria e Gestão em busca de explicações sobre pesquisa de opinião encomendada pelo partido ao instituto. A informação é do delegado regional de combate ao crime organizado da PF no Estado, Vitor Moraes Soares.>
As intimações se darão dentro do inquérito da Operação Voto Livre, investigação da PF que apontou para disseminação de fake news (notícias falsas).>
Um então servidor comissionado da Secretaria estadual de Esportes (Sesport) foi apontado como o responsável por lançar números de supostas pesquisas, irregularmente, em grupo do WhatsApp e no site Capixabão.com, em referência a um levantamento feito pelo PSD.>
As sondagens mostravam o governador Paulo Hartung (PMDB) em vantagem na corrida à reeleição e o deputado estadual Amaro Neto (PRB) à frente na disputa pelo Senado.>
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O presidente do PSD no Estado, Neucimar Fraga, que é subsecretário estadual de Desenvolvimento, confirmou que o partido encomendou uma pesquisa real, de consumo interno, que não poderia ser tornada pública. Ele, que chegou a compartilhar o link do Capixabão em um grupo de WhatsApp, em fevereiro, negou ter vazado a pesquisa para o site. Mas ao negar, em entrevista à coluna Vitor Vogas, acabou caindo em contradição.>
Neucimar disse que os dados divulgados pelo Capixabão.com não eram os mesmos que os da pesquisa oficial do PSD. Ou seja, que a publicação não tinha relação com nenhum levantamento do partido. O fato é que o texto do site nem sequer mencionava números. Dizia apenas que Hartung e Amaro apareciam na frente em uma pesquisa interna do PSD.>
Os dados daquela pesquisa (divulgados no Capixabão.com) não tinham nada a ver com nossos números não. Na época achei até um pouco estranho. Não me lembro, mas é possível que eu tenha compartilhado realmente pesquisa em algum grupo de WhatsApp. Mas não eram os mesmos números da nossa pesquisa não. A gente possivelmente está tratando de dados diferentes, afirmou o dirigente, que, mesmo assim passou o link para frente.>
COMPROVAÇÃO>
Em entrevista coletiva realizada na quarta-feira (14), dia da operação, Moraes chegou a dizer que as pesquisas tornadas públicas não existiram. Elas estão sendo consideradas falsas porque, até o momento, depoimentos ou documentos apresentados não comprovaram a realização da sondagem.>
Pelo que verificamos, não há nenhuma documentação de que as pesquisas foram, de fato, contratadas pelo PSD. Até agora, a pesquisa não foi, de fato, apresentada, afirmou o delegado, em entrevista à Rádio CBN Vitória, na manhã de ontem.>
A PESQUISA>
Há uma pesquisa de opinião real sobre avaliação de governo e sobre cenários eleitorais na Grande Vitória encomendada à Brand, em janeiro, pelo PSD.>
Nesta quinta-feira (15), Neucimar Fraga apresentou à reportagem as notas fiscais do serviço. Foram dois pagamentos. Um de R$ 5,2 mil e outro de R$ 9,6 mil.>
A pesquisa foi feita para consumo interno, não havia registro na Justiça Eleitoral e, portanto, não poderia ser divulgada.>
Diretor de planejamento da Brand, Lucas Margotto afirmou que está à disposição das autoridades para esclarecimentos. Ele confirmou que a empresa foi contratada pelo PSD. Entregamos ao partido o relatório impresso com orientações, como de que a pesquisa foi contratada para consumo interno e que não foi feito o registro na Justiça eleitoral para posterior divulgação. Deixamos claro. O que o cliente faz com as informações não é responsabilidade do instituto, afirmou.>
CRIMES>
Ainda não está claro se o então servidor comissionado investigado teve acesso à pesquisa real e a divulgou ou se, mesmo havendo uma pesquisa de verdade, ele publicou dados aleatórios dizendo que eram os apurados pela Brand.>
Contudo, há irregularidade nas duas possibilidades, sustenta o delegado.>
A Lei 9504/97 estabelece que a divulgação de pesquisa sem o prévio registro pode render multa de até R$ 100 mil. Também impõe que a divulgação de pesquisa fraudulenta pode ser punida com detenção de seis meses a um ano e com multa de até R$ 100 mil.>
O CASO>
Um servidor comissionado da Secretaria Estadual de Esportes e Lazer do Espírito Santo (Sesport), que é ex-servidor da Assembleia Legislativa do Estado, é apontado pela Polícia Federal como um dos responsáveis por divulgações de fake news (notícias falsas) com intuito de influenciar o voto do eleitor capixaba nas próximas eleições. >
De acordo com a Polícia Federal, o servidor esteve envolvido na divulgação de uma "pesquisa eleitoral", que teria sido feita pelo partido PSD, no site Capixabão.com. Apenas pesquisas registradas na Justiça Eleitoral podem ser publicadas. >
Fontes ligadas à investigação confirmaram ao jornal A GAZETA que o servidor apontado é o assessor especial da Sesport Evandro Figueiredo. O outro responsável é o dono do site Capixabão, Arnóbio Paganotto, o Nobinho. Antes de serem publicados no site, números da pesquisa fraudulenta circularam em grupos de WhatsApp.>
O título do texto publicado pelo Capixabão era: "Paulo Hartung tem a preferência do eleitor da Grande Vitória". Além de falar em vantagem do atual governador nas intenções de voto, o site também mencionava que o deputado estadual Amaro Neto (ex-SD e agora no PRB) era favorito na corrida ao Senado.>
"Essa pesquisa nunca existiu. Jamais foi realizada nenhuma pesquisa", afirmou o delegado Vitor Moraes Soares, da Polícia Federal.>
Ainda de acordo com o delegado, a investigação da PF não mostrou qualquer participação do governador na divulgação da notícia falsa. "Não há qualquer indício de que o governador tenha anuído ou mesmo determinado a disseminação da pesquisa eleitoral falsa", afirmou Soares.>
O secretário estadual de Esportes, Roberto Carneiro (agora no PRB), é aliado de Hartung e de Amaro Neto. Amaro, Carneiro e o subsecretário administrativo de Esportes, Devanir Ferreira (PRB), estiveram na tarde desta quarta-feira em Brasília, onde Amaro e Carneiro confirmaram a filiação ao PRB. >
Evandro Figueiredo ocupa um cargo de livre nomeação e exoneração. O salário dele, como assessor especial da Sesport, é de R$ 5.689,13 brutos, de acordo com o Portal da Transparência.>
A OPERAÇÃO VOTO LIVRE>
A Secretaria Estadual de Esportes e Lazer do Espírito Santo (Sesport) foi alvo de uma operação da Polícia Federal deflagrada na manhã desta quarta-feira com o intuito de combater a disseminação de fake news (notícias falsas) para influenciar eleitores capixabas. >
De acordo com a PF, a Operação Voto Livre cumpriu dois mandados de busca e apreensão, na sede da Sesport e na casa de um dos investigados. Além disso, dois mandados de intimação foram cumpridos. Doze policiais participaram da operação. Um computador e dois celulares foram apreendidos na Sesport.>
De acordo com a PF, os investigados poderão responder pelos crimes de pesquisa eleitoral fraudulenta e falsidade ideológica. A pena pode chegar a detenção de seis meses a um ano ou multa.>
DENÚNCIA>
A investigação começou após a PF receber uma denúncia de uma suposta falsa pesquisa eleitoral de intenção de votos compartilhada pelo WhatsApp.>
Durante as investigações, segundo a PF, também foi verificada a divulgação de uma suposta falsa pesquisa eleitoral pelo site Capixabão.com.>
OUTRO LADO>
Evandro Figueiredo não foi localizado pela reportagem.>
O Gazeta Online também entrou em contato com a Sesport, que não se posicionou sobre a ação da Polícia Federal. A superintendente estadual de Comunicação, Andréia Lopes, disse, em entrevista coletiva, que a divulgação de notícias desse tipo não contam com apoio ou orientação do governo e frisou que a atitude do servidor foi "pessoal". Ela não confirmou, no entanto, se o servidor será exonerado.>
Por meio de nota, o site Capixabão se disse surpreso com a operação da PF: "Nos causa espanto o fato de nosso portal fazer parte de uma investigação de matérias tipo Fake News (notícias falsa), sendo que temos uma empresa com CNPJ registrado, endereço fixo e recolhemos nossos impostos. Procuramos sempre divulgar informações baseadas em fatos reais e não especulativos". >
Confira a nota, na íntegra:>
Tendo em vista a deflagração da operação Voto Livre realizada pela Polícia Federal, o Portal Capixabão vem a público esclarecer que, tem mais de 12 anos de atuação no ramo do Jornalismo, com mais de um milhão de acessos por mês e sempre pautou a divulgação de suas notícias na boa prática jornalística, com a devida apuração dos fatos, realizada por jornalistas registrados em sua identidade de classe.>
Há cerca de dois meses implantamos em nosso portal a coluna Bastidores da Política, com o objetivo de informar nossos leitores com tudo que acontece nos bastidores da política capixaba, de forma independente, imparcial e em tempo real.>
Nos causa espanto o fato de nosso portal fazer parte de uma investigação de matérias tipo Fake News (notícias falsa), sendo que temos uma empresa com CNPJ registrado, endereço fixo e recolhemos nossos impostos. Procuramos sempre divulgar informações baseadas em fatos reais e não especulativos.>
Reforçamos que acreditamos na carta magna de nosso país, onde está previsto no artigo 5º da Constituição Federal, a liberdade de expressão e a livre manifestação de pensamento. Nos colocamos à disposição de todos, para quaisquer esclarecimentos.>
INÉDITO>
A Voto Livre é a primeira operação da PF no combate às fake news e relacionada às eleições deste ano. A operação foi realizada em conjunto com a Polícia Civil do Estado.>
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