Publicado em 19 de setembro de 2019 às 15:21
Apesar de Walter Delgatti Neto, preso na terça (23), ter confessado ser o hacker que invadiu contas de autoridades da Lava Jato, a Polícia Federal vê contradições em seu depoimento. Uma nova oitiva havia sido marcada para falar sobre pontos descobertos pela investigação.>
Delgatti é chamado internamente por investigadores de "contador de histórias", característica considerada típica de estelionatários. Ainda assim, a PF diz que o suspeito tem colaborado com a apuração.>
Um dos exemplos principais de sua boa vontade, segundo policiais, foi o fato de ter fornecido senhas de seu celular e de serviços que armazenam dados nas nuvens da internet.>
Entre as contradições, investigadores dizem que Delgatti faltou com a verdade sobre o número de autoridades que atacou. O suspeito limitou sua atuação a pouco mais de dez pessoas públicas.>
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O suspeito disse não ter sido o autor de invasões das contas do ministro Paulo Guedes (Economia) e da deputada Joice Hasselman (PSL-SP).>
Policiais apontam que a investigação tem um número muito maior de vítimas do que o Delgatti confessou, conforme trabalho da perícia.>
Há mais de 5.000 ligações feitas de um canal vinculado a ele para tentativas de invasão, com cerca de mil alvos. Outro episódio de contradição apontado pela polícia ocorreu no dia da busca e apreensão, na última terça.>
Segundo informações do Instituto Nacional de Criminalística, um dos celulares de Delgatti estava aberto na conta de Guedes no momento da operação. O telefone ainda iria passar por perícia, mas a questão já é tratada como certa.>
A PF também tem na investigação mais detalhes de como o hacker começou a fazer as invasões. Alguns dos pontos apurados são diferentes daqueles declarados por ele em depoimento na última terça.>
A política quer saber ainda quantas vezes o grupo se passou por autoridades nas trocas de mensagens pelo aplicativo Telegram.>
Os investigadores buscam descobrir quais dos integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário tiveram conversas conduzidas pelos invasores dos telefones celulares.>
De acordo com informações iniciais, os ataques aos celulares começaram em fevereiro deste ano, o que descartaria a possibilidade de terem se passado pelos alvos em mensagens anteriores ao período.>
Até agora, a PF já contabiliza pelo menos quatro casos em que o autor ou os autores das invasões deram início ou continuaram diálogos fingindo ser o dono do telefone.>
A polícia apura se o telefone do presidente Jair Bolsonaro, também alvo dos hackers, sofreu esse tipo de ação por parte deles. Investigadores dizem que isso ocorreu, por exemplo, com o ministro Sergio Moro (Justiça).>
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, foi alvo de uma tentativa de ataque no aplicativo em abril, mas os hackers não conseguiram acessar as informações do celular.>
O ministro foi informado do ataque pelo próprio Telegram, mas não foi comunicado oficialmente pelo Ministério da Justiça de estar entre as autoridades hackeadas.>
Moro tem avisado as autoridades vítimas das invasões que as mensagens capturadas pelo grupo serão destruídas.>
O descarte de material apreendido em operações, no entanto, é uma decisão que cabe à Justiça e pode ocorrer somente com decisão do juiz.>
O plano da PF agora é descobrir quantas contas o grupo conseguiu de fato se infiltrar.>
De acordo com pessoas envolvidas na investigação, há um padrão que caracteriza sucesso e fracasso, o que ajuda no trabalho em andamento.>
A expectativa é que vítimas dos grampos sejam chamadas para prestar depoimentos. Um laudo está sendo finalizado e deve ser entregue até o início da semana que vem.>
O depoimento de Delgatti, cujo teor completo foi revelado nesta sexta (26), pela GloboNews, inclui ainda a afirmação do suspeito de que ele seria o responsável por passar mensagens da Lava Jato para The Intercept Brasil, de forma anônima, voluntária, como revelou a Folha de S.Paulo, e sem edição.>
O suspeito diz ter procurado Glenn Grennwald, fundador do site, por conhecer sua atuação no vazamento de documentos secretos dos EUA, no caso de Edward Snowden.>
Ele afirmou que obteve o contato do jornalista por meio da ex-deputada Manuela D'Ávila (PC do B).>
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