Publicado em 13 de maio de 2019 às 15:33
O ministro Sérgio Moro (Justiça) afirmou nesta segunda-feira (13) que não estabeleceu condições para ocupar o cargo no governo de Jair Bolsonaro (PSL).>
"Não vou receber um convite para ser ministro estabelecendo condição sobre circunstâncias do futuro que não se pode controlar", disse, durante palestra no Congresso Nacional de Macrocriminalidade e Combate à Corrupção, em Curitiba (PR). >
Um dia antes, o presidente disse ter assumido um compromisso com Moro para indicá-lo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). "Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei: 'A primeira vaga que tiver lá (no STF), está à sua disposição'", disse Bolsonaro, em entrevista à rádio Bandeirantes.>
"A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremos esse compromisso. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem desse perfil lá dentro do STF", acrescentou o presidente.>
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O primeiro ministro do Supremo que deve deixar a corte é o decano Celso de Mello, que cumpre 75 anos -a idade de aposentadoria obrigatória- em novembro de 2020. A segunda vaga no STF deve ficar disponível com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em julho de 2021.>
LOTERIA>
Bolsonaro fez os comentários neste domingo (12) após ser questionado pelos entrevistadores sobre uma fala recente do ex-juiz da Lava Jato, que no final de abril disse ao jornal português Expresso que ir para o STF seria "como ganhar na loteria".>
"Eu vou honrar esse compromisso. Caso ele (Moro) queira ir pra lá (STF), será um grande aliado. Não do governo, mas dos interesses do nosso Brasil dentro do STF", disse o mandatário.>
CONVERGÊNCIA>
Nesta segunda-feira, Moro disse que, no convite que recebeu no ano passado para largar a magistratura e assumir uma vaga no primeiro escalão do governo, houve sim uma convergência de pautas entre ele e Bolsonaro, com o intuito de combater o crime organizado, a corrupção e os crimes mais violentos, o que o levou a aceitar o cargo.>
"Além disso, ele (presidente) me deu carta branca para eu poder construir o ministério. Convidar as pessoas nas quais eu confiava para realizar esse trabalho", disse. Moro também ressaltou que é preciso "preservar o legado da Lava Jato".>
No final de fevereiro, um episódio lançou dúvidas se Moro de fato contava com carta branca do Palácio do Planalto nos assuntos do ministério.>
O ex-juiz foi obrigado a recuar da indicação da especialista em segurança pública Ilona Szabó como membro suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O veto a Szabó, cuja nomeação para o órgão consultivo havia sido publicada no dia anterior, ocorreu após uma onda de críticas de aliados de Bolsonaro nas redes sociais e por pressão do próprio presidente.>
"NÃO É UMA COISA QUE HOJE SE ENCONTRA NA MINHA MENTE">
Nesta segunda-feira, mais cedo, em entrevista à rádio Jovem Pan do Paraná, Moro se disse "honrado" com a fala do presidente.>
"Mas, assim, não tem a vaga no momento. E quando surgir a vaga o presidente vai avaliar se manterá o convite, e eu vou avaliar se aceitarei o convite, se for feito, evidentemente. Então não é uma coisa que hoje se encontra na minha mente. Meu trabalho hoje é desempenhar minhas funções dentro do ministério.">
Questionado pela emissora se tem vontade de assumir uma cadeira no STF, Moro disse que é natural que qualquer juiz tenha essa pretensão.>
"Tenho um histórico na magistratura. Seria algo que qualquer juiz evidentemente gostaria de assumir. Seria um ápice na carreira como juiz. Mas, como eu disse, o foco é o trabalho no Ministério da Justiça e Segurança Pública, e eu estou fazendo exatamente o que eu me comprometi com o presidente", disse.>
Neste domingo (12), ao revelar o acordo feito com o ex-juiz da Lava Jato, Bolsonaro ressaltou que, mesmo indicado, Moro terá que se submeter ao crivo do Congresso antes de assumir uma cadeira na corte.>
"Obviamente ele teria que passar por uma sabatina no Senado. Eu sei que não lhe falta competência para ser aprovado lá, mas é uma sabatina técnico-política", concluiu o presidente.>
Sergio Moro foi anunciado ministro da Justiça em 1º de novembro do ano passado, poucos dias depois da vitória do atual presidente no segundo turno das eleições presidenciais.>
Quando comunicou seu embarque no governo, Moro disse ter aceitado o convite de Bolsonaro "com certo pesar" por ter de "abandonar 22 anos de magistratura".>
"No entanto, a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior", disse o ex-juiz à época.>
Moro assumiu um ministério turbinado, fruto da fusão da pasta da Justiça com a da Segurança Pública.>
Além disso, o ministro tomou posse como o integrante mais conhecido da equipe de Bolsonaro, fruto dos anos de exposição como o juiz da Lava Jato responsável, entre outras medidas, pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex de Guarujá (SP).>
Pesquisa Datafolha realizada no início de abril apontou Moro como o ministro mais popular e mais bem avaliado do governo Bolsonaro.>
No entanto, o status de superministro e a popularidade não se traduziram, até o momento, em vitórias políticas para o ex-juiz da Lava Jato.>
DERROTAS>
Pelo contrário, ele já foi obrigado a recuar de uma nomeação e sofreu derrotas no Legislativo.>
A mais recente delas ocorreu na semana passada, quando a comissão especial do Congresso que analisa a medida provisória da reforma administrativa retirou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) da alçada do Ministério da Justiça.>
Contra a vontade de Moro, deputados e senadores decidiram que o conselho de inteligência financeira que investiga operações suspeitas deverá ficar subordinado ao Ministério da Economia, como ocorre desde 1998.>
"Não pedi que o Coaf viesse ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Minha conversa foi entre mim e o presidente, ele ofereceu que (o Coaf) fosse ao ministério, nunca havia pensado nisso", disse Moro nesta segunda-feira.>
Moro também enfrenta tramitação lenta no Congresso do seu pacote de endurecimento de penas e de combate ao crime organizado, conhecido como projeto anticrime.>
INDICAÇÃO PARA O STF>
Se confirmada a indicação de Moro para o STF no final do ano que vem, o ex-juiz da Lava Jato não será o primeiro ministro da Justiça a trocar a pasta pelo Supremo.>
O caso mais recente é o de Alexandre de Moraes, que foi ministro da Justiça do ex-presidente Michel Temer por pouco mais de oito meses. Ele ocupou a vaga de Teori Zavascki, que morreu em janeiro de 2017.>
Outros casos após a promulgação da Constituição em 1988 são dos ex-ministros do STF Paulo Brossard, Maurício Corrêa e Nelson Jobim, que chefiaram a pasta da Justiça nos governos José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, respectivamente.>
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