Publicado em 2 de maio de 2019 às 10:40
É uma voz aguda, quase estridente quando nervoso, que ganhou a confiança da equipe econômica do governo e o respeito da família de Jair Bolsonaro. Aos 33 anos, o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) - um descendente de europeus do interior do Rio Grande do Sul, de 1m72 de altura e corpo franzino - tem se destacado numa bancada de novatos e provocado ciúmes na cúpula do PSL, o partido do presidente, e a desconfiança dos líderes do Centrão.>
Com passagens pela Câmara de Vereadores de Dois Irmãos, uma cidade de 30 mil habitantes, e pela Assembleia gaúcha, numa vaga de suplente, Van Hattem marcou sua curta trajetória política pela defesa ferrenha de causas ideológicas, como o Escola sem Partido.>
Ao colocar o broche de deputado federal, porém, ele deixou de lado os discursos influenciados pelo escritor Olavo de Carvalho - de quem foi aluno -, foi escolhido líder do Novo e focou logo na agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes.>
Em poucas semanas, já trocava mensagens diárias por WhatsApp e telefonemas com o secretário da Previdência, Rogério Marinho, e participava de momentos privados do clã Bolsonaro. "Marcel é uma das gratas surpresas dessa Legislatura", afirmou Marinho à reportagem. "Ele ajuda buscando dados, medindo a temperatura e fazendo a interlocução com os partidos.">
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No último dia 13, um domingo, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, convidou Van Hattem para um churrasco em Porto Alegre. O encontro foi na casa da família da noiva de Eduardo.>
O churrasco teve até registro no Instagram do filho do presidente. "Churrasco bagual, chimas e resenha em Porto (Alegre) com a gurizada e o Marcel van Hattem. As prendas estavam lá, mas não saíram na foto. Mesmo aí adivinhe qual era o assunto? Sim, política", escreveu o deputado do PSL na rede social. À reportagem, Van Hattem disse que o "respeito é mútuo". "Temos muita coisa em comum.">
Eduardo Bolsonaro evitou falar com a reportagem. Num corredor da Câmara, a reportagem presenciou o filho do presidente elogiando Van Hattem - que era um dos colegas mais próximos dele na Casa. No comando da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Eduardo o escolheu para o posto de segundo-vice presidente, vaga que seria do PSL.>
LIBERALISMO >
Defensor do liberalismo econômico, ele se rotula como um político de direita, mas sem sectarismo. Ainda jovem, segundo ele, viu o pai fechar uma empresa de construção civil "por causa dos altos impostos". O fato o impactou. Virou leitor voraz da obra de Ludwig von Mises, teórico do liberalismo e do livre mercado, e começou a frequentar o Instituto de Estudos Empresariais - uma organização de apoio ao pensamento liberal fundada pelo empresário Willian Ling, em Porto Alegre. O empresário virou mentor da vida acadêmica e política de Van Hattem. Aos 17 anos, ele se filiou ao PP, pelo qual foi vereador e suplente de deputado estadual.>
Nas eleições passadas, já pelo Novo, foi o deputado mais votado do Rio Grande do Sul, com 349 mil votos, quase o dobro da votação de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), atual ministro da Casa Civil, que teve 183 mil votos.>
A reportagem acompanhou uma semana de trabalho do parlamentar na Câmara, em eventos empresariais e na orientação de colegas do partido e de outras legendas. Van Hattem é do tipo que caminha apressado pelos corredores do Congresso, sempre com o celular no ouvido ou com os dedos digitando mensagens no WhatsApp.>
Em sua escalada por espaço, o representante da "nova política" também cruza constantemente com velhas figuras do cenário nacional. Em desses encontros, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que foi condenado e preso no mensalão, foi quem interrompeu o passo apressado de Van Hattem na escadaria do Salão Verde da Câmara. "Tenho acompanhado de perto seu trabalho. Você vai longe." Sem esconder constrangimento, o parlamentar agradeceu. Logo depois, afirmou: "O que eu posso falar? Tenho que ser cordial".>
No vácuo deixado pela inabilidade política dentro da base do PSL, Van Hattem virou uma espécie de líder informal dos novatos da Câmara. Durante a discussão sobre a proposta de anistia a partidos políticos que não cumpriram a cota feminina, pelo menos quatro parlamentares em primeiro mandato do PSL e um do PSD o procuravam para buscar orientação de voto. O resultado final foi a anistia, mas 11 deputados do PSL seguiram o mesmo voto do Novo. Depois os quatro do PSL afirmaram confiar mais na posição de Van Hattem do que na do líder do próprio partido, Delegado Waldir (PSL-GO).>
Veto. A lealdade ao pensamento liberal da equipe do ministro Paulo Guedes já tirou de Van Hattem e do Novo papéis de maior destaque na discussão da Previdência. Em março, durante a escolha do relator na Comissão de Constituição e Justiça, o PSL vetou um nome do Novo, que já estava quase que pré-aprovado pelos líderes.>
Quem também vetou os nomes do Novo foram os líderes do Centrão. "Eles são mais governo que o próprio governo", afirmou o líder do PP, Arthur Lira (PP-AL). O deputado alagoano justificou que não poderia vir da legenda de Van Hattem uma indicação para comandar o processo de relatoria na comissão especial.>
À reportagem, Van Hattem rebateu as críticas de outros parlamentares. "Não quero criar intrigas, mas não abro mão de minhas convicções para assumir nenhum tipo de papel de destaque na Casa", disse o deputado. "Por mim, aprovava a reforma do jeito que está", completou. "Sou independente. Não sou e nem tenho a pretensão de ser líder do governo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.>
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