Publicado em 26 de setembro de 2019 às 20:04
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) afastou do cargo e abriu Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz Edmilson Rosindo Filho, titular do Juizado Especial Cível, Criminal e da Fazenda Pública de Barra de São Francisco.>
Após uma correição uma espécie de fiscalização realizada na Vara, em maio do ano passado, uma série de suspeitas foi descortinada, como registrou o corregedor-geral, Samuel Meira Brasil Jr., em seu voto. A decisão, unânime, do TJES pelo afastamento e investigação ocorreu na sessão da última quinta-feira.>
Entre os eventos destacados em apuração preliminar estão a atuação do magistrado em casos em que deveria se abster de desempenhar algum papel por ter alguma relação com as partes envolvidas 25 processos, ao todo. E decisões consideradas suspeitas enquanto ele substituía magistradas titulares de outras Varas. >
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Em uma das situações, o juiz, ainda em 2009, concedeu liminar (decisão provisória) garantindo pensão a um aposentado por invalidez pelo Estado que trabalhava normalmente como procurador municipal. A investigação apontou que o juiz era amigo íntimo do então prefeito da cidade. A decisão foi tomada durante a ausência de três dias da juíza titular da vara e depois foi cassada.>
Caso similar ocorreu num processo que, ao todo, dizia respeito a cerca de R$ 23 milhões, um inventário. O magistrado autorizou a venda de cabeças de gado, beneficiando uma das partes, na ausência da juíza titular.>
Já entre os casos em que quem acionou a Justiça tinha alguma relação com Edmilson Rosindo Filho, está um processo no Juizado Especial Cível o antigo pequenas causas envolvendo o chefe de secretaria do mesmo juízo, determinando o restabelecimento do serviço de internet pessoal dele e ainda autorizando a execução provisória de multa de R$ 575 mil. Há, portanto, sérias dúvidas quanto à atuação imparcial do magistrado no processo, em favorecimento à parte autora, seu chefe de secretaria, sem contar a suspeita em torno de altíssima multa cominada, escreveu o desembargador corregedor.>
E Edmilson Filho também não se deu por suspeito para atuar em um processo que envolvia outro juiz, de quem, de acordo com as investigações preliminares, é amigo.>
Outra suspeita é que o magistrado tenha favorecido um advogado que seria sócio informal do filho do magistrado, que também é advogado. Esse favorecimento pessoal ocorreu por meio de atendimento prioritário a seus processos, em detrimento de demandas de outros advogados e partes, além da sua atuação como advogado dativo em diversos processos, sem qualquer critério de ordem ou rodízio, ressaltou o corregedor. Dativo é um advogado apontado pelo juiz para atuar num caso quando o acusado não tem advogado e não há defensor público disponível.>
O Dr. Edmilson faz da sua atividade jurisdicional um mecanismo para favorecer determinadas partes em processo sob sua responsabilidade, atuando, assim, em verdadeiro desvio funcional, pontuou Samuel Meira Brasil Jr.>
ASSINATURA>
Até assinaturas do magistrado em suas próprias decisões foram contestadas. Por serem diferentes umas das outras, há dúvida se são do juiz mesmo.>
O corregedor ainda entendeu ser necessário o afastamento do magistrado das funções porque ele apresentou uma notícia-crime contra uma das pessoas que prestaram depoimento na investigação preliminar. Para o desembargador, está havendo intimidação das testemunhas.>
ADVOGADO DIZ QUE NÃO HÁ PROVA DE AMIZADE COM BENEFICIADOS>
O advogado do juiz Edmilson Rosindo Filho, Raphael Câmara, rebateu, em sustentação oral durante a sessão do Pleno do Tribunal de Justiça, alguns dos pontos relatados na investigação preliminar. Negou, por exemplo, que havia amizade íntima entre Edmilson Filho e o outro juiz que era parte em processo sob responsabilidade do colega e que desta amizade íntima surgiram decisões maculadas pela parcialidade. Ocorre que não há prova da amizade íntima entre os dois, declarou Câmara.>
Quanto ao advogado que teria sido beneficiado por ter relação com o filho do juiz, Câmara ressaltou que é verdade que ele foi nomeado como defensor dativo em alguns processos (e elencou quais, ressaltando que foram poucos). Não há relação de amizade ou de intimidade entre o magistrado e esse advogado.>
O magistrado juntou declarações de vários advogados da comarca reconhecendo o trabalho e a imparcialidade de sua excelência. Existem dois depoimentos de um mesmo advogado em contrário. Ele responde a ação de improbidade naquele município e isso pode ter gerado alguma ira em relação ao magistrado, complementou Raphael Câmara.>
Quanto às atuações consideradas suspeitas de Edmilson Filho enquanto estava à frente de varas em substituição a outras magistradas, o advogado disse à reportagem que o magistrado apenas divergia da juíza. A juíza entendia de um jeito e ele, de outro. E ele assumia a vara não porque queria, mas porque a juíza estava de licença ou abono.>
Já sobre as assinaturas divergentes, o advogado apresentou um laudo que atesta que o juiz passou por um problema de saúde, uma isquemia, que alterou a maneira de assinar.>
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