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Gleisi Hoffmann pediu ajuda ao Estado Islâmico para libertar Lula?

Gleisi Hoffmann pediu ajuda ao Estado Islâmico para libertar Lula?

A petista gravou vídeo para a rede de TV Al Jazeera em que chama o povo árabe para apoiar a liberdade de Lula. Ato foi criticado por opositores, que viram ameaça à segurança nacional.

Publicado em 19 de abril de 2018 às 16:58

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Um vídeo gravado pela presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), para a rede de TV Al Jazeera está causando polêmica nas redes sociais. Na mensagem, destinada aos países árabes, a petista afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “é um preso político”, relata manifestações contra a condenação do petista e convida “a todos e a todas para se juntarem nessa luta” para que Lula seja solto.

A Al Jazeera é a maior emissora de televisão jornalística do Catar e a mais importante rede de televisão do mundo árabe. Sediada em Doha, transmite em língua árabe e em inglês e foi fundada em 1996.

Para alguns, a mensagem da presidente do PT soou como uma “ameaça à segurança nacional”. Na sessão da última quarta-feira (18) no Senado, a senadora Ana Amélia (PP-RS) disse que o vídeo de Gleisi pode ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, que prevê sanção a quem "aliciar indivíduos de outra nação para que invadam o território brasileiro, seja qual for o motivo ou pretexto".

“Perderam o poder em 2016, o apoio popular na decretação da prisão de Lula e agora perdem a compostura ao atacar a imprensa, o Judiciário, e o Ministério Público! É possível que queiram o apoio do Exército Islâmico para livrar Lula da cadeia”, disse Ana Amélia. 

AFINAL, A SENADORA CONVOCOU O ESTADO ISLÂMICO?

Apesar da senadora petista não ter feito nenhuma menção ao grupo terrorista no vídeo, nas redes sociais viralizaram algumas mensagens que interpretaram que Gleisi teria “convocado terroristas do Estado Islâmico para salvar Lula”.

“Urgente! Gleisi Hoffmann convoca terroristas do Estado Islâmico para invadirem o Brasil e salvar Lula”, dizia uma publicação compartilhada. “Gleisi pede apoio aos povos (entenda-se aí, terroristas) do Oriente Médio - os muçulmanos do Hamas, Hezbollah e outros grupos terroristas”, foi escrito em outra postagem.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu um procedimento para avaliar pedidos de investigação sobre as declarações da senadora Gleisi Hoffmann. Segundo a PGR, trata-se da abertura de uma notícia de fato, um procedimento prévio dedicado a colher informações preliminares que servirão, em seguida, à decisão de instaurar ou não uma investigação sobre o vídeo de Gleisi. O órgão ressaltou ter recebido representações com o pedido de apuração, entre elas uma do deputado federal Major Olímpio (PSL-RJ).

Outras mensagens acusavam a senadora Ana Amélia de ter sido preconceituosa. A própria Gleisi Hoffmann, em pronunciamento no Senado, rebateu as críticas e apontou preconceito contra os árabes: "A entrevista que dei à rede Al Jazeera tem o mesmo conteúdo das entrevistas que dei à BBC, de Londres, à agência EFE, da Espanha, à TV SIC, de Portugal, à Agence France-Presse, da França. Absolutamente a mesma. Penso que o incômodo com essa entrevista, só posso reputar isso à ignorância, ao preconceito, à xenofobia contra o povo árabe. Aliás, mais do que isso, chega a ser má-fé".

O Gazeta Online convidou uma professora de Direito e um professor de História para analisar a polêmica.

 

O QUE DIZEM 

Para a professora de Direito e presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Brunela Vicenzi, as críticas contra a senadora foram “um pouco exageradas”. Ela destaca que existe preconceito contra muçulmanos, com muitos os associando a terroristas, e que as críticas direcionadas à petista podem acirrar ainda mais interpretações xenófobas.

“A primeira coisa a se considerar é que a senadora tem o direito de livre expressão de falar e que a Al Jazeera é uma rede de comunicação imensa, que não fala apenas para os árabes e nem é 'a TV do Estado Islâmico'. Acho que houve exagero nas críticas. A política externa do último mandato do governo Lula buscou estreitar laços com esses países e a senadora Gleisi tentou buscar esse contato novamente, com pessoas que lidaram diretamente com o ex-presidente. Nós, que trabalhamos em um projeto da Ufes com refugiados sírios, ouvimos os relatos dos preconceitos que o povo árabe sofre no país. Eles evitam usar suas roupas tradicionais e até deixar a barba crescer. Os políticos precisam tomar cuidado para não provocarem atos xenófobos com os discursos que defendem”, argumenta Brunela.

Para o doutor em História e mestre em relações internacionais Helvécio de Jesus Júnior, a mensagem de Gleisi foi desastrosa e dá margem para diversas interpretações.

“É um discurso perigoso, tanto que motivou uma análise do comitê de ética do Senado e até da própria Procuradoria Geral da República (PGR). É claro que existe uma parte dos muçulmanos que são moderados, temos diversos imigrantes no Brasil, de origem sírio-libanesa, mas é importante destacar que o Islã é uma religião política, não há separação entre a crença e a espada. Os profetas são políticos e creem na expansão territorial. Quando a senadora clama pela 'luta' ela dá margem para diversos tipos de interpretações. É uma fala desastrosa e está sendo criticada com razão. Ela incita ódio entre os povos”, analisa Helvécio.

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