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Filmes resgatam histórias e ajudam a entender a ditadura militar

Filmes resgatam histórias e ajudam a entender a ditadura militar

Neste 31 de março, listamos obras com histórias que não podem ser esquecidas

Publicado em 31 de março de 2019 às 00:19

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Quando a Globo exibiu a supersérie “Os Dias Eram Assim”, em 2017, os produtores foram pegos de surpresa – boa parte do público não entendeu o contexto da trama, que tinha seu início durante a ditadura militar, já após o AI-5, nos anos 1970. O canal precisou encomendar um capítulo que, feito às pressas, explicaria os acontecimentos da década anterior.

A série global talvez tenha sido o último produto pop a relembrar os duros acontecimentos da ditadura no Brasil, mas o cinema tem diversos exemplos.

Como durante a ditadura era difícil produzir obras que falavam sobre o período – afinal a censura era pesada –, foi só a partir da dos anos 1990 que esse tipo de filme passou a ser realizado com mais frequência.

"Lamarca" mostra a história da luta armada. (Reprodução)

Claro que existem exceções como “Manhã Cinzenta”, de Olney São Paulo, lançado no auge da repressão (leia mais abaixo) e “Pra Frente, Brasil”, de Roberto Farias, que se aproveitou do início da abertura, mas foi com a retomada do cinema brasileiro, que se reinventava após o desmantelamento da Embrafilme pelo governo Collor, que os filmes começaram a chegar ao circuito comercial.

“Lamarca” (1994), de Sérgio Rezende, puxou a fila. Embora “Carlota Joaquina – Princesa do Brasil” seja considerado o marco oficial da retomada, foi o filme do guerrilheiro vivido por Paulo Betti que devolveu ao brasileiro o orgulho do cinema nacional.

Confira no box abaixo 10 filmes que não só nos ajudam a entender o período da ditadura militar como também mostram que não há motivos para se comemorar o dia 31 de março.

"Zuzu Angel" acompanha a luta de uma mãe. (Reprodução)

10 FILMES PARA ENTENDER A DITADURA NO BRASIL

Manhã Cinzenta (1968)

Olney São Paulo

Enquanto Glauber Rocha usava alegorias para falar de política em obras como “Terra em Transe”, seu conterrâneo Olney São Paulo foi mais ousado. O baiano filmou protestos de rua e construiu seu “Manhã Cinzenta” com os registros. No filme, um casal é preso, interrogado e torturado. A ditadura, claro, tirou o filme de circulação. O mesmo aconteceu com Olney, morto após várias sessões de tortura em 1978.

Pra frente, Brasil (1982)

Roberto Farias

Roberto Farias falou sobre a repressão sem metáforas ou alegorias. Na trama, um pacato Jofre é confundido com um subversivo, preso e torturado. Ao mesmo tempo, o país comemora a vitória da Seleção na Copa do Mundo de 1970.

Eduardo Coutinho

Em 1964, Eduardo Coutinho rodava um filme sobre a morte de um lavrador, mas teve que interromper as filmagens após o golpe. Foi só em 1981, quando as imagens foram liberadas pelos militares, que Coutinho retomou seu filme. Uma aula de cinema e um documento que derruba qualquer “ameaça comunista” antes do golpe.

Lamarca (1994)

Sérgio Rezende

Carlos Lamarca foi um capitão do Exército que, durante a ditadura, abandonou as Forças Armadas para se juntar à luta armada contra o regime. Baseado no livro de Emiliano José e Miranda Oldack, o filme protagonizado por Paulo Betti resgata a história da luta armada no Brasil.

O que é isso, companheiro? (1997)

Bruno Barreto

Baseado no livro de Fernando Gabeira, o filme acompanha o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, pelos guerrilheiros do MR-8 e da Ação Libertadora Nacional. Foi indicado ao Oscar em 1998.

Zuzu Angel (2006)

Sérgio Rezende

O filme protagonizado por Patrícia Pillar conta a história real da estilista Zuzu Angel, cujo filho, Stuart Angel Jones, foi torturado e morto pelos militares por suas atividades “subversivas”. Sua busca pela verdade só terminou após o suspeito acidente que a vitimou em 1976.

O ano em que meus pais saíram de férias (2006)

Cao Hamburguer

Conhecido por seu trabalho em “Castelo Rá-Tim-Bum”, Cao Hamburguer mostra a ditadura militar pelo olhar do jovem Mauro, de 12 anos. Os pais do adolescente tiram férias misteriosas durante 1970 e ele acaba sendo cuidado por um velho solitário em uma comunidade judaica. Sensível, delicado e sutil, o filme não precisa ser panfletário ou explícito para falar das torturas e perseguições da época.

Batismo de Sangue (2006)

Helvécio Ratton

Inspirado no livro escrito por Frei Betto, “Batismo de Sangue” é um dos filmes mais duros sobre o período militar. A trama acompanha frades dominicanos que, movidos por seus ideais cristãos, ajudavam a Ação Libertadora Nacional, à época comandada por Carlos Marighella. Para encontrar o líder revolucionário, os militares prenderam e torturaram os frades.

Em Busca de Iara (2014)

Flávio Frederico

O documentário conta a história da psicóloga Iara Iavelberg, integrante do MR-8 e companheira de Carlos Lamarca. Utilizando-se de documentos, entrevistas e material de arquivo, o filme reúne provas de que Iara foi morta pelos militares e desmonta a narrativa de que teria cometido suicídio.

Pastor Cláudio (2017)

Beth Formaggini

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Hoje pastor evangélico, Cláudio Guerra foi um dos mais cruéis matadores do Estado durante a ditadura militar. No documentário, em entrevista única, ele fala sobre as pessoas que executou, sobre participação do governo em casos como a bomba do Riocentro e o acidente de Zuzu Angel, além de diversos outros crimes em nome do regime. O ex-delegado surpreende pela frieza com que conta as histórias e pelo orgulho que demonstra sentir de algumas delas. Atualmente em cartaz no Cine Metrópolis.

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