Publicado em 6 de março de 2018 às 20:51
O delegado federal Eugênio Coutinho Ricas foi exonerado nesta terça-feira (6) do cargo de diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal. Ex-secretário de Estado de Controle e Transparência (Secont), ele ocupava a função após ter sido escolhido por Fernando Segovia, que comandou a PF por 111 dias até ser substituído na semana passada pelo delegado Rogério Galloro no cargo de diretor-geral.>
Para o lugar de Ricas, Galloro escolheu o delegado Elzio Vicente da Silva, que até então era o superintendente da PF em Brasília. A exoneração foi publicada nesta terça-feira (6), no Diário Oficial da União (DOU), e assinada pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.>
Também foram exonerados Sandro Torres Avelar (Diretoria Executiva), Clyton Eustaquio Xavier (Gestão de Pessoal), Alfredo José de Souza Junqueira (Administração e Logística Policial) e Cláudio Ferreira Gomes (Inteligência Policial).>
Os novos diretores nomeados são: Silvana Helena Vieira Borges (Diretoria Executiva), Delano Cerqueira Bunn (Gestão de Pessoal), Fabricio Schommer Kerber (Administração e Logística Policial), e Umberto Ramos Rodrigues (Inteligência Policial).>
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A PF é comandada pelo diretor-geral, auxiliado por seis diretores e o corregedor-geral. Amaury Alan Martins de Souza Junior, nomeado durante a gestão Segovia, continua à frente da Diretoria Técnico-Científica desde novembro de 2017. Também não houve mudança na Corregedoria-Geral, cujo titular é Omar Gabriel Haj Mussi.>
DESTINO>
Eugênio Ricas ainda não definiu seu destino. O delegado tem convite do governador Paulo Hartung (PMDB) para voltar a integrar a equipe do governo do Estado. Há ainda a possibilidade de Ricas ser adido da PF nos Estados Unidos, segundo informação divulgada pela Coluna do Estadão.>
O delegado era o número dois da Polícia Federal na gestão Segovia e chefiava uma série de operações da PF pelo país, entre elas a Operação Lava Jato.>
Ricas e Segovia já haviam trabalhado juntos na Superintendência da PF no Maranhão, entre 2008 e 2011. No último dia 26 de fevereiro, em palestra no seminário "Diálogos sobre Integridade", promovido pela Rede Gazeta, Ricas voltou a chamar Segovia de "amigo" ao discorrer sobre as circunstâncias de sua própria indicação para o cargo de número 2 na hierarquia da PF.>
CRISE NA PF>
A demissão de Segovia foi decidida pelo ministro Raul Jungmann no último dia 27 de fevereiro, ao assumir o comando do Ministério Extraordinário da Segurança Pública, pasta que incorporou a Polícia Federal, então atrelada à estrutura do Ministério da Justiça.>
Durante os quatro meses em que permaneceu no cargo, Fernando Segovia protagonizou episódios polêmicos.>
Logo após tomar posse, Segovia declarou que "uma única mala" não seria suficiente para configurar a materialidade do crime, ao comentar o episódio em que Rodrigo Rocha Loures fora filmado carregando uma mala de dinheiro.>
No momento de maior crise, o delegado teve que se explicar ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, após uma entrevista polêmica à agência de notícias Reuters. Na ocasião, Segovia sugeriu que a tendência da Polícia Federal era recomendar o arquivamento do inquérito contra o presidente Michel Temer (PMDB), no caso do decreto dos portos. O então diretor-geral afirmou ainda que poderia abrir investigação interna para apurar a conduta do delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito.>
O motivo seriam os questionamentos enviados a Temer no caso. Na oportunidade, a defesa do presidente disse que as perguntas colocavam em dúvida a "honorabilidade e a dignidade pessoal" do presidente. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ameaçou pedir o afastamento de Segovia caso o delegado voltasse a se manifestar sobre inquéritos.>
Antes de ser demitido, Segovia recuou e reformulou uma regra interna para solicitação de reforço em grandes operações. No início do mês, o chefe da corporação havia criado uma normativa que previa a obrigatoriedade dos superintendentes regionais em registrar o número do inquérito ao solicitar reforço para deflagração de operações. O caso foi revelado pelo site O Antagonista.>
O recuo de Segovia foi mais um capítulo do momento de crise na relação entre a cúpula da PF e grupos de delegados. Desde que foi indicado por Temer, apadrinhado pelo PMDB, Segovia enfrentou resistência por parte de alguns delegados, em especial, dos que integram o grupo que atua em inquéritos perante o Supremo.>
Segovia deve virar adido da PF em Roma, na Itália. Há, contudo, um entrave à viagem do ex-diretor-geral. É que para ocupar o posto, o delegado não pode ter sido adido nos últimos três anos. Segovia era adido em Pretória, na África do Sul, até 2017.>
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