Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 09:14
A chegada de Sara Winter, 26, à Secretaria Nacional de Política para Mulheres engrossa o caldo antifeminista na pasta sob guarda de Damares Alves, ministra evangélica que virou ministra de Jair Bolsonaro.>
Fundadora do Femen Brasil, grupo famoso por protestar de topless, e depois convertida ao conservadorismo, Sara foi convidada pela ministra para coordenar políticas para a maternidade.>
Em entrevista à Folha de S.Paulo Damares disse que a ativista pró-vida vai ocupar um cargo de nível baixo [a categoria comissionada chamada de DAS 3, com salário de cerca de R$ 6.000] e "atuar no atendimento de mulheres em situação de risco".>
Sara topou e, para se confirmada no cargo, espera seu nome passar pelo escrutínio interno de praxe. "Já fiz tanta coisa errada na vida, vai que a Abin não aprova meu nome", brinca a ex-feminista arrependida.>
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A área em que trabalhará é integrada ao Ministério de Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por quem agora tem como "mãe adotiva" mas, no passado feminista que hoje lhe dá calafrio, era tida como "uma inimiga, uma aliada do sistema patriarcal e machista".>
Sara e Damares têm um tanto em comum, diz à reportagem a futura funcionária a serviço do governo Jair Bolsonaro, que concorreu à Câmara dos Deputados pelo DEM-RJ com 17,2 mil votos, não se elegeu.>
Veja só: católica, a jovem de São Carlos (SP) organizou em 2018 o 1º Congresso Antifeminista.>
O aborto foi tema central do encontro, que trazia bonequinhos de fetos na mesa do coffee break e reuniu 300 pessoas numa igreja carioca com o nome da avó de Jesus, SantAna.>
Uma das convidadas no seminário que discutiu temas como aborto foi Ana Caroline Campagnolo, autodefinida antimarxista, antifeminista e cristã e hoje deputada estadual pelo PSL catarinense.>
Ana Caroline virou xodó de conservadores ao processar a orientadora de mestrado, que desistiu de supervisionar seu projeto Virgindade e Família: A Mudança de Costumes e o Papel da Mulher Percebido Através da Análise de Discursos em Inquéritos Policiais da Comarca de Chapecó, e mais recentemente por incentivar que alunos denunciassem professores que vissem como doutrinadores ideológicos.>
Também Damares, para quem a mulher nasceu para ser mãe, é crítica ao feminismo. Sabe por que elas [as feministas] não gostam de homens? Porque são feias, e nós somos lindas, já disse numa pregação.>
Em sua primeira experiência no funcionalismo púbico, Sara ficará alocada na secretaria sob tutela de Tia Eron (PRB-BA), ex-deputada da bancada evangélica que chegou a Brasília com apoio da Igreja Universal e ficou conhecida porter dado o voto de Minerva que fez avançar no Conselho de Ética o pedido de cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).>
Mal seu nome começou a circular como possibilidade para o cargo, a ex-feminista virou alvo de críticas. Diziam que seu currículo não estava à altura do papel e que ela, inclusive, tentou turbiná-lo com uma fake news: ela já se apresentou como graduada em relações internacionais, mas tem o ensino superior incompleto, como consta na ficha do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de quando ela era candidata.>
À reportagem Sara diz que o curso, que ela faz na modalidade ensino à distância, será completado em meados deste ano. Mas, mais do que experiência acadêmica, tem a experiência de vida. Fui uma mulher que sofreu aborto, sei o que é isso. E tenho um filho, tive que parir.>
Ela é mão de Héctor, 3, e atribui ao referido aborto seu racha com o movimento feminista.>
Tinha 19 anos quando apareceu de peito de fora e beijando outra menina em capas de jornal Brasil afora, na posição de líder da célula nacional do Femen grupo ucraniano adepto do "sextremismo" (em oposição ao machismo) e famoso pelo uso de nudez em protestos.>
Diz ter se decepcionado com as colegas da causa progressista quando, grávida e desamparada pelo pai da criança na barriga, viu-se induzida a abortar. Arrependeu-se e virou autora de livros digitais como "Vadia, Não! Sete Vezes que Fui Traída pelo Feminismo".>
Foi aos 14 anos que Sara Fernanda Giromini virou Sara Winter. Na época meus pais não me deixavam usar meu nome de verdade no Orkut [antiga rede social], lembra.>
Ela conta que se identificava com as músicas da cantora Emilie Autumn, com um repertório de viés feminista que faria a Sara de 2019 corar, como Gothic Lolita (Lolita gótica).>
Autumn significa outono, e Winter, inverno.>
Mais ensolarada, para Sara, foi a temporada que passou hospedada na casa da pastora Damares, justo quando eu estava mudando de lado.>
Pedia a ela que me desse ordens, que me orientasse, afirma sobre a hoje ministra e à época assessora do então senador e também pastor Magno Malta (PR-ES). Sara conta que fez uma espécie de estágio informal no gabinete de Magno, auxiliando Damares.>
Um de seus afazeres como coordenadora na Esplanada, segundo Sara, será elaborar o Manual da Gestante, com orientações para as brasileiras grávidas. Nessa minha trajetória, acredito ter salvo mais ou menos uns 700 bebês do aborto.>
Em seu site, além de oferecer palestras, ela promove uma vaquinha para angariar R$ 5.000 por mês sob o mote salve bebês do aborto.>
Parece muito, mas eu conseguiria pagar todas as minhas contas mensais e, aos pouquinhos, quitar minhas dívidas do cartão de crédito, diz o texto.>
Além do mais, um dos meus sonhos é poder tirar carteira de motorista, assim eu poderia atender muito melhor as gestantes, poder levá-las para fazer exames na maternidade, entre outras coisas que necessitamos.>
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