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Ex-cunhada, que morou no ES, aponta envolvimento direto de Bolsonaro em "rachadinha"

Ex-cunhada, que morou no ES, aponta envolvimento direto de Bolsonaro em "rachadinha"

Gravações de Andrea Siqueira Valle indicam que Bolsonaro, enquanto era deputado federal, demitiu ex-cunhado por não entregar salário, de acordo com o Uol. A mulher morou em Guarapari, no litoral do Espírito Santo

Publicado em 5 de julho de 2021 às 11:03

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(Brasília-DF, 29/06/2021) Palavras do Presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR
Áudios mostram que Bolsonaro pode ter se envolvido em esquema de "rachadinha". (Isac Nóbrega/PR)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto exercia mandato de deputado federal, teria demitido um ex-servidor do gabinete por ele se recusar a entregar parte de seu salário no esquema conhecido como "rachadinha". As revelações foram realizadas pela fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do chefe do Executivo federal, em áudios publicados pela colunista Juliana Dal Piva, do Uol, nesta segunda-feira (5).

Andrea Siqueira Valle é irmã da segunda mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle. A fisiculturista chegou a morar em Guarapari, no Espírito Santo. Ela se mudou para a cidade capixaba no final de 2018, mas deixou o litoral do Estado em 2019, após ter seu nome envolvido em um suposto esquema de rachadinha no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), quando ele exercia o cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro.

Em um dos áudios, publicados pelo Uol, a ex-cunhada de Bolsonaro disse que "Jair" demitiu o irmão dela, André Siqueira Valle, porque ele não entregava a maior parte do salário de assessor ao então deputado federal.

Aspas de citação

O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'. Não sei o que deu pra ele

Andrea Siqueira Valle
Ex- cunhada de Jair Bolsonaro
Aspas de citação

"Não é pouca coisa que eu sei não, é muita coisa, que eu posso ferrar a vida do Flávio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida da Cristina, entendeu? É por isso que eles têm medo aí e manda eu ficar quietinha, não sei o que, tal. Entendeu? É esse negócio aí", afirma Andrea em outra gravação.

Este é o primeiro indício de envolvimento direto de Bolsonaro em esquema ilegal de entrega de salários dentro de seu próprio gabinete no período em que foi deputado federal. Ele ocupou o mandato de parlamentar na Câmara dos Deputados entre os anos de 1991 e 2018.

Andrea teria revelado em pelo menos duas ocasiões a pessoas próximas a ela o esquema de desvio de salários operado no gabinete de Bolsonaro, segundo a publicação. Um dos interlocutores que ouviu a ex-cunhada do presidente entregou, sob a condição de anonimato, gravações originais dela revelando o esquema. A coluna do Uol confirmou a autenticidade dos áudios.

André trabalhou no gabinete do então deputado entre novembro de 2006 a outubro de 2007. No período, o salário dele era de R$ 6.010,78. Apenas nos últimos 15 dias, em uma breve mudança de cargo antes de ser exonerado, passou a receber metade deste valor, cerca de R$ 3 mil. Antes, tinha trabalhado em dois momentos como assessor do filho Zero Dois do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos): de agosto de 2001 a fevereiro de 2005, e de fevereiro de 2006 a novembro do mesmo ano.

Andrea foi assessora de Bolsonaro na Câmara entre setembro de 1998 e novembro de 2006. Depois, trabalhou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (de novembro de 2006 a setembro de 2008) e de Flávio (de agosto de 2008 a agosto de 2018), período em que ele esteve na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Nas gravações, a fisiculturista diz ainda que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e denunciado pelo Ministério Público no esquema de "rachadinha" no gabinete do então deputado estadual na Alerj, não foi o único a recolher os salários dos funcionários do atual senador. Ela aponta que a maior parte do salário que recebia do gabinete do filho mais velho do presidente era recolhida pelo coronel da reserva do Exército Guilherme dos Santos Hudson.

O militar, tio de Andrea, André e Cristina, foi assessor do então deputado estadual entre junho e agosto de 2018.

"O tio Hudson também já até tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele", diz Andrea. "Na hora que eu tava aí fornencendo também, e ele também estava me ajudando, lógico, e eu também estava. Porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com R$ 7 mil. Então assim, certo ou errado, agora já foi. Não tem jeito de voltar atrás."

O QUE DIZ A DEFESA DOS ENVOLVIDOS

Procurado pela reportagem do UOL, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades, afirmou que existe uma antecipação da campanha eleitoral de 2022 e que se trata de uma "gravação clandestina à qual não tenho acesso, não conheço o conteúdo e não foi feita perícia".

O advogado alegou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes", que "jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos". 

Já os advogados que representam Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha emitiram nota afirmando que "gravações clandestinas, feitas sem autorização da Justiça e nas quais é impossível identificar os interlocutores não é um expediente compatível com democracias saudáveis".

O advogado que defende Ana Cristina Valle e sua família, além de Guilherme Hudson, informou que seus clientes decidiram não se pronunciar. 

Procurada para falar das gravações, Andrea leu as mensagens da coluna do Uol e depois bloqueou os contatos no telefone e nas redes sociais.

EX-CUNHADA VIVEU NO ES

Em 2019, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro quebrou o sigilo fiscal e bancário de parentes de Ana Cristina Valle que trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro. Entre eles estava Andrea Siqueira Valle.

De acordo com o jornal O Globo, Andrea constou como funcionária do gabinete do então deputado estadual por mais de uma década, mas só em 2017 obteve um crachá para entrar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A mudança dela para Guarapari ocorreu no fim de 2018, também conforme a publicação. Na época, a reportagem de A Gazeta mostrou que a mulher tinha uma rotina de exercícios físico na academia e na orla da Praia do Morro. Após a divulgação de que estava na cidade capixaba, a fisiculturista deixou o local que vivia em 2019

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