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Publicado em 1 de julho de 2021 às 17:32
Entidades da sociedade civil e integrantes de partidos de oposição apresentaram, na última quarta-feira (30), um "superpedido" de impeachment contra Jair Bolsonaro (sem partido). Com 271 páginas, o documento lista 23 crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente desde o início do governo. >
O requerimento conta com 46 assinaturas e reúne argumentos apresentados nos mais de 120 pedidos de impeachment – um recorde contra um presidente da República – que já foram protocolados na Câmara dos Deputados, mas que não saíram do papel. A responsabilidade de abrir um processo cabe ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).>
Além de crimes que violam a vida, atentam contra Poderes e buscam atrapalhar investigações, o texto cita as denúncias que envolvem o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em irregularidades no contrato da compra da vacina indiana Covaxin. >
O caso é investigado pelo Ministério Público Federal e foi revelado pelos irmãos Miranda à CPI da Covid no Senado. O pedido aponta indícios de omissão por parte de Bolsonaro. De acordo com os irmãos, ele foi comunicado sobre as irregularidades e nada fez.>
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A denúncia do empresário Luiz Paulo Dominguetti, que afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde, foi incluída como um pedido de investigação, mas não ainda como um suposto crime do presidente.>
Ao todo, 23 crimes são atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, divididos em sete categorias, ou artigos da Lei 1.079. Confira os principais pontos do "superpedido" de impeachment:>
Artigo 5º, inciso 3 - Cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade.>
O texto inclui as frequentes declarações do presidente em relação a outros países, entre eles a China, estimulando conflitos em meio à pandemia de Covid-19, quando demanda=se uma colaboração internacional.>
Artigo 6º, inciso 1 - Tentar dissolver o Congresso Nacional, impedir a reunião ou tentar impedir por qualquer modo o funcionamento de qualquer de suas Câmaras.>
Artigo 6º, inciso 7- Praticar contra os poderes estaduais ou municipais ato definido como crime neste artigo.>
Enquadram-se nesses crimes a participação e o incentivo do presidente às manifestações antidemocráticas que pediram o fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e a reedição do AI-5, instrumento da ditatura militar. Inclui-se também os constantes ataques feitos por Bolsonaro a ministros do STF.>
Nos protestos, Bolsonaro também desafiou a autonomia dos estados e de municípios e suas competências no combate à pandemia. >
Artigo 7º, inciso 5 - Servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder, ou tolerar que essas autoridades o pratiquem sem repressão sua.>
Caracterizam o crime a falta de repreensão às falas do general Augusto Heleno, que definiu como "chantagem" as prerrogativas do Poder Legislativo, além dos frequentes elogios à ditadura e a violação de direitos humanos. Nesse artigo também pode-se incluir a suposta omissão de Bolsonaro em relação a denúncias que envolvem irregularidades no contrato da Covaxin.>
Artigo 7º, inciso 8 - Provocar animosidade entre as classes armadas ou contra elas, ou delas contra as instituições civis.>
Aqui é citada a troca do comando do Ministério da Defesa e de todos os comandos das Forças Armadas, no fim de março deste ano. Associa-se a decisão a insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com a "falta de apoio" das Forças Armadas às bandeiras do governo. A mudança é vista como incitação dos militares à desobediência à lei ou infração à disciplina.>
Artigo 7º, inciso 9 - Violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141 e bem assim os direitos sociais assegurados no artigo 157 da Constituição.>
Um dos argumentos para atribuir esse crime a Bolsonaro é o comportamento do presidente na condução da pandemia, incentivando aglomerações, a imunidade de rebanho, o uso de medicamentos com ineficácia comprovada por órgãos de saúde, além da ausência de máscaras. >
A postura é apontada como fundamental para levar parte da população a não aderir a medidas sanitárias básicas e, com isso, contribuir para o aumento dos casos de contaminação.>
Artigo 8º, inciso 7 - Permitir, de forma expressa ou tácita, a infração de lei federal de ordem pública.>
Cita-se a tentativa de Bolsonaro de trocar o comando da Polícia Federal – denúncia que foi feita pelo ex-ministro Sergio Moro – para colocar alguém que pudesse repassar informações de investigações que envolviam os filhos do presidente. O texto aponta que houve uma clara tentativa de manipular informações.>
Artigo 8º, inciso 8 - Deixar de tomar, nos prazos fixados, as providências determinadas por lei ou tratado federal e necessário a sua execução e cumprimento.>
São citados aqui os inúmeros pronunciamentos do presidente que foram contra medidas sanitárias e orientações do Ministério da Saúde, em um momento que se procurava conter o avanço da pandemia de Covid-19.>
Artigo 9º, inciso 7- Proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo.>
O presidente violou, de acordo com os autores do pedido, o princípio da impessoalidade no exercício da administração pública ao usar o cargo para interesses pessoais. Isso se deu pela tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, com a troca de comando.>
Além disso, é citada a suposta omissão do presidente diante da denúncia de irregularidades no contrato da vacina indiana Covaxin.>
A respeito desse caso, o superpedido ainda solicita que Bolsonaro seja investigado pelo crime de prevaricação, previsto no Código Penal. A prevaricação se dá quando um funcionário público deixa de praticar um ato para satisfazer interesse pessoal.>
Artigo 11º, inciso 5 - Negligenciar a arrecadação das rendas, impostos e taxas, bem como a conservação do patrimônio nacional.>
O uso de recursos públicos para a compra e distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de Covid-19, como é o caso da hidroxicloroquina, é citado no texto como crime de negligência de renda. >
Segundo o texto, Bolsonaro absteve-se de executar um plano de comunicação que estimulasse o uso de máscaras e o distanciamento social, medidas cruciais para reduzir o contágio do vírus. E ainda gastou dinheiro público com coisas inúteis, como a cloroquina.>
Artigo 12º, inciso 2 - Recusar o cumprimento das decisões do Poder Judiciário no que depender do exercício das funções do Poder Executivo.>
Um dos argumentos usados para atribuir a Bolsonaro esse crime são as denúncias de omissão em de medidas de proteção aos povos indígenas e ao meio ambiente. O texto cita uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que em março de 2020, determinou que o governo federal adotasse medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas.>
Apesar de o documento já ter sido protocolado, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que não vai analisá-lo. Ele alegou que é preciso esperar que a CPI da Covid conclua os trabalhos e ironizou dizendo que a comissão faz "um belíssimo trabalho, bem imparcial". Lira faz parte do Centrão e foi eleito para a presidência da Casa com apoio e articulações de Bolsonaro.>
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