Publicado em 26 de setembro de 2019 às 21:59
Nesta quinta (26), o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para anular mais uma condenação no âmbito da Lava Jato. A medida, que confirma o entendimento da Segunda Turma, pode provocar um efeito cascata e invalidar outras condenações da operação, beneficiando inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O julgamento deve ser retomado na próxima quarta (2).>
Em agosto, a Segunda Turma do Supremo anulou a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, imposta pelo então juiz da Lava Jato Sergio Moro. Foi a primeira vez que o STF anulou uma sentença proferida pelo atual ministro da Justiça.>
A questão discutida é das alegações finais, fase final do processo em que as partes apresentam seus argumentos. Para a maioria dos ministros, em um processo com réus delatores e réus delatados, os delatados devem se defender por último, o que não aconteceu nos casos analisados.>
Veja perguntas e respostas para entender a questão.>
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O que o STF discutiu?>
Nesta quinta (26), o plenário do STF formou maioria para confirmar o entendimento da Segunda Turma de que, em um processo com réus delatores e delatados, os delatados têm o direito de falar por último - em termo técnico, devem oferecer suas alegações finais depois dos réus delatores.>
O caso julgado era o pedido de habeas corpus do ex-gerente de Empreendimentos da Petrobras Márcio de Almeida Ferreira, condenado por corrupção e lavagem. A condenação de Ferreira deve ser anulada.>
O que são as alegações finais?>
As alegações finais são a última etapa de uma ação penal antes da sentença que pode absolver ou condenar os réus. É a última oportunidade para as partes apresentarem seus argumentos.>
Qual foi a interpretação do STF?>
A maioria dos ministros entendeu que a figura do delator é diferenciada e não está na mesma condição processual do delatado. Para garantir o amplo direito à defesa, assegurado pela Constituição, os magistrados decidiram que o réu delatado pode apresentar suas alegações depois do réu delator tendo, assim, a oportunidade de se defender de todas as acusações.>
O julgamento foi interrompido pelo presidente da corte, Dias Toffoli, e deve ser retomado na próxima quarta (2).>
Qual havia sido o caso julgado na Segunda Turma?>
A Segunda Turma, que julga os casos da Lava Jato, decidiu anular, por 3 votos a 1, a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras. Foi a primeira vez que o STF anulou uma condenação imposta pelo ex-juiz Sergio Moro na Lava Jato.>
Os ministros concordaram com a tese da defesa de Bendine. Para os advogados, ele deveria ter apresentado suas alegações finais depois dos outros acusados, ex-executivos da Odebrecht que fecharam acordo de delação premiada, porque os réus delatores trouxeram acusações contra ele que não puderam ser rebatidas. Moro abriu prazo para todos os réus simultaneamente.>
Votaram nesse sentido os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. O relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, foi vencido.>
Há impacto direto sobre outras decisões da Lava Jato? Se não, como elas poderiam ser afetadas?>
No momento o efeito de anulação se restringe ao caso concretamente analisado. No entanto, o entendimento firmado pode levar as defesas de outros condenados a também requererem a anulação das suas sentenças. Cada caso deve ser analisado individualmente.>
Na próxima sessão, marcada para a quarta (2), os ministros devem discutir o alcance da decisão: se valeria para todos os processos em que o réu delatado não teve direito a falar por último ou só para aqueles em que a defesa fez esse pedido já no julgamento em primeira instância.>
O argumento em prol dessa segunda possibilidade é que, se a defesa não fez o pedido de imediato, entendeu que o réu não foi prejudicado, não havendo motivo para a anulação. A ministra Cármen Lúcia, por exemplo, defende essa tese. Por isso, votou contra a anulação da sentença de Ferreira, mas a favor de que o réu delatado possa entregar as alegações finais por último.>
Bendine e Ferreira foram inocentados pelo STF?>
Não. O que a decisão do STF provoca é a anulação da sentença. O processo em si não foi é extinto, e os dois podem vir a ser condenados novamente.>
O que ocorre a partir de agora?>
Finalizado o julgamento, ação penal deve voltar para a primeira instância da Justiça Federal em Curitiba para que se refaça o processo dando a oportunidade de a defesa apresentar alegações finais depois dos delatores.>
Os procuradores da Lava Jato receiam que, caso haja outras anulações, alguns crimes possam prescrever enquanto se refaz o processo.>
Qual a justificativa de Moro na época para negar à defesa de Bendine o direito de se manifestar depois?>
Quando a defesa de Bendine pediu a Moro para apresentar as alegações depois dos delatores, o então juiz afirmou que "a lei estabelece prazo comum para a apresentação de alegações finais ainda que as defesas não sejam convergentes e não cabe à Justiça estabelecer hierarquia entre acusados, todos com igual proteção da lei".>
O que disse a Lava Jato?>
Os procuradores de Curitiba afirmaram, após a decisão da Segunda Turma, que a legislação não prevê essa diferenciação entre réus delatores e não delatores e não estipula que uns tenham que ser ouvidos antes dos outros.>
A Lava Jato também afirmou que a decisão da Segunda Turma pode resultar na anulação de várias condenações já proferidas no âmbito da operação.>
O que diz a lei?>
O artigo 11 da lei 8.038 afirma que "serão intimadas a acusação e a defesa para, sucessivamente, apresentarem, no prazo de quinze dias, alegações escritas". Ou seja, a acusação apresenta suas alegações e, depois, a defesa apresenta as suas.>
Que casos seguiram esse mesmo roteiro? Além da Lava Jato, outras operações têm usado o procedimento que gerou a anulação da condenação de Bendine e de Ferreira?>
Como não havia entendimento anterior sobre a ordem das alegações finais de réus delatores e não delatores, procuradores calculam que boa parte dos processos que usaram colaboração premiada tenham seguido os mesmos ritos do de Bendine.>
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, já disse que a ação penal sobre o sítio de Atibaia (SP), na qual o petista foi condenado em primeira instância, seguiu esse roteiro e pediu a anulação da sentença.>
O ministro Fachin determinou que uma ação penal a que o ex-presidente responde em Curitiba, sob acusação de receber da Odebrecht um terreno para o Instituto Lula, volte para a fase das alegações finais. O caso já estava pronto para julgamento.>
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