Publicado em 24 de agosto de 2019 às 23:25
Apesar de formarem 51% da sociedade capixaba, as mulheres vêm tendo condições mínimas de influenciar as leis e as políticas públicas do Espírito Santo. Nos últimos 20 anos, elas só foram eleitas para 8,5% das vagas disputadas por meio do voto no Estado. Em outras palavras, foram destinadas às mulheres apenas 8 de cada 100 cadeiras nas Câmaras municipais, prefeituras, Assembleia Legislativa, governo do Estado, Câmara federal e Senado. Todas as demais ficaram com eles.>
A constatação está em estudo realizado pelo G.Dados o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta a partir das informações que os candidatos entregam à Justiça Eleitoral quando registram as candidaturas.>
O levantamento restringiu-se aos resultados de pessoas que em algum momento se inscreveram para concorrer a cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador.>
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Foram consideradas todas as 11 eleições regulares realizadas de 1998 a 2018 e também os pleitos suplementares aqueles convocados pela Justiça Eleitoral, por exemplo, quando são descobertas irregularidades dos candidatos mais votados.>
É fato que elas são, tradicionalmente, menos imiscuídas em assuntos políticos. Mas, definitivamente, não é por candidatarem-se em quantidade menor do que os homens que elas vencem menos eleições.>
De todas as mulheres que se inscreveram em eleições no período analisado, apenas 3,5% delas foram eleitas ou reeleitas.>
Transpondo o mesmo recorte para os candidatos homens nota-se que as chances deles têm sido mais favoráveis: 11,5% dos concorrentes masculinos conseguiram a eleição ou a reeleição.>
O levantamento revela que somente a partir de 2012 o total de candidatas em disputa chegou a um terço dos inscritos, embora a cota de gênero para candidaturas de deputados e vereadores exista desde 1997.>
Começou estipulando 20% do total de candidaturas, passou para 25% e chegou a 30% em 1998. Até então, a reserva de vagas era facultativa.>
O cenário começou a mudar em 2009, quando uma lei alterou a opção da reserva para a obrigação de preenchimento. Para que fossem lançados três candidatos, seria necessária uma candidatura feminina.>
RETRATO>
No Estado, elas foram 17% da massa de candidatos em 2000. Só 12 anos depois venceram a barreira dos 30% na disputa.>
A partir daí, começaram a participar efetivamente da política capixaba, certo? Erradíssimo. Nas eleições municipais de 2000, 79 mulheres foram eleitas no Estado, o que correspondeu a 7,4% do total de eleitos.>
Na última disputa de vereadores e prefeitos, em 2016, 83 candidatas ficaram com 8,9% das vagas. A parcela segue longe dos 30%.>
Nas disputas estaduais, a realidade não varia. Elas passaram a se candidatar mais, mas continuam sem ganhar. Foram sete as eleitas em 2018 contra 37 eleitos. O retrato é exatamente o mesmo registrado no longínquo ano de 2002.>
Há farta evidência de que o resultado pífio das mulheres está diretamente ligado a uma lógica tradicional de preenchimento de espaços de poder. Em geral, são homens que controlam partidos e têm tempo e estrutura para se dedicarem à política.>
Também sobram indícios de uso de mulheres meramente para preenchimento formal da cota de gênero, sem qualquer esforço ou interesse para que elas disputem em condição de igualdade.>
No período analisado para este levantamento, a mulher que mais venceu eleições foi Neuzinha Oliveira (PSDB), vereadora de Vitória. Foram cinco.>
"Para participar dos movimentos tem que ter tempo, tem que se atualizar, tem que participar em casa. É uma cobrança muito maior", disse.>
Já a vereadora da Serra, Cleusa Paixão (PMN) está no primeiro mandato. Entre renúncias, derrotas e a vitória de 2016, registrou-se para oito eleições entre 1998 e 2018. Ela vendeu picolé, viveu o drama da violência doméstica e criou sete filhos sozinha.>
"As mulheres precisam acreditar um pouco mais nelas. Na última eleição, o presidente do partido falava que os outros candidatos não deviam ter medo de uma mulher que só tinha um tamanco. Eu não deixava me abater", disse.>
Em 20 anos, elas são 17 parlamentares>
Ocupar uma cadeira no plenário ou em um gabinete de prefeitura é algo muito mais improvável quando se é mulher no Espírito Santo. Nos últimos 20 anos, em eleições para Assembleia, Câmara dos Deputados e Senado, somente 17 tiveram o sabor de comemorar o fechamento das urnas e se tornar parlamentar juntas, elas somam 35 mandatos. A quantidade de mulheres nas bancadas estadual ou federal nunca passou de quatro por legislatura.>
Nos municípios não é diferente. De 1998 até agora, só 17 mulheres foram prefeitas. Houve ainda 258 eleitas vereadoras nas 78 cidades do Estado.>
No mesmo período, 2.846 homens foram diplomados para os cargos de deputados estaduais, federais, senadores, prefeitos e vereadores.>
ANÁLISE>
Ao analisar as vitoriosas de cada eleição, também observa-se que os nomes geralmente se repetem, o que significa que um grupo pequeno consegue viver da política. Algumas levadas ao jogo por maridos ou companheiros.>
Vencedora de sete eleições, a senadora Rose de Freitas (Podemos) avalia que o estímulo para a mulher ingressar na política ainda é muito pequeno, o que as afasta desse universo. Quando ganhou o primeiro pleito, para deputada estadual, em 1982, Rose foi a primeira mulher do Brasil a dar à luz após eleita, mas na época não havia licença-maternidade.>
"Tive que tomar posse um dia depois do nascimento da minha filha. Eu levava ela para a Assembleia, amamentava na sala do presidente. Foi difícil, mas foi importante para dar visibilidade à causa", conta.>
Para Rose, apesar das cotas femininas, as dificuldades persistem. "Há discriminação dentro dos partidos e também na sociedade na hora de pedir votos.">
A ex-deputada Brice Bragatto (PSOL) acrescenta que há o aspecto cultural. "As mulheres têm menos disposição de se candidatarem porque elas não foram criadas nem formadas para isso", avalia.>
AS PARLAMENTARES ELEITAS DE 1998-2018>
Rose de Freitas>
Rita Camata>
Fátima Couzi>
Mariazinha Vellozo Lucas>
Iriny Lopes>
Brice Bragatto>
Sueli Vidigal>
Lauriete Rodrigues>
Aparecida Denadai>
Luzia Toledo>
Solange Lube>
Lúcia Dornellas>
Janete de Sá>
Norma Ayub>
Eliana Dadalto>
Raquel Lessa>
Soraya Manato >
Veja a série "Retratos das urnas" completa>
Entenda: o que é o G.Dados? >
É o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, que tem como objetivo qualificar e ampliar a produção de reportagens baseadas em dados na Redação Multimídia. O jornalismo de dados é o processo de descobrimento, coleta, análise, filtragem e combinação de dados com a intenção de construir histórias. É mais uma ferramenta para reforçar e embasar a produção de notícias.>
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