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Em 20 anos, apenas 17 mulheres se elegeram no ES

Em 20 anos, apenas 17 mulheres se elegeram no ES

Levantamento do Gazeta Online analisa dados do TSE de todas as eleições, nos últimos 20 anos

Publicado em 24 de agosto de 2019 às 23:06

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Apesar de formarem 51% da sociedade capixaba, as mulheres vêm tendo condições mínimas de influenciar as leis e as políticas públicas do Espírito Santo. Nos últimos 20 anos, elas só foram eleitas para 8,5% das vagas disputadas por meio do voto no Estado. Em outras palavras, foram destinadas às mulheres apenas 8 de cada 100 cadeiras nas Câmaras municipais, prefeituras, Assembleia Legislativa, governo do Estado, Câmara federal e Senado. Todas as demais ficaram com eles.

As mulheres do plenário. Juntas, todas elas somam 35 mandatos - apenas no período entre 1998 e 2000 - na Assembleia, Câmara e Senado. (Divulgação TSE e arquivos pessoais)

A constatação está em estudo realizado pelo G.Dados – o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta – a partir das informações que os candidatos entregam à Justiça Eleitoral quando registram as candidaturas.

O levantamento restringiu-se aos resultados de pessoas que em algum momento se inscreveram para concorrer a cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador.

Foram consideradas todas as 11 eleições regulares realizadas de 1998 a 2018 e também os pleitos suplementares – aqueles convocados pela Justiça Eleitoral, por exemplo, quando são descobertas irregularidades dos candidatos mais votados.

É fato que elas são, tradicionalmente, menos imiscuídas em assuntos políticos. Mas, definitivamente, não é por candidatarem-se em quantidade menor do que os homens que elas vencem menos eleições.

De todas as mulheres que se inscreveram em eleições no período analisado, apenas 3,5% delas foram eleitas ou reeleitas.

Transpondo o mesmo recorte para os candidatos homens nota-se que as chances deles têm sido mais favoráveis: 11,5% dos concorrentes masculinos conseguiram a eleição ou a reeleição.

O levantamento revela que somente a partir de 2012 o total de candidatas em disputa chegou a um terço dos inscritos, embora a cota de gênero para candidaturas de deputados e vereadores exista desde 1997.

Começou estipulando 20% do total de candidaturas, passou para 25% e chegou a 30% em 1998. Até então, a reserva de vagas era facultativa.

O cenário começou a mudar em 2009, quando uma lei alterou a opção da reserva para a obrigação de preenchimento. Para que fossem lançados três candidatos, seria necessária uma candidatura feminina.

RETRATO

No Estado, elas foram 17% da massa de candidatos em 2000. Só 12 anos depois venceram a barreira dos 30% na disputa.

A partir daí, começaram a participar efetivamente da política capixaba, certo? Erradíssimo. Nas eleições municipais de 2000, 79 mulheres foram eleitas no Estado, o que correspondeu a 7,4% do total de eleitos.

Na última disputa de vereadores e prefeitos, em 2016, 83 candidatas ficaram com 8,9% das vagas. A parcela segue longe dos 30%.

Nas disputas estaduais, a realidade não varia. Elas passaram a se candidatar mais, mas continuam sem ganhar. Foram sete as eleitas em 2018 contra 37 eleitos. O retrato é exatamente o mesmo registrado no longínquo ano de 2002.

Há farta evidência de que o resultado pífio das mulheres está diretamente ligado a uma lógica tradicional de preenchimento de espaços de poder. Em geral, são homens que controlam partidos e têm tempo e estrutura para se dedicarem à política.

Também sobram indícios de uso de mulheres meramente para preenchimento formal da cota de gênero, sem qualquer esforço ou interesse para que elas disputem em condição de igualdade.

No período analisado para este levantamento, a mulher que mais venceu eleições foi Neuzinha Oliveira (PSDB), vereadora de Vitória. Foram cinco.

"Para participar dos movimentos tem que ter tempo, tem que se atualizar, tem que participar em casa. É uma cobrança muito maior", disse.

Já a vereadora da Serra, Cleusa Paixão (PMN) está no primeiro mandato. Entre renúncias, derrotas e a vitória de 2016, registrou-se para oito eleições entre 1998 e 2018. Ela vendeu picolé, viveu o drama da violência doméstica e criou sete filhos sozinha.

"As mulheres precisam acreditar um pouco mais nelas. Na última eleição, o presidente do partido falava que os outros candidatos não deviam ter medo de uma mulher que só tinha um tamanco. Eu não deixava me abater", disse.

Em 20 anos, elas são 17 parlamentares

Ocupar uma cadeira no plenário ou em um gabinete de prefeitura é algo muito mais improvável quando se é mulher no Espírito Santo. Nos últimos 20 anos, em eleições para Assembleia, Câmara dos Deputados e Senado, somente 17 tiveram o sabor de comemorar o fechamento das urnas e se tornar parlamentar – juntas, elas somam 35 mandatos. A quantidade de mulheres nas bancadas estadual ou federal nunca passou de quatro por legislatura.

Nos municípios não é diferente. De 1998 até agora, só 17 mulheres foram prefeitas. Houve ainda 258 eleitas vereadoras nas 78 cidades do Estado.

No mesmo período, 2.846 homens foram diplomados para os cargos de deputados estaduais, federais, senadores, prefeitos e vereadores.

ANÁLISE

Ao analisar as vitoriosas de cada eleição, também observa-se que os nomes geralmente se repetem, o que significa que um grupo pequeno consegue viver da política. Algumas levadas ao jogo por maridos ou companheiros.

Vencedora de sete eleições, a senadora Rose de Freitas (Podemos) avalia que o estímulo para a mulher ingressar na política ainda é muito pequeno, o que as afasta desse universo. Quando ganhou o primeiro pleito, para deputada estadual, em 1982, Rose foi a primeira mulher do Brasil a dar à luz após eleita, mas na época não havia licença-maternidade.

"Tive que tomar posse um dia depois do nascimento da minha filha. Eu levava ela para a Assembleia, amamentava na sala do presidente. Foi difícil, mas foi importante para dar visibilidade à causa", conta.

Para Rose, apesar das cotas femininas, as dificuldades persistem. "Há discriminação dentro dos partidos e também na sociedade na hora de pedir votos."

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A ex-deputada Brice Bragatto (PSOL) acrescenta que há o aspecto cultural. "As mulheres têm menos disposição de se candidatarem porque elas não foram criadas nem formadas para isso", avalia.

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