Publicado em 16 de setembro de 2019 às 21:48
Com a estreia da regra da cláusula de desempenho após as eleições de 2018, que deixou 14 siglas barradas e sem acesso aos recursos do fundo partidário, os deputados estaduais Lorenzo Pazolini, Dary Pagung e Euclério Sampaio saíram de suas legendas no início deste ano, e, até o momento, seguiam sem partido.>
Pazolini e Dary eram do PRP, que foi fundido com o Patriota, enquanto Euclério foi eleito pelo DC, o antigo PSDC, que continua ativo de forma independente, apesar de barrado pela cláusula.>
Os três deputados anunciaram a desfiliação nos primeiros dias do mês de março, e, até o momento, têm atuado na Assembleia Legislativa em uma espécie de "bancada dos avulsos".>
Nesta terça-feira (18), Dary anunciou sua filiação ao PSB, partido do governador Renato Casagrande. Euclério afirma que pretende decidir o futuro partidário até o recesso parlamentar de julho, enquanto Pazolini permanece sem legenda e sem previsão de escolher uma.>
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O delegado argumenta que não considera que haja prejuízos para seu mandato por ficar desvinculado de um partido, e admite, inclusive, poder permanecer desta forma até a época do prazo estabelecido pela lei eleitoral.>
Pazolini se filiou ao PRP no último dia do prazo, e diz ter ido para a sigla por ter a garantia de que teria total liberdade para se posicionar. Ele é, inclusive, um dos defensores da possibilidade de haver candidaturas avulsas.>
"Em países com o sistema político mais avançado existe, e não vejo nenhum prejuízo. É importante o parlamentar ter liberdade. Hoje, se um partido fecha questão em alguma votação, se o deputado divergir, pode ser punido por infidelidade partidária", pontua.>
Na mesma linha, o deputado Euclério Sampaio utiliza como critério de escolha de seu novo destino partidário uma sigla que lhe dê independência para atuar, e não propriamente um conteúdo programático específico.>
"Eu nunca me preocupei com linha ideológica do partido, o que importa é o trabalho do parlamentar. Não atrapalha meu mandato estar avulso. Meu mandato é de acordo com a minha consciência. Independente de partido, sou de grupo, e hoje estou na base aliada", afirmou ele, que já foi do PTB e PDT, e agora negocia com PSB, MDB e Pros.>
Nos trabalhos da Assembleia, a falta de um partido não representou propriamente um problema para os três deputados, já que para a composição das comissões permanentes, por exemplo, foi composto um blocão parlamentar formado por quase todos eles.>
No entanto, em regra a proporcionalidade partidária precisa ser respeitada nesta formação.>
DEFINIÇÃO>
O deputado Dary Pagung, que deixou o PRP após 15 anos para migrar para o PSB, e que inclusive presidia a sigla, disse ter utilizado mais de três meses para decidir seu destino, pois precisava do aval de seus aliados para tomar a decisão.>
"Recebi o convite do governador, e aceitei pois é um partido estruturado, e vou fortalecê-lo na minha região, de Baixo Guandu. Levei em consideração o programa partidário, tenho afinidade com as ideias", afirma.>
Na análise do cientista político Fernando Pignaton, práticas como esta, de um político se manter desfiliado indefinidamente, podem atrapalhar a governabilidade.>
"Isso demonstra um empreendedorismo político, em que cada deputado quer agir sozinho. Isso atrapalha nas tomadas de decisão e nas negociações. Os partidos são instrumentos para agregar interesses valores, formar correntes", aponta.>
Projeto limita prazo para parlamentar ficar sem legenda>
Uma iniciativa para impedir que parlamentares fiquem por tempo indefinido sem partido está em discussão no Senado.>
A senadora Rose de Freitas (Podemos) apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), para estabelecer que deputados e senadores ficarão proibidos de permanecer mais de 90 dias sem filiação partidária, a partir da posse, sob pena de perda do mandato.>
A matéria está tramitando na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).>
No projeto, Rose defende que a Constituição estabelece que a filiação partidária é condição obrigatória e necessária para que o cidadão brasileiro possa concorrer e ser eleito. Portanto, o exercício do cargo eletivo também requer a filiação partidária, para estar em conformidade com o sistema.>
Além disso, os blocos partidários são o sentido da regra que exige que, na formação das mesas e das comissões, seja assegurada a representação proporcional dos partidos ou blocos parlamentares.>
"Permitir que o parlamentar fique indefinidamente sem filiação partidária é fraudar a Constituição Federal, já que ela não admite a candidatura avulsa também não permite o deputado avulso", afirmou Rose, na justificativa de sua proposta.>
ENTENDA>
O que diz a lei?>
Para concorrer a cargo eletivo, o candidato deve estar filiado ao partido no mínimo 6 meses antes da data fixada para as eleições. Excetuando isso, não há nenhum impedimento para que um candidato eleito permaneça sem filiação partidária. >
Cláusula de barreira>
Nas eleições de 2018, os 35 partidos ativos do país precisaram obter, nas eleições para deputado federal, 1,5% dos votos válidos, distribuídos em um terço dos Estados, com 1% dos votos válidos em cada um deles; ou ter eleito 9 deputados, distribuídos em um terço dos Estados. Somente aqueles que alcançassem esse resultado continuariam a ter acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e TV.>
Resultado>
Nas eleições, 14 partidos não atingiram a cláusula. Foram eles: Rede, Patriota, PHS, DC, PCdoB, PCB, PCO, PMB, PMN, PPL, PRP, PRTB, PSTU e PTC. Alguns desses partidos optaram por fusões com legendas maiores para se manter. Muitos políticos que foram eleitos por essas siglas optaram por deixá-las, para migrando para outros partidos.>
Por que estar em um partido?>
No Legislativo, algumas questões são definidas de acordo com a bancada. O comando das comissões, por exemplo, é distribuído entre os partidos pelo critério do tamanho das bancadas de cada legenda ou do bloco partidário, a chamada proporcionalidade partidária. Se o parlamentar fica sem partido, pode alterar o cálculo desta proporção.>
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