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Corretor de imóveis do ES quer ser presidente do Brasil

Corretor de imóveis do ES quer ser presidente do Brasil

Em placas escritas à mão espalhadas por bairros do município, Hermes Lemos divulga suas pretensões eleitorais, trechos da bíblia e frases contra a corrupção

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 22:35

Hermes Lemos, o corretor de imóveis de Cariacica que quer ser presidente Crédito: Rafael Silva

A letra miúda escrita com caneta esferográfica enche o pequeno caderno de capa dura. É lá que estão as propostas de governo de um ex-motorista de ônibus e corretor de imóveis, morador de São Geraldo, em Cariacica, que quer ser candidato a presidente em 2018. Aos 66 anos, Hermes Lemos se coloca como adversário do ex-presidente Lula (PT) e do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na disputa pelo cargo mais importante do país.

O presidenciável espalhou diversas placas pelos bairros de São Geraldo, Boa Sorte, Maracanã, Bela Aurora e Rio Marinho, todos em Cariacica, se lançando para o eleitorado. Elas são todas escritas à mão, por ele mesmo, em pedaços de plástico e madeira que recolhe no lixo. A identidade visual é inconfundível e lembra as pinturas do Profeta Gentileza, uma personalidade carioca que ficou famosa na década de 90 ao pintar a frase "gentileza gera gentileza" em vários pontos do Rio de Janeiro.

"Se for vontade de Deus e da população, Hermes Lemos presidente 2018", diz um de seus materiais de campanha. Outras mensagens são trechos retirados da bíblia e frases contra a corrupção, que foi um dos fatores que o motivou a buscar se candidatar presidente.

"Corruptômetro. A nação padece há 30 anos com esta epidemia (governo corrupto) vamos eliminalos (sic) no voto consciente", escreveu em uma das placas. Anúncios da venda dos lotes que agencia – "Lindas chácaras em Viana" – também se misturam nos murais urbanos que cria.

Construído ao lado de sua casa, seu local de trabalho é tomado pelos cinco mil livros que diz ter. As paredes, ainda em reboco, trazem frases bíblicas, calendários e santinhos do próprio Hermes de eleições anteriores. Ele afirma ser autodidata, mas já se formou em Teologia e cursou até o terceiro período de Direito. Do lado de fora, na calçada, uma mesa e uma cadeira de madeira lhe servem de ateliê, que usa para pintar as placas que deixa pelo município.

"Tem gente que acha que é brincadeira, mas não é. O Lula era torneiro mecânico, tentou várias vezes e foi eleito presidente. Abraham Lincoln perdeu todas as eleições que disputou antes de se eleger presidente dos EUA. Sou brasileiro, oras, por que não posso tentar?", questiona Hermes, em seu escritório.

Apesar de nunca ter sido eleito, Hermes tem experiência na política. Foi candidato em todas as eleições, de 2004 a 2014, buscando uma vaga como vereador ou deputado estadual. Na sua votação mais expressiva, em 2014, alcançou apenas 327 votos. Ele se identifica como alguém populista, "sou como o Lula, se eu for andar na rua vai ter uns dez que vão me parar para conversar comigo", garante.

A religião é um dos pilares de seu eventual futuro governo, admite, mas nega ser fanático. "Não sou radical como o Bolsonaro", diz. Membro da Igreja Batista El Shaday, ele conta que teve muitos votos dos fiéis de sua congregação. "A bíblia nos trouxe algumas normas de convivência que devem ser seguidas, mas não limito minha leitura somente a ela, apesar de tê-la sempre junto comigo", pondera.

Hermes também facilita a venda de imóveis de outras pessoas. Sua renda chega a R$ 2,5 mil em meses de bons negócios, que diz ser suficiente para manter as contas de sua casa, onde mora com a esposa. Para ampliar a margem de lucro, ele busca os terrenos mais afastados dos grandes centros da Grande Vitória. "Na zona rural todo mundo me conhece. A mensagem política que coloco com os anúncios chama a atenção. As pessoas vêm me cobrar também, querem que eu mantenha o que escrevo caso seja eleito", recorda.

Em seu caderno de propostas, estão as reformas tributária e política. "Não acho que o pobre tem que pagar o mesmo preço de um produto que um rico. O custo impacta muito mais quem tem menos dinheiro, não acho isso certo", avalia. Ele promete acabar com mordomias no Executivo e facilitar o registro de candidaturas. "Poxa, político tá aí ganhando R$ 30 mil, andando de avião e ainda tem a careta de vir roubar?", questiona.

COMUNICAÇÃO

Outra ferramenta de comunicação do presidenciável é o megafone. "Se eu vejo um esgoto jorrando no meio da rua, eu pego o megafone e começo a discursar até alguém vir consertar. Rapidinho, a prefeitura aparece", frisa. O item é tão marcante em Hermes, que em eleições passadas chegou a posar para os santinhos com o megafone a tiracolo.

Veterano de muitos pleitos, Hermes despista para não ser multado por propaganda antecipada. "Não coloco que sou candidato, até porque isso depende da vontade do partido. Mas que se quiserem, meu nome está a disposição", conta.

Ex-filiado de PSDB, PP, PMN, PSL e PFL, Hermes é filiado ao Avante (antigo PTdoB) e ainda precisa convencer seus colegas de partido a aceitar sua candidatura à Presidência este ano. Ele já foi diretor na Associação de Moradores de São Geraldo, onde mora, e trabalhou como motorista na Prefeitura de Vitória, mas nunca foi escolhido para cargo público de comando.

Ciente da dificuldade de levar seu nome a frente no pleito presidencial, ele reclama do corporativismo na política, que acaba "podando" quem quer disputar cargos mais altos.

"Hoje os presidentes dos partidos é que controlam quem vai ser candidato ou não. Eu concordo que quem queira se candidatar tenha que estar filiado, mas as pessoas deveriam poder escolher qual cargo querem disputar. Não se tem liberdade. Eu posso ir no cartório e registrar meu filho, meu terreno, ir no Detran registrar meu carro, por que eu não posso ir na Justiça e dizer que quero registrar minha candidatura?", pontua.

O QUE PENSA DE OUTROS PRESIDENCIÁVEIS

LULA

"Não sei se ele vai conseguir ser candidato. A Justiça age com sabedoria, se ela o condenar ele não consegue disputar. Não sei se ele seria um bom candidato, acho que não. Mas ele tem o lado bom de ser humanitário. Ele é o cara que mais atende a pobreza, entre os outros nomes que estão colocados."

BOLSONARO

"Eu não fui do Exército, como ele. Respeito ele como militar, mas acho Bolsonaro muito radical. Não quero entrar no mérito de seu caráter e nem na forma como trabalha, mas acho que não seria um bom presidente. Eu deixaria o nome dele de lado."

TEMER

"O presidente Temer tem uma capacidade grande, estudou em faculdades de São Paulo e demonstra ter uma bagagem de estudo ampla, mas para presidente eu acho que ele vai muito mal."

TESTE PARA CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Questionamos o corretor de imóveis com perguntas feitas para candidatos à Presidência nas eleições de 2014. Assim como em debates eleitorais, demos um minuto para que ele respondesse a questões sobre áreas específicas e demonstrasse suas propostas de governo.

– (Zero Hora, 2014, adaptado) Carga tributária. Muita gente reclama do custo dos impostos, já que muitos precisam pagar por serviços que deveriam ser públicos. Você pretende fazer uma reforma tributária? Como seria, haveria taxação de grandes fortunas ou todos devem pagar igualmente?

– (TV Band, 2014) Número de cargos comissionados. Em uma gestão sua, como lidaria com as contratações de livre nomeação, dos que são contratados sem concurso. Aumentaria ou diminuiria contratados neste modelo?

– (Portal Vírgula, 2014) O que sugere para melhorar a educação de base no país?

– (Gazeta Online, 2018) O senhor participou de seis eleições em cinco partidos diferentes (PSDB, PP, PMN, PSL e PFL), afinal qual é a ideologia que o senhor se identifica?

DIRIGENTES DO AVANTE SE SURPREENDEM

 

Presidente do diretório municipal do Avante em Cariacica, Marcelo David, diz que o nome de Hermes Lemos nem sequer foi levado para a discussão na direção do partido na cidade. "Candidato a presidente? Ele tá doido? Nunca nem veio aqui no diretório", retruca.

Segundo ele, Hermes se filiou ao partido em 2016 para disputar as eleições para vereador, mas, no meio do caminho, resolveu retirar seu nome da disputa. Aquele foi o primeiro pleito sem as doações de empresas, o que deixou as campanhas mais modestas. "Ele queria recursos do partido, mas nossa plataforma é que os candidatos banquem suas candidaturas", afirma.

O processo natural para poder disputar o cargo de presidente, explica Marcelo, seria ter aval do diretório municipal, convencer a executiva estadual, que levaria a proposta para a direção nacional do partido, que detém a caneta que pode registrar as candidaturas na Justiça Eleitoral.

"O Avante a nível nacional está negociando com alguns nomes e deve sair coligado com alguém, não posso adiantar com quem. Hoje não existe partido pequeno ou grande, o PSDB e o PMDB estão praticamente mortos depois desses escândalos, o PT também se envolveu. Qualquer um hoje pode ganhar", frisa o presidente do partido em Cariacica.

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