Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 02:42
A ansiedade gerada no meio político pela iminente abertura de uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCES), com o pedido de aposentadoria de Valci Ferreira, afastado desde 2007, é sinal de como a Corte de Contas tem funcionado como uma gorda aposentadoria para políticos. Ser conselheiro do tribunal significa ter um cargo vitalício com salário de R$ 35,4 mil e, antes de se aposentar com ganhos integrais, poder julgar, por exemplo, as contas do governador do Estado, dos prefeitos e dos chefes do Ministério Público e do Tribunal de Justiça.>
Dos sete conselheiros do TCES, três são escolhidos pelo governador e os outros quatro são de livre escolha da Assembleia Legislativa. Embora a Constituição não estabeleça que o escolhido deva ser um parlamentar, é o que prevalece.>
E, apesar de a lei dizer que assim deve ser, causa estranheza o fato de um político ser transformado em conselheiro de um órgão técnico de fiscalização de um dia para o outro.>
As indicações políticas sempre despertam críticas. "Conheço situações em que o político entra no Tribunal de Contas e exerce o cargo conforme mandam suas atribuições. Mas conheço também conselheiros que entram só para se aposentar, porque falta pouco tempo para a aposentadoria. Também tem quem entra para criar facilidades para políticos aliados ou de sua região", comentou João Eudes, professor da Fucape e auditor de controle externo do Tribunal de Contas de Pernambuco.>
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Ricardo Ismael é professor de Ciência Política da PUC-Rio, Estado onde cinco conselheiros de Contas foram presos, em 2017. Eles foram investigados por envolvimento em esquema de propina. "Não vejo razão para conselheiros precisarem ser políticos, ex-deputados. É uma distorção nos tribunais de contas do Brasil. Os órgãos viraram cabides de emprego para políticos que não têm voto", comentou.>
ORGULHO>
As indicações políticas não têm sido coisas das quais o TC do Espírito Santo pode se orgulhar. Valci Ferreira está afastado desde 2007 por decisão da Justiça. José Antonio Pimentel pediu a aposentadoria após ser alvo de ação penal, denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.>
Uma vez no tribunal, um conselheiro só precisa sair aos 75 anos, quando a aposentadoria é compulsória. Foi o caso de Marcos Madureira, aposentado em 2013 após um ano afastado por decisão da Justiça. Na época, a compulsória era aos 70.>
Os demais ex-deputados no plenário do TCES são Rodrigo Chamoun, Sérgio Borges e Rodrigo Coelho. Todos foram transformados em conselheiros com as bençãos do governador. Os dois primeiros, com as de Renato Casagrande (PSB). Coelho com as de Paulo Hartung (ex-MDB).>
Borges possuía condenações por improbidade administrativa, e chegou a ter o ato de posse, em 2013, questionado.>
NOVA DISPUTA>
O deputado estadual Marcelo Santos (PDT) é o que mais se movimenta para ser o indicado para a vaga de Valci Ferreira. Nos bastidores, ele é visto como alguém que sai em vantagem, mas ainda não pode comemorar.>
Três fatores precisam ser equacionados. O primeiro é que Marcelo não é alguém que membros do TCES brigariam para ter nos quadros. Ele é visto com ressalvas no plenário.>
Em segundo lugar, 15 dos 30 atuais deputados são recém-chegados na Assembleia. Poderiam estar mais suscetíveis a analisar nomes técnicos, de fora do plenário.>
Além disso, há no primeiro escalão do governo Casagrande nomes que já manifestaram a colegas o sonho de serem presenteados com uma cadeira de conselheiro de Contas. Entre eles, o secretário de Governo, Tyago Hoffmann (PSB), e o chefe da Casa Civil, Davi Diniz (PPS). Além deles, o secretário de Planejamento, Álvaro Duboc, é lembrado por membros do governo como um possível candidato à vaga.>
O nome de Hoffmann é melhor apreciado, no TCES, que o de Marcelo Santos, por exemplo. Mas, conforme publicado ontem no Gazeta Online pelo colunista Vitor Vogas, é o presidente estadual do PSB, Luiz Carlos Ciciliotti quem vem ganhando força nos bastidores e pode ser o indicado por Casagrande.>
TÉCNICOS>
Como feito às vésperas da abertura da vaga de Pimentel, a Associação dos Auditores de Controle Externo do Espírito Santo pretende apresentar membros do corpo técnico do tribunal como opção para a vaga de Valci.>
O presidente da associação, Rafael Lamas, informou que os candidatos serão apresentados já na próxima semana.>
"Eu espero muito dos deputados novatos que eles tenham atitude diferente da velha política, que não façam acordos de bastidores. São anseios da sociedade", disse.>
ENTENDA>
Conselheiro>
O salário atual do conselheiro do TCES, bruto, é de R$ 35,4 mil. Ele pode ficar no cargo até completar 75 anos.>
Indicações>
O Tribunal de Contas deve ter 7 conselheiros. Quatro são indicados pela Assembleia. Os outros três são de indicação do governador. Das três vagas indicadas pelo governador, uma é de livre indicação, outra é feita entre membros do Ministério Público Especial de Contas, e a terceira entre os auditores do tribunal.>
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