Publicado em 24 de setembro de 2019 às 05:53
O combate à corrupção foi apontado como o principal tema que deve ser priorizado nos trabalhos do Ministério Público Estadual (MPES) para os próximos anos. A corrupção também foi mencionada como o problema social que deve ser resolvido primeiro pelo órgão. Esse resultado foi constatado na "Pesquisa de Diagnóstico" feita pelo MPES, ouvindo cidadãos comuns e também o público interno, e divulgada no último dia 19.>
De acordo com o levantamento, os problemas mais citados para que o órgão dê prioridade são os relacionados à área criminal. O combate à corrupção recebeu 67,5% das menções, seguido pelo combate ao crime - o que inclui os crimes contra a vida e contra o patrimônio, por exemplo -, com 49,2% e a fiscalização do cumprimento das políticas de segurança pública, citado por 44,2%. Os entrevistados podiam selecionar mais de uma alternativa.>
Na mesma linha, ficou a percepção sobre quais problemas sociais devem ser resolvidos primeiro. A corrupção foi mencionada por 67,2% das pessoas, enquanto a segurança pública ficou na segunda colocação, com 64,2%, depois veio o crime organizado, com 44,2%, os crimes em geral, 41,7%, e o tráfico de drogas, com 40%.>
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De acordo com a Constituição, o órgão também é responsável pela defesa de direitos da coletividade. No entanto, essas áreas foram as menos citadas entre os problemas sociais que merecem a atenção do Ministério Público. O problema da discriminação étnica, racial e de gênero foi citado por 15%, a discriminação das pessoas com deficiência, por 13,3% e as lesões ao direito do consumidor, por 8,3%.>
Este resultado também pode ser relacionado com o terceiro questionamento realizado no diagnóstico, que foi sobre os temas em que se percebe a atuação do MPES. O mais citado foi o enfrentamento à violência de gênero, com 60%, seguido pela proteção às crianças e adolescentes, com 56,7%. O combate à corrupção, que é tido como o maior problema social, ficou na 5ª colocação, com 50%.>
MÉTODO>
A pesquisa coletou opiniões de 120 pessoas de 23 municípios, entre os dias 15 de julho a 2 de agosto deste ano. De acordo com o MPES, os resultados não permitem uma análise com segurança estatística e as informações devem ser entendidas como orientadoras, para apurar a percepção da atuação do órgão. Elas serão utilizadas para dar base a um realinhamento do Planejamento Estratégico do órgão, feito para os anos de 2015 a 2025.>
O levantamento também buscou identificar o nível de conhecimento da população sobre o Ministério Público, e o resultado foi que 69,1% disseram que conhecem muito, e 5,8% nunca ouviram falar da instituição.>
O Ministério Público Estadual foi procurado, mas até a publicação desta reportagem não comentou sobre os resultados do levantamento.>
Últimas operações do MPES de combate à corrupção>
Lama cirúrgica>
A operação, que já teve 4 fases, foi deflagrada pela primeira vez em janeiro de 2018. As investigações foram realizadas pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc) e apontaram para fraudes envolvendo o reprocessamento de material cirúrgico de uso único na área ortopédica, cobrando dos planos de saúde como se fossem novos, e a prática do crime de estelionato. Vários médicos foram presos.>
Rubi>
Em maio, a prefeita de Presidente Kennedy, Amanda Quinta (sem partido), e o prefeito de Marataízes, Robertino Batista (PDT) foram presos na operação que, de acordo com investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), indicou superfaturamento de contratos e pagamentos de propina nesses municípios. Outras cinco pessoas foram presas.>
Nexus >
Em junho, empresários e servidores públicos suspeitos de superfaturamento, direcionamento de contratos e lavagem de dinheiro vindo de fraudes e cartel foram denunciados e já viraram réus na Justiça. As investigações, feitas pelo Gaeco, demonstraram fraudes em obras do Programa Caminhos do Campo, do governo do Estado, entre os anos de 2010 e 2018. Entre os investigados, estavam quatro servidores públicos.>
Replicante>
Em agosto, dez pessoas foram presas na Operação que investigava uma organização criminosa, que atuava realizando fraudes no registro de veículos em nome de inúmeras pessoas. O prejuízo calculado foi acima de R$ 100 milhões. Entre os presos havia funcionários do Detran e despachantes.>
ANÁLISE: "Corrupção está em pauta há anos">
Por Júlio Pompeu, professor de Ética e Teoria do Estado da Ufes:>
"Uma parte considerável da população não sabe muito bem sobre o total das atribuições do Ministério Público, e reconhece muito mais o combate à corrupção, sobretudo após a Operação Lava Jato, em que o órgão ficou muito em evidência, por conta das investigações.>
Além disso, o tema da corrupção está na pauta dos brasileiros há anos, foi o foco dos últimos debates eleitorais, com pessoas emblemáticas sendo presas, o que dá a sensação que o combate aos desvios aumentou e que a corrupção é um problema maior do que em outros tempos.>
A consequência também é de uma percepção positiva do trabalho do órgão, mas não necessariamente nas políticas públicas. Para pautas em que o Ministério Público também é fundamental, como na defesa do Meio Ambiente, do Consumidor e na defesa de minorias, ele é muito menos lembrado, o que também mostra a importância que a própria população dá a isso.>
O levantamento não mostra o que é o Ministério Público, mostra o que as pessoas acreditam sobre ele.">
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