Publicado em 5 de setembro de 2019 às 20:06
Marco das gestões do PT e descontinuado pelo governo Bolsonaro, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deixou de herança 182 obras contratadas para o Espírito Santo, mas 110 delas podem ficar sem receber os recursos. O valor total dos empreendimentos para o Estado é de R$ 2,16 bilhões.>
O balanço atualizado sobre a situação das obras do PAC foi liberado pelo governo federal na última sexta-feira (30), com a apresentação do Projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) da União para 2020.>
Após meses de contingenciamentos e com limitações orçamentárias, o governo federal deve liberar dinheiro só para as obras mais baratas e já adiantadas. Isso porque, em julho deste ano, o governo editou uma portaria para desbloquear recursos para as obras que em 30 de dezembro de 2018 tivessem executado 60% ou mais dos trabalhos e que custassem até R$ 10 milhões.>
Das 182 obras contratadas para o Espírito Santo, só 72 se encaixam nesses critérios e têm mais chances de receber as verbas. As outras 110 vão ter de passar pela análise de cada ministério, que vai definir se o valor será liberado e quando um cenário incerto hoje.>
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A maioria das obras que devem continuar com recursos bloqueados é de saneamento, recuperação de estradas e construção de creches. Um exemplo são as obras de drenagem do Rio Formate, em Viana, que só tiveram 2,2% de execução e custam R$ 35,4 milhões, e a urbanização do bairro Conquista, em Vitória, que teve 23% dos trabalhos executados e custa R$ 27,8 milhões.>
O Ministério da Economia adotou esta medida de destravar pequenas obras do PAC para dar uma contrapartida aos congressistas em julho, na reta final para a votação da reforma da Previdência na Câmara.>
Andamento>
Nos novos dados disponibilizados, o governo classificou 25 das 182 obras no Espírito Santo como paralisadas. Entre elas, as mais caras são o contrato da 1ª etapa do BRT na Grande Vitória, por R$ 733,2 milhões, e obras de regularização e ampliação do Canal Guaranhuns, em Vila Velha, por R$ 72,3 milhões. A maior parte das obras paradas é de saneamento.>
Conclusão>
O PAC foi criado em 2007 e após 12 anos deixou de existir oficialmente como um programa. Durante a reforma administrativa do governo Bolsonaro, sancionada em junho, decidiu-se por encerrá-lo e retirá-lo da alçada do Ministério do Planejamento (que foi incorporado à pasta da Economia).>
Segundo o Ministério da Economia, o PAC já deixou de receber novos projetos, mas as obras já previstas vão ser inseridas dentro do orçamento dos ministérios setoriais, que terão autonomia para geri-las.>
As obras de creches vão para o Ministério da Educação, por exemplo; as obras de estradas, para a pasta de Infraestrutura; e as de reurbanização de ruas ou saneamento vão para o Ministério do Desenvolvimento Regional (antigo Ministério das Cidades).>
Essa decisão de não fazer novos contratos segue a diretriz do governo federal de reduzir a participação direta do Estado em investimentos de infraestrutura.>
Além disso, o governo Bolsonaro ainda não definiu se irá lançar um novo programa específico com a carteira centralizada de obras públicas.>
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ENTENDA O PAC>
Criação do programa>
2007>
Em janeiro daquele ano, o então presidente Lula (PT) lançou o programa como forma de ampliar a infraestrutura no país.>
Na política>
Lula aproveitou o programa para impulsionar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, chamando a então ministra-chefe da Casa Civil de mãe do PAC.>
Distribuição do recurso>
Até 2019, recursos do PAC eram alocados no Ministério do Planejamento, que em seguida transferia cada parte para os ministérios setoriais. Na sequência, as pastas repassavam para os Estados e municípios, responsáveis por executar as obras.>
Mudança>
Governo Bolsonaro>
Programa deixa de existir, mas as obras já iniciadas serão concluídas, sob a responsabilidade do ministério da área. Em 2019, estão garantidos recursos para obras com mais de 60% de execução e que custem até R$ 10 milhões.>
Incerteza sobre a maioria das obras gera preocupação>
A incerteza quanto à retomada de pelo menos 60% das obras do PAC no Espírito Santo gera preocupação aos municípios e a especialistas da área que avaliam que a falta desses investimentos tende a corroborar com a estagnação da economia e com a manutenção das elevadas taxas de desemprego.>
No entanto, a decisão do governo federal de permitir a retomada de obras com valor inferior a R$ 10 milhões que estavam paradas em razão de bloqueio de recursos pode sim dar um fôlego para a geração de empregos e movimentar a economia regional com muito mais rapidez.>
O presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), prefeito Gilson Daniel (Podemos), aponta que o governo também precisa investir em desburocratização para fazer as obras andarem.>
Muitos atrasos nas obras são por culpa da própria União, que tem muita burocracia para licitar, contratar, e depois há um repasse lento do dinheiro. Empresas ficam 60, até 90 dias sem receber. Não vejo problema em descentralizar o programa, desde que se disponibilizem os recursos aos ministérios competentes, afirmou.>
De acordo com a portaria de julho, a exigência do governo federal é de que as obras beneficiadas sejam concluídas até julho de 2020, e os recursos devem ser liberados em até três meses, de acordo com projeção do Ministério da Economia.>
Mesmo com a maioria das obras ainda no campo da incerteza, Gilson Daniel avalia que a chegada de recursos para o término das menores deve contribuir para a sobrevida de dezenas de prefeituras neste ano, pois quando uma obra deixa de ser concluída no prazo determinado o dinheiro retorna ao caixa da União.>
Em alguns casos, dada a dificuldade em receber os valores, as próprias prefeituras tem que concluir a obra com recursos próprios. Com esses novos prazos desafoga o caixa.>
Planejamento>
Para o presidente do Sindicato da Construção Civil no Espírito Santo (Sinduscon), Paulo Baraona, a decisão do governo de descentralizar a gestão das obras do PAC pode ter bons resultados, já que dessa forma, cada ministério, conhecendo seu próprio orçamento, pode ter mais objetividade e resultados mais práticos.>
No entanto, ele acredita que não lançar um novo plano de infraestrutura pode ser um erro. É importante lançar um projeto para a recuperação dessas obras, antes de lançar novas, para que não haja dinheiro se perdendo. A inexistência de um plano nacional de infraestrutura, que aponte, em cada modal, as obras prioritárias, traz uma insegurança grande, afirma.>
O consultor e engenheiro especialista em projetos de infraestrutura Fernando Oliveira aponta que a falta de planejamento foi a responsável pelo declínio do programa e que o governo não pode permanecer nesse erro.>
Junto com o PAC, o governo se comprometeu com obras da Copa do Mundo, Olimpíadas, e boa parte ficou pelo caminho. Será preciso se planejar e contar com a iniciativa privada para destravar esses investimentos, diz.>
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