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Bolsonarismo faz do PSL o partido que mais cresce no ES

Bolsonarismo faz do PSL o partido que mais cresce no ES

Nanico, partido ganhou adeptos após a chegada de Bolsonaro

Publicado em 29 de julho de 2019 às 00:12

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O presidente Jair Bolsonaro faz "coração" com as mãos. (Divulgação | Arquivo)

A política do Espírito Santo está sob franca influência do bolsonarismo. O Partido Social Liberal (PSL), do presidente da República, Jair Bolsonaro, é o que proporcionalmente mais cresceu de 2018 para cá o total de filiados. No final do ano passado, o partido tinha 5.525 filiados, segundo dados da Justiça Eleitoral. Em junho, o número alcançou 7.446. É um crescimento de 34,7%.

A elevação no montante de filiados foi maior até que a do Novo, partido em expansão e bem mais recente que o PSL. Um foi autorizado em 1998. O outro, em 2015.

Os filiados à legenda de João Amoêdo cresceram 31,4% no Estado. Eram 489, em dezembro, e passaram a ser 643, no mês passado.

Em seguida, o PSDB aparece como a sigla que mais registrou filiados, com 7,5%. Em seis meses, os tucanos eram 24.799 e passaram a ser 26.661.

Para efeito de comparação, o PT capixaba cresceu 0,07% no período, alcançando 24.851 membros.

Até 2018, o PSL estava localizado à margem da política nacional. O partido havia eleito um único deputado federal em 2014. Hoje, tem a maior bancada, ao lado do PT, com 55 representantes.

De 2014 a 2018 o total de filiados ao PSL vinham numa constante. O salto se dá exatamente após Bolsonaro escolher a legenda e vencer a eleição – antes, ele largou o PP, teve passagem relâmpago pelo PSC e ainda flertou com o antigo PEN, hoje Patriota.

Dirigentes partidários e analistas concordam sobre a principal explicação para o salto no volume de adesões. É o fenômeno do bolsonarismo que justifica o crescimento. São atraídos tanto aqueles que simplesmente enaltecem o desempenho de Bolsonaro no Palácio do Planalto e querem reforçar a trincheira partidária quanto aqueles que preveem terminar eleitos nos pleitos municipais do ano que vem.

Aliado de primeira hora de Bolsonaro e presidente do PSL capixaba, o ex-deputado Carlos Manato projeta eleger 15 dos 78 prefeitos do Estado em 2020, além de aproximadamente 100 vereadores. “Dizer 17 (prefeitos) seria muita pretensão”, diz, gargalhando, ao fazer referência ao número oficial do partido.

O que soa exagero pode, sim, acontecer, avisa Manato. Ele lembra a eleição de quatro deputados estaduais e uma federal, feito considerado improvável ao partido nanico, em 2018.

“Com certeza é o efeito Bolsonaro. Uma parte é ele e outra é as pessoas vendo que as esquerdas foram ruins para o país. Estamos querendo mostrar o que é ser de esquerda, a maldade por trás disso”, afirmou o político que fez carreira no PDT antes de descobrir-se no partido de direita.

Para o PSL capixaba, os 34,7% de crescimento são subestimados e vão subir com facilidade. É que, até agora, os filiados se apresentam pelo site do partido e a oficialização dos registros cabia ao funcionários do diretório nacional. E algumas filiações se perdiam quando internautas se equivocam no envio de algum documento.

“Foram seis meses brigando pelo filiaweb (o sistema da Justiça Eleitoral para lançar as filiações). Eu disse que, se me dessem, eu dobraria o número de filiados. Tinham três ou quatro meninas para fazer tudo para o Brasil inteiro. Eu convenci, e agora todos os Estados vão ter”, disse.

R$ 20 mil

O PSL do Espírito Santo deve voltar a ter acesso ao Fundo Partidário ainda este ano. Presidente do partido no Estado, Carlos Manato afirma que os repasses mensais de cerca de R$ 20 mil deverão ser retomados em outubro.

O diretório capixaba não tem acesso ao recurso público porque, segundo Manato, não presta contas desde 2003.

O diretório nacional, explicou o presidente, contratou advogado e contador para regularizar a situação do partido.

“Até outubro estaremos recebendo. Se não eu quebro, porque sou eu que patrocino. Serão R$ 20 mil por mês, mais ou menos. Se eu conseguir mostrar crescimento, com projetos, posso até tirar uma beirada a mais”, disse.

BOLSONARISMO TEM ATRAÍDO MAIS JOVENS PARA O PARTIDO

O crescimento no total de filiados ao PSL capixaba (34,7%) destaca-se até entre os demais diretórios do partido no país. Apenas Acre (53,3%), Rio de Janeiro (43,2%), Rio Grande do Sul (42,6%) e o Distrito Federal (104,2%) tiveram melhor desempenho na atração de quadros, mostram os dados da Justiça Eleitoral.

Em todo o país, de dezembro de 2018 a junho de 2019, o crescimento do PSL nacional ficou em 12,5%. Os 241 mil eleitores filiados passaram a ser 271,3 mil.

Bolsonaro cumprimenta apoiadores durante convenção do PSL no Ginásio Álvares Cabral, em Vitória, em julho de 2018. (Fernando Madeira - GZ)

Esse aumento no Espírito Santo, garantem dirigentes, passa não apenas por políticos de carreira interessados na próxima eleição, mas também pela atração de jovens que se identificam com o presidente Jair Bolsonaro.

Uma das recém-filiadas ao PSL capixaba é a estudante Gabriela França de Castro. Aos 17 anos, cursa o ensino médio e já trabalha. Faz design de sobrancelhas e unhas de gel. Já entende o mundo dos impostos, e o considera injusto.

“No ano passado, comecei a pesquisar e entender um pouco mais. Não queria votar por votar. Aí vi as propostas de governo e simpatizei com a do PSL. Fui criada de forma bem conservadora e, desde o início, sempre achei ruim essa quantidade enorme de imposto que a gente paga”, contou.

Para ela, a mensagem de Jair Bolsonaro como liberal na economia e conservador nos costumes era a mais adequada. “Entendo que o jeito que a gente vive não é ruim, não tem que mudar. A esquerda entende que o que existe é o patriarcado, que ele é ruim e que tem que mudar. Mas a humanidade se desenvolveu assim”, pontuou.

Daí para os quadros do PSL não tardou. Por meio de pessoas próximas que tinham algum vínculo com políticos do PSL, passou a frequentar reuniões e acabou filiada.

O convite partiu de Otávio Messias, outro jovem que chegou ao PSL levado pela onda Bolsonaro. Ele liderava o movimento “Direita Espírito Santo” quando foi convencido a viver a política de dentro da estrutura liderada pelo presidente. Aos 25 anos, está à frente do PSL Jovem e é, hoje, funcionário do partido.

“O que o partido fez foi pegar a imagem do seu candidato para trazer pessoas para dentro do partido. Não esperávamos que fosse continuar, mas está continuando. Tem o fenômeno Bolsonaro, a nível geral. As pessoas se identificam, apoiam e acabam vindo. E tem o fator Manato, que organiza o partido”, afirmou.

Pelas mãos de Otávio passam os novos registros de filiação. Ele acredita que, não fossem os problemas técnicos, o partido já teria ultrapassado os 10 mil membros no Estado. “O PSL não tinha essa estrutura que tem hoje”, disse.

Correligionários afirmam que o perfil dos novos membros é variado. Prometem trabalho específico para filiar mulheres porque “Manato não quer laranja”. Apesar de chamarem a atenção para a entrada de jovens, veem um perfil variado entre os interessados.

Engenheiro eletricista, Carlos Alberto Fante, 67 anos, foi filiado ao PDT décadas atrás. Agora, sem qualquer pretensão eleitoral, decidiu engrossar as fileiras do partido de Bolsonaro. “Depois que enxerguei as coisas, vi que foi uma escolha absurda (quando foi ao PDT). E minha escolha é o Brasil, minha família, meus amigos. Escolhi o PSL para dar apoio ao Bolsonaro e conseguir levar mais gente ao PSL. Uma coisa muito forte nele é a seriedade e a honestidade”, diz o recém-filiado.

ANÁLISE

Partido sem agenda

Leandro Machado cientista político e professor da FGV

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Nossa história democrática recente mostra que partidos da coalizão governamental e, principalmente, o que as encabeça, crescem muito. É uma constante desde FHC. Isso é refletido no número de filiados e no tamanho das bancadas. Mas são poucos os partidos com uma agenda programática. O que propõem? Estão enferrujados. O PSL é exemplo puro e acabado desse mal brasileiro. Tem um monte de gente com mais ou menos a mesma linha, mas muda na página dois. O partido trabalhou para desidratar a reforma da Previdência.

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