Publicado em 24 de agosto de 2019 às 11:33
Os membros do Ministério Público e do Judiciário em todo o país apontaram riscos às suas atuações com a aprovação projeto que criminaliza o abuso de autoridade, votado nesta quarta-feira (14) na Câmara dos Deputados. Como já havia passado pelo Senado, o texto agora vai à sanção e caberá ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) decidir se transformará em lei.>
A proposta prevê punição a juízes e investigadores em uma série de situações. O presidente da Associação Espírito-Santense do Ministério Público do Espírito Santo, Pedro Ivo de Sousa, disse que se a votação foi uma resposta aos vazamentos de mensagens de membros da força-tarefa da Lava Jato, ou a própria operação, foi feito de forma equivocada. "Não se pode penalizar toda uma classe", defende.>
Por conta da aprovação da proposta, os membros do MP e do Judiciário pelo país impulsionaram inclusive a campanha #vetaBolsonaro nas redes sociais, para conseguir maior apelo. Se o texto passar valer, novas práticas serão enquadradas como crime de abuso. Entre elas, algumas que atingem mais diretamente o Ministério Público e a polícia como a abertura de investigação sem indícios de crime, a obtenção de prova por meio ilícito, realização de interceptação telefônica ou de dados sem autorização judicial e a prática de estender a investigação de forma injustificada.>
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Já magistrados poderão responder por abuso se proferirem decisão judicial pela prisão preventiva sem amparo legal, decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado de forma manifestamente descabida e submeter preso ao uso de algemas quando estiver claro que não há resistência à prisão, entre outras hipóteses.>
Pedro Ivo de Sousa, do MPES, apontou que a própria forma de aprovação do texto na Câmara, a toque de caixa, demonstra que o projeto pode ter sido uma forma da classe política enviar um recado aos outros poderes.>
"A votação pegou todos de surpresa, em um procedimento todo atropelado, feito por votação simbólica, e não nominal, para nenhum político ficar marcado. Se isso foi uma resposta aos episódios dos vazamentos, foi feito de forma equivocada. Não se pode penalizar toda uma classe, e toda a estrutura de segurança e Justiça", avalia.>
JUSTIÇA>
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) também criticou o projeto e afirmou que "a necessária punição a quem atue com abuso de autoridade não pode servir, sob qualquer pretexto, a intimidar ou de qualquer forma subtrair a independência do Poder Judiciário e seus juízes, que tanto realizam no combate à corrupção, na garantia dos direitos fundamentais e na consolidação da democracia".>
Já o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, Fernando Mendes, avalia que o texto gera interpretações subjetivas que podem cercear juízes. "O que não pode é o juiz ser punido penalmente por decidir de uma maneira que amanhã ou depois venha a ser modificada", argumenta.>
A reportagem procurou a Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages), que não havia se posicionado até a publicação desta matéria.>
EXEMPLOS DO QUE PODE VIRAR CRIME>
Prova por meio ilícito>
Obter prova em procedimento de investigação por meio ilícito (até quatro anos de detenção).>
Condução 'descabida'>
Decretar condução coercitiva de testemunha ou investigado de forma descabida sem prévia intimação (até quatro anos de detenção).>
Prisão e apreensão>
Captura, prisão ou busca e apreensão sem situação de flagrante delito ou sem ordem judicial (até quatro anos de detenção).>
Expor intimidade>
Divulgar gravação sem relação com as provas, expondo a intimidade (até quatro anos de detenção).>
Atribuição de culpa>
Antecipar a atribuição de culpa, inclusive em rede social e antes de concluídas as apurações (pena de seis meses a 2 anos de detenção).>
Algemas sem necessidade>
Submeter preso ao uso de algemas, quando estiver claro que não há resistência à prisão (até dois anos de detenção).>
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