Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 04:00
O caminho está livre para o presidente do PSB estadual, Luiz Carlos Ciciliotti, ser escolhido pela Assembleia Legislativa como o novo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES) cargo que tem salário bruto de R$ 35,4 mil. O dirigente é quem o governador Renato Casagrande (PSB) busca emplacar na cadeira aberta com a aposentadoria de Valci Ferreira.>
Na sexta-feira (15), o deputado estadual Marcelo Santos (PDT) anunciou que não vai se inscrever para a vaga. Ele vinha reunindo apoiadores, mas recuou para "contribuir para a manutenção e fortalecimento do ambiente de responsabilidade e harmonia que hoje cerca o relacionamento entre o governo e o Legislativo".>
A decisão foi tomada ainda na véspera, após conversas entre governistas e aliados de Marcelo. Mais do que abrir mão de concorrer, anunciou apoio a Ciciliotti. O pedetista manifestou-se apenas por meio de nota enviada à imprensa e não deu entrevista à reportagem.>
Agora, uma nova lista de assinaturas de deputados em apoio a Ciciliotti está sendo passada no plenário. De acordo com o líder do governo, Enivaldo dos Anjos (PSD), o responsável pela colheita de autógrafos, a relação já conta com 18 dos 30 nomes.>
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Ao comunicar o recuo, Marcelo Santos disse, ainda, que abria mão de ir ao TCES para não submeter a Assembleia ao constrangimento de ter no plenário o suplente Luiz Durão (PDT), acusado de estupro e solto ontem.>
Essa, porém, era uma questão considerada de menor importância por aliados dele. O grupo de Marcelo Santos, por conta do peso das acusações contra Durão, entendia haver margens para não empossá-lo e para convocar o suplente seguinte.>
Há outras versões para a desistência, porém. Segundo interlocutores que participaram das conversas, uma delas diz respeito a uma estratégia de Marcelo de criar em vão um racha ao tentar segurar o "rolo compressor" do governo, que estava empenhado em não amargar essa derrota logo no início do mandato de Renato Casagrande.>
Também pesou o fato de Casagrande não ter firmado com Marcelo nenhum compromisso com ele para erguê-lo ao TCES, assim como o deputado pretendia desde o governo passado.>
Ao menos desde a transição, levar Ciciliotti à cadeira de conselheiro de Contas está nos planos de Casagrande. Até a nomeação do aliado histórico para a discreta assessoria especial da Secretaria de Governo, em vez de algum cargo de maior relevo teria feito parte da estratégia.>
Pessoas próximas a Casagrande garantem que Marcelo não exigiu nada do governador para recuar. Acreditam, porém, que ele vai querer ser ajudado pelo Executivo estadual na disputa pela Prefeitura de Cariacica, em 2020.>
Aliados do socialista dizem, também, que Marcelo Santos, ao recuar sem grandes resistências, aumentou seu prestígio junto ao governador.>
Foi o segundo recuo para "poupar" o governo. Ele havia sido convidado para ser o secretário estadual de Esportes, mas desistiu em janeiro porque Luiz Durão havia acabado de ser preso e, até então, não havia clareza sobre como se comportaria junto à Justiça o caso do ex-deputado preso.>
O recuo também gerou expectativa sobre se Marcelo pretende disputar a próxima vaga a ser aberta no Tribunal de Contas, uma vez que há outro aliado de Casagrande cotado.>
ESCOLHA DEVE SAIR NA TERÇA-FEIRA>
De acordo com um membro da Mesa Diretora e com o líder do governo na Assembleia, Enivaldo dos Anjos (PSD), está prevista para a próxima terça-feira a votação que vai confirmar a indicação de Luiz Carlos Ciciliotti (PSB) ao Tribunal de Contas (TCES).>
O regimento interno da Assembleia determina que, após a publicação da vaga no Diário Oficial do Legislativo, a Mesa Diretora tem no máximo dez dias para receber inscrições e até três sessões para fazer a votação. O regramento não fala em tempo mínimo.>
Conforme o anúncio publicado ontem no Diário, as inscrições poderão acontecer no fim de semana e serão encerradas ao meio-dia de segunda-feira.>
A Constituição estadual estabelece que só pode virar conselheiro de Contas quem tem até 65 anos, idoneidade moral, reputação ilibada e "notórios conhecimentos jurídicos, ou contábeis, ou econômicos e financeiros ou de administração pública, com mais de dez anos de exercício de função, ou de cargo público, ou de efetiva atividade profissional nas áreas referidas".>
Farmacêutico, Luiz Ciciliotti é presidente do PSB estadual. Já foi chefe da Casa Civil e exerceu funções no Bandes, Funasa e Secretaria estadual de Saúde.>
PARLAMENTARES AVALIAM MUDANÇAS>
Na semana em que o Tribunal de Contas do Estado (TCES) foi alvo de diversas discussões sobre seus procedimentos e sobre a remuneração que paga a seus integrantes, membros da bancada federal capixaba avaliam que é necessário debater a legislação. Eventuais mudanças nas regras de funcionamento dos tribunais de contas cabem ao Congresso Nacional.>
Além da briga de bastidores sobre qual político será o indicado para a vaga aberta no Tribunal de Contas, houve a polêmica em torno de salários superiores a R$ 100 mil pagos a conselheiros de Contas no mês de janeiro.>
Uma vaga foi aberta por causa da aposentadoria do conselheiro Valci Ferreira. Mesmo afastado pela Justiça desde 2007, ele recebia salários e terá direito à aposentadoria proporcional, de R$ 20,8 mil.>
"Esse tema é amplo. Não envolve só aposentadorias do TCES, mas, também, do Judiciário, do Legislativo e do Executivo. Uma inovação legislativa tem de pensar maior. Isso exige dedicação e tempo, mas é relevante a cobertura do caso pela imprensa. E vamos, sim, estudar possibilidades para combater esse tipo de privilégio e injustiça. O Brasil que queremos passado a limpo não comporta isso", afirmou o senador Fabiano Contarato (Rede).>
O deputado federal Josias da Vitória (PPS) também declarou que o debate é necessário no Congresso. Por meio de nota, disse que "está avaliando e vai apoiar medidas legislativas que limitem o pagamento dos chamados 'supersalários' na administração pública, assim como as medidas que limitem a aposentaria compulsória como punição administrativa".>
A senadora Rose de Freitas (Pode) apresentou, em 2018, uma PEC que pretende substituir o critério político pelo de concurso público e de avaliação de títulos nos tribunais de contas da União e dos Estados. A proposta está no início da tramitação no Senado, sem previsão de ir a plenário.>
Já Amaro Neto (PPS) disse que a regra de indicação para os tribunais de contas deve ser revista. É algo que a sociedade não tolera mais. Eu abri mão de benefícios. Tem que se rever essa questão de serem indicados pelo governador e pela Assembleia, mas tem que ter uma transição. Não pode ser de uma hora para outra", disse.>
A deputada federal Soraya Manato (PLS) também se manifestou. "Sou contra os supersalários. São mais de 13 milhões de desempregados no país. Temos que pensar no cidadão brasileiro e ter consciência que o preço desse exagero salarial é sentido no bolso do brasileiro. Regras na legislação são necessárias para controlar esse tipo de recebimento", frisou.>
ENTENDA>
TRIBUNAL DE CONTAS>
Vaga>
A vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado surgiu após a aposentadoria de Valci Ferreira, que estava afastado do cargo por decisão judicial desde 2007. A vacância oficial da cadeira foi publicada ontem no Diário do Legislativo, mas já era aguardada desde que Valci pediu a contagem do tempo de contribuição à previdência estadual.>
Disputa>
O interesse do deputado estadual Marcelo Santos (PDT) na vaga, se não explicitado claramente, era detectado nos bastidores há tempos. Mas o governo Renato Casagrande (PSB) colocou outro nome no jogo, o do presidente estadual do seu partido, Luiz Carlos Ciciliotti. E prevaleceu a força do Executivo, com o recuo de Marcelo, que é da base do governo.>
O QUE FAZ E QUANTO GANHA O CONSELHEIRO>
Cifras>
Quem se torna conselheiro de contas somente sai do cargo, em tese, ao completar 75 anos. E o salário é o mesmo de um desembargador do Tribunal de Justiça: R$ 35,4 mil, sem contar as verbas indenizatórias que podem elevar bastante esse valor. Em janeiro, como A GAZETA mostrou, teve conselheiro que recebeu mais de R$ 100 mil líquidos.>
Poder>
O papel do Tribunal de Contas e dos conselheiros é avaliar as contas de gestores municipais, de Câmaras Municipais, do próprio governador do Estado e da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. Em alguns dos casos, a Corte de contas tem a palavra final, em outros, isso cabe ao Legislativo.>
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