Publicado em 21 de setembro de 2019 às 17:49
Em março, uma operação inédita da Polícia Federal no Espírito Santo apreendeu um computador e dois celulares na Secretaria Estadual de Esportes (Sesport) após um funcionário da pasta ser investigado por divulgar uma suposta pesquisa eleitoral falsa com intuito de influenciar o voto do eleitor capixaba nas próximas eleições.>
Foi a primeira operação de combate a notícias falsas relacionadas às eleições deste ano no Brasil. Provavelmente não será a única. E serve de alerta para toda a sociedade. >
A notícia sobre a pesquisa foi publicada em um site. Mas a PF diz que tanto a pesquisa é falsa quanto a notícia derivada a partir dela. Ou seja, um caso de fake news, diz a investigação da PF.>
MAS, AFINAL: O QUE SÃO FAKE NEWS?>
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São conteúdos maliciosamente criados para confundir a opinião pública. E, para isso, apropriam-se de estruturas e características do jornalismo profissional.>
Para ficar mais claro, o diretor de conteúdo do UOL, o jornalista Rodrigo Flores, resumiu o significado da expressão durante o seminário "Fake news e Democracia", realizado no Senado, em dezembro, em Brasília. Para ele, se trata de "conteúdo deliberadamente falso que mimetiza (adquire forma de) notícia e é distribuído em rede social com o intuito de gerar benefício (econômico, político etc)".>
ENTENDA O QUE SÃO FAKE NEWS E VEJA EXEMPLOS>
A "notícia" de que a Pepsi superou a Coca-Cola em vendas porque a imagem de Jair Bolsonaro passará a estampar as latinhas de refrigerante da marca é um exemplo. Publicada em 4 de dezembro no site News Atual, foi replicada em cinco páginas do Facebook com um total de 1,8 milhão de seguidores, conforme mostrou a revista Veja em fevereiro. Em poucos dias, a "notícia" teve mais de 20.000 curtidas e um número considerável de compartilhamentos. Era, obviamente, falsa. Uma genuína fake news.>
O FALSO É MAIS DOCE>
Sabe aquela sua tia que enche o grupo de WhatsApp da família com notícias pra lá de suspeitas? Também são fake news - as notícias falsas com alta capacidade de viralização e compartilhamento em grupos de aplicativos, conforme mostrou a revista Mundo Estranho.>
O "fenômeno" das notícias falsas já foi considerado tão impactante que a Universidade de Oxford elegeu pós-verdade como a palavra do ano de 2016. Ela se refere a essas informações tratadas como verdade só por seu apelo emocional, independentemente de serem comprovadas com fatos concretos.>
INFLUENCIANDO A POLÍTICA>
Nos últimos três meses da campanha à Presidência dos EUA, as notícias falsas (fake news) a respeito da eleição geraram 8,7 milhões de reações, compartilhamentos e comentários no Facebook quase 1,5 milhão a mais do que as verdadeiras.>
O Buzzfeed News chegou a um resultado semelhante no Brasil: as dez notícias falsas mais populares sobre a Operação Lava Jato têm maior engajamento do que as dez verdadeiras mais populares. Metade das fakes vinham das mesmas páginas: Brasil Verde e Amarelo e Click Política.>
AS CONSEQUÊNCIAS DESASTROSAS>
O impacto não é sentido apenas na esfera política. As fake news também podem causar verdadeiras tragédias em figuras privadas, de repente envolvidas em informações errôneas que geram comoção pública.>
Em maio de 2017, sete pessoas foram linchadas numa aldeia da Índia após a circulação de uma notícia falsa de que elas raptavam crianças. Em 2014, no Guarujá (SP), nas mesmas circunstâncias, uma mulher também foi linchada até a morte após ser confundida com uma sequestradora de crianças.>
FABRICADAS SOB MEDIDA>
Em fevereiro de 2017, o jornal "Folha de S.Paulo" publicou uma reportagem sobre páginas que estão faturando com informações falsas no Facebook.>
O que fazemos são modificações para tornar a notícia mais fácil e interessante, afirmou Beto Silva, administrador da Pensa Brasil. Quem tem que saber o que é verdade ou mentira é quem lê a matéria, completou.>
As manchetes alarmistas rendem cliques, que por sua vez atraem anúncios. Segundo analistas do mercado publicitário, essas propagandas podem gerar até R$ 150 mil por mês.>
O CONTRA-ATAQUE>
As grandes empresas de tecnologia já estão desenvolvendo ferramentas para dificultar a vida das fake news. O Google anunciou que irá bloquear um de seus tipos de publicidade automática em sites ou canais do YouTube que fizerem esse tipo de jornalismo. E também irá minimizar as chances de esses sites ou canais serem encontrados pela busca.>
Já o Facebook está oferecendo, em alguns países, uma ferramenta que avisa ao usuário que ele está lendo uma notícia com fonte pouco confiável.>
Nesta semana, o Facebook também anunciou um serviço de vídeos de notícias em sua plataforma para minimizar o impacto de notícias falsas. A plataforma deve ser testada por 12 meses e vai hospedar vídeos de pelo menos três minutos feitos por empresas jornalísticas.>
COMO IDENTIFICAR?>
O Facebook liberou um manual ensinando a perceber trambiques. Se a notícia tiver duas dessas características, desconfie:>
URL>
Muitos sites de notícias manipuladas imitam veículos da imprensa autênticos, seja no nome, no visual ou fazendo pequenas mudanças no endereço on-line. Fique atento!>
Título>
Para apelar à emoção do leitor, sites de fake news utilizam muitas palavras escritas em letra maiúscula ou pontos de exclamação. A ideia é reforçar um imediatismo e uma importância que aquela matéria, de fato, não tem.>
Formatação>
Muitos sites de notícias contêm layouts estranhos, com aspecto amador e erros ortográficos.>
Data>
É comum colocarem datas sem sentido ou a relação correta com a realidade. O objetivo é aumentar o tempo útil de circulação do post.>
Foto>
Na dúvida, faça uma busca por imagem com a foto usada na página. Se ela pertencer a outra notícia, em outro contexto, desconfie.>
DISSEMINAÇÃO MAIS FÁCIL>
O pior de tudo é que as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras e alcançam muito mais gente. A conclusão é do maior estudo já realizado sobre a disseminação de fake news na internet, realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Masachussetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. O relatório foi publicado na quinta-feira passada, na revista Science.>
Então, fique atento para não cair e não acreditar em uma fake news.>
*Fontes: Com informações levantadas pela revista Mundo Estranho e sites de Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, UOL, The Guardian, El País, The New York Times, The Daily Mirror, The Telegraph, Track Mavens, O Globo, Veja, Exame, Brainstorm 9, Meio e Mensagem, Olhar Digital, Bloomerang e Buzzfeed News Brasil.>
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