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Afastado desde 2007, Valci Ferreira pede aposentadoria a tribunal

Afastado desde 2007, Valci Ferreira pede aposentadoria a tribunal

Se confirmada a aposentadoria do conselheiro afastado, ele deverá sair com salário integral, que hoje é de cerca de R$ 35 mil

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 23:39

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Valci Ferreira no Tribunal de Contas ainda em 2007, antes de ser afastado . (Chico Guedes/ Arquivo)

O conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCES) Valci José Ferreira de Souza formalizou ao órgão, no fim da tarde desta terça-feira (5), seu pedido de aposentadoria.

Por decisão da Justiça, ele está fora das funções desde 2007. Mesmo assim, continua recebendo salários. Se confirmada a aposentadoria, ele deverá ter direito a salário integral, que hoje é de cerca de R$ 35 mil, brutos.

O TCES deve encaminhar o pedido de aposentadoria ao Instituto de Previdência dos Servidores (IPAJM) até esta sexta-feira (8), informou o órgão. Caberá ao instituto previdenciário conceder a aposentadoria a Valci. Quando confirmado e publicado o ato da aposentadoria, caberá ao tribunal declarar a vaga aberta.

O pedido de Valci, protocolado às 17h31 de terça-feira, dá a largada para a corrida pela cobiçada cadeira de conselheiro de Contas. É da Assembleia Legislativa a prerrogativa de escolher o sucessor de Valci – tradicionalmente, um deputado é indicado pelo parlamento, embora não obrigatoriamente um deputado deva ser o dono da vaga.

Há mais de 11 anos afastado do cargo por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Valci Ferreira tem a função exercida por conselheiros substitutos. Ele está em prisão domiciliar desde o ano passado.

O CASO

Em 2016, o STJ condenou o conselheiro afastado a dez anos de prisão, por lavagem de dinheiro e peculato, que é quando usa-se o cargo público para conseguir vantagens.

Os crimes foram praticados na Assembleia Legislativa ainda entre 1997 e 2001, quando Valci era deputado estadual ao lado de José Carlos Gratz.

Na condenação, o STJ também determinou que ele perdesse o cargo definitivamente. No entanto, o caso ainda não transitou em julgado. Hoje, portanto, embora afastado, ele ainda é um conselheiro de contas.

Na última segunda-feira, um dia antes de o pedido de aposentadoria ser formalizado, foi publicada a rejeição de embargos apresentados em recurso extraordinário que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi da 1ª Turma da Suprema Corte, à unanimidade.

Apesar do revés, a defesa de Valci Ferreira diz que seus recursos no STF ainda não foram esgotados e negaram esforço para “correr com a aposentadoria” do conselheiro antes que a Justiça sacramente a perda do cargo.

"A defesa ainda dispõe de recursos, não havendo perspectiva imediata de trânsito em julgado da ação penal", informaram os advogados Marco Antonio Gama Barreto e Henrique Zumak.

A reportagem também perguntou quais os motivos para pedir a aposentadoria neste momento e se não há constrangimentos, por conta da decisão anterior do STJ. “As razões para a efetivação do pedido de aposentadoria são de foro pessoal e (...) se trata do exercício de um direito de quem contribuiu para o sistema previdenciário por longo período”, informaram.

No final do ano passado, Valci havia pedido ao IPAJM a contagem do tempo oficial de contribuição para providenciar a aposentadoria. Fontes com trânsito no TCES acreditam que ele preenche requisitos para receber o salário integral de conselheiro.

Em janeiro deste ano, Valci teve ganhos de R$ 41,4 brutos. Além do subsídio de R$ 35,4 mil, foram outros R$ 6 mil de complementos e correções. Recebeu, líquidos, R$ 16,8 mil. As informações estão no Portal da Transparência do TCES.

Além de descontos previdenciários e aqueles aplicados pela limitação do teto salarial, cerca de R$ 5 mil são retirados por ordem judicial, para reparação dos prejuízos apontados pela Justiça.

Para a ONG Transparência Capixaba, a concretização da aposentadoria de Valci representa a “certeza da impunidade” e “de que ainda se pode enriquecer às custas do Estado com um salário vitalício de um cargo que, para ser ocupado, exige reputação ilibada”.

ENTENDA

Era Gratz

O caso do "Seguro da Assembleia" levou Valci Ferreira à condenação, junto com José Carlos Gratz. Os crimes apontados foram praticados entre 1997 e 2001, quando eram deputados.

Afastamento

O STJ determinou o afastamento de Valci do TCES em 2007. Mesmo fora das funções, ele recebe salários.

Prisão

Em 2017, ele teve a prisão decretada. Só foi preso em fevereiro de 2018, após mais de três meses foragido.

Em casa

Em outubro de 2018, Valci, aos 72 anos, ganhou direito à prisão domiciliar, condição em que permanece.

Tese do Supremo

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Além de estabelecer, em 2018, que só devem ser processadas nas instâncias superiores as autoridades com foro investigadas por crimes que guardem relação com o mandato, o STF também fixou que, quando em fase de alegações finais, a instância competente não é mais alterada. O caso de Valci, mesmo com a aposentadoria, deve ser finalizado no Supremo Tribunal Federal.

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