Publicado em 21 de julho de 2018 às 20:01
Na primeira entrevista do GLOBO com candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro, que será escolhido neste domingo o nome do PSL ao Planalto, admite desconhecer assuntos econômicos e diz que quem responde por ele nesta área é o consultor Paulo Guedes - o seu Posto Ipiranga. O deputado ainda provoca adversários e afirma não entender o que o movimento feminista quer.>
Em declarações públicas recentes, o senhor gerou desconforto ao dizer que não entende de economia. Não é um problema para um candidato que mira o Planalto?>
Não entendo mesmo. Não entendo de medicina, de agricultura, não entendo um montão de coisa. Acho que temos que ter bom senso para governar. Foi o que falei para a equipe do Paulo Guedes (economista responsável pelo programa econômico do presidenciável). O que a gente quer: inflação baixa, dólar compatível para quem importa e exporta, taxa de juros um pouco mais baixa e não aumentar mais impostos. Só pedi coisa boa.>
Mas a economia vai ser um eixo relevante da campanha...>
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Esse é o bê-a-bá, precisa saber mais do que isso? Estou indo para o vestibular ou para campanha política?>
Por exemplo, qual seria a sua política de combate à inflação?>
É com ele (Paulo Guedes). Mas acho que tem que manter a meta que está aí, de 4,5%. Agora, é importante dizer que a inflação está muito mais baixa, não pelo trabalho da equipe econômica, mas sim pelo desemprego e empobrecimento da população.>
O senhor é favorável à autonomia ou até mesmo a independência do Banco Central?>
O Goldf... Como é o nome dele? (um assessor diz o nome de Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central). A ideia do Paulo Guedes é mantê-lo. Outro dia, o Paulo deu uma declaração importante: devemos manter alguns integrantes da equipe econômica atual. Até alertei: Paulo, não fala em manter alguns da equipe, fala o nome dos caras, para não me vincular com o Temer. Daqui a pouco, a imprensa vai dizer que apoio o governo Temer.>
Qual a sua proposta de reforma tributária?>
O deputado Luiz Carlos Hauly está bastante avançado em um projeto. Não vi ainda, mas as informações que tenho são de que, sendo aprovada, vai trazer um grande alívio. O Marcos Cintra (economista) tem fixação em imposto único. Eu, como leigo, acho que é legal, mas também uma utopia. Se conseguir diminuir 15 ou 20 impostos, já seria excelente. É igual à reforma da Previdência: vamos devagar, que a gente chega lá.>
Taxação de grandes fortunas?>
Sou contra.>
E taxar dividendos?>
Quem aplica no mercado financeiro, é isso? Aí eu vou para o Posto Ipiranga. Perguntar para o Paulo Guedes. Não tenho vergonha de falar isso não.>
Tudo o senhor joga para o Paulo Guedes?>
Sobre isso aí (taxar dividendos), eu vou ouvir a opinião dele.>
O senhor é contra aumentar imposto, mas pode assumir um governo com problema de caixa. Onde vai cortar?>
Se para salvar o governo, tem que quebrar os trabalhadores, vamos morrer juntos abraçados. Ninguém aguenta mais pagar imposto. Podemos também diminuir a quantidade de ministérios. Fundir Agricultura e Meio Ambiente. Transformar o Ministério da Cultura só em uma secretaria.>
A negociação durante meses com o PR, liderado pelo Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, não contraria seu discurso contra as práticas da velha política?>
Minha negociação era apenas com o senador Magno Malta. O Valdemar abriu para que eu colocasse quem eu quisesse de vice: do meu partido, do dele ou até mesmo um terceiro. Ele coligaria conosco desde que nós fechássemos aliança no Distrito Federal, Rio e São Paulo. Mas acabou, PR já morreu.>
A aliança do centrão em torno de Geraldo Alckmin preocupa o senhor?>
O centrão diz que vai bater mesmo o martelo lá para o dia 4 de agosto. Podem acontecer problemas entre eles, e alguém vir para o nosso lado. O atrativo que eu tenho é a popularidade. Mas estou muito tranquilo. Se der zebra, eu vou para a praia. Não estou preocupado com isso.>
O senhor quer mesmo ser presidente da República?>
Não estou com obsessão, mas sigo em frente. Acabei de chegar de uma viagem barra pesada. Sozinho, por Goiânia e Rio Verde (GO).>
Está cansado da pré-campanha?>
Eu digo que sou imbroxável, mas estou meio broxa sim.>
O senhor vai participar dos debates?>
Vou, mas sem ficar preso à agenda, no joguinho de discutir besteira. Vou dar um tranco de dez segundos e falar o que interessa. Não adianta querer me amarrar numa pauta. Vou responder o que eu quero.>
O senhor imagina algum adversário caso passe para o segundo turno?>
Acho que não enfrento ninguém. A gente ganha no primeiro turno. O Alckmin acabou de me ajudar com a aliança com o centrão. Vou mandar um beijo para ele. Um beijo hétero.>
Ele tem tentado provocar o senhor nas redes sociais. Vai responder?>
Não vou entrar na pilha dele. Ele perde em casa (São Paulo) para mim em toda pesquisa. Ele tem que se explicar, crescer um pouquinho mais.>
Marina e Ciro também já alfinetaram o senhor publicamente...>
Não sou psiquiatra para responder o Ciro. Já a Marina me chamou de hiena em entrevista a um programa de rádio. Imagina se fosse o inverso. A hiena é um animal que só faz amor uma vez por ano, come porcaria o tempo todo...>
Sabe quanto a sua pré-campanha gastou até agora?>
Não. Fico em casa de amigos. São caras que me convidam, alguns parlamentares. Há uma briga de foice para me levar a qualquer estado do Brasil. Minhas viagens são com o dinheiro do partido. Antes, viajava, em média, uma vez e meia por mês. Agora é quase toda semana.>
Tem empresário ajudando o senhor no empréstimo de jatinhos ou na produção de vídeos?>
Já tive oferecimento de jatinho e helicóptero e não aceitei. Sobre os vídeos, tem gente que faz no amor e manda para cá. As mídias sociais, sou eu que posto.>
Há páginas no Facebook impulsionando postagens favoráveis ao senhor, além de outdoors espalhados pelo Brasil. É tudo espontâneo?>
Eu não tenho nada a ver com isso. Não conheço 99% desses caras. Deve ser gente que tem dinheiro. Tem vaquinha também. Por que está acontecendo tudo isso aí? Porque sou diferente dos outros.>
O senhor propôs aumentar o número de ministros do Supremo, medida tomada no passado pela ditadura militar no Brasil e por Hugo Chávez na Venezuela. Não é autoritário?>
Não. Tem que propor emenda à Constituição, e os nomes seriam acolhidos pelo Senado. Eu indicaria dez. Ninguém em sã consciência acha que o Supremo, em especial a Segunda Turma, está fazendo um trabalho à luz da Constituição.>
Pelos cálculos, o senhor poderá indicar dois ministros do STF se for eleito. Por que quer indicar dez?>
Você tem que ter maioria independente no Supremo.>
Seria dependente do senhor essa maioria, certo?>
Não. Nós sabemos como são indicados os ministros. Em especial, quando começou o mensalão, o critério foi mais politizado e ideologizado. E o Supremo está numa situação de querer legislar. O Conselho Nacional de Justiça também, e o Executivo e Legislativo não tomam providência.>
O senhor defende pontos fora da lei brasileira, como uma espécie de carta branca para policiais matarem em operações nas favelas. Por quê?>
A lei permite só para o lado do crime. Imagina um soldado na rua em missão da GLO (Garantia da Lei e da Ordem). É surpreendido, tem troca de tiros e acaba morrendo um inocente. É justo levar esse garoto para uma Auditoria Militar para uma condenação de 12 a 30 anos de cadeia? Ele tem que ser responsabilizado por tudo isso? Estamos vivendo em guerra, e nela os dois lados atiram. Eu topo manter como está se os especialistas e a imprensa participarem com os policiais de uma operação e mostrarem como têm que fazer.>
Em entrevista para a revista Playboy, em 2011, o senhor disse a seguinte frase: Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Voltaria atrás?>
Negativo. Não foi do nada. Naquela época, o governo estava com um programa para combater a homofobia e apareceu o kit gay (forma como Bolsonaro chama uma cartilha que seria distribuída pelo Ministério da Educação para debater sexualidade no ambiente escolar). Minhas frases foram importantíssimas para combater a questão de ensinar sexo para criancinha a partir de seis anos de idade.>
O senhor acha que é possível ensinar a ser gay?>
Não é ensinar, mas estimular. Se você passa um filme na escola de dois meninos se beijando, o Joãozinho no intervalo pode dar uma bitoquinha no Pedrinho. O garoto, até uma certa fase, imita.>
Um garoto não poder ver um beijo gay mas pode fazer gestos como se estivesse com armas? (Bolsonaro foi fotografado simulando o uso de uma pistola)>
Pelo amor de Deus, você quer comparar beijo gay com isso? Essa foto foi tirada de maneira totalmente espontânea, o pai autorizou e tudo. Ontem fiz mais uma. Chega de frescura, quando eu era criança brincava de arma o tempo todo. Nas favelas, tem gente de fuzil por todo o lado. Um filho vê o pai policial armado todo dia. Não vejo maldade nenhuma nisso. As crianças do Brasil têm que ver as armas como algo ligado à responsabilidade e de proteção à vida.>
Caso eleito, haverá preocupação de gênero na formação da sua equipe?>
Não vai ter essa preocupação de afro, mulher ou gay. Quero gente que dê conta do recado. Pode ter 14 mulheres até.>
O senhor repetiria hoje a declaração de que a deputada Maria do Rosário não merece ser estuprada, por ser muito feia?>
Exemplo: estou jogando futebol contigo. Você me dá um carrinho por trás, eu xingo você e dou uma cotovelada. Chama-se ato reverso. Estávamos discutindo o caso Champinha. Ela perdeu os argumentos, me chamou de estuprador, e eu respondi no reflexo.>
O movimento feminista reagiu fortemente às suas falas...>
Cada um faz o que quer da sua vida. Não estou preocupado com movimento de mulher com braço cabeludo. Não interessa. Quer depilar, depila; não quer, não depila.>
O movimento feminista não é sobre depilação.>
Mas o que o movimento feminista quer? Não sei. Não estou preocupado com isso. >
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