Publicado em 16 de julho de 2019 às 01:42
Na tarde de sexta-feira (12), logo depois que a Câmara começou a votar os destaques da reforma da Previdência, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enviou uma mensagem para Alexandre Frota (PSL-SP) perguntando quantos correligionários ele conseguiria manter em Brasília até às 22h daquele dia. >
O parlamentar respondeu de pronto: 52 dos 53 aptos a votar. >
Naquele momento, o temor de Maia e da equipe econômica do governo era o de que, após a apreciação da proposta do PDT para garantir regras de aposentadoria mais brandas aos professores, os parlamentares deixassem a Câmara sem concluir a análise em primeiro turno da reforma. >
Frota já havia mapeado o número de deputados do PSL no plenário e acionado os sete que não estavam na Casa. Um deles, Léo Motta (MG), estava com a mulher no hospital.>
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Por mensagem de áudio no WhatsApp, Frota pediu que o colega desse um pulo na Câmara "só para votar". Motta respondeu, imediatamente, dizendo que estava a caminho. >
Os articuladores da Previdência precisavam garantir 308 deputados favoráveis à proposta nas votações dos destaques para evitar uma desidratação ainda maior da reforma.>
A preocupação era de que as emendas da oposição pudessem desfigurar a economia desejada pela equipe do ministro Paulo Guedes (Economia). Por isso, a batalha para manter 60% da Câmara em Brasília. >
Os destaques mais temidos pelos auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (PSL) eram de autoria do PT. Juntos, eles poderiam ter impacto de cerca de R$ 500 bilhões na economia prevista pela reforma -os pontos, no entanto, foram derrubados. >
"De tudo que ouvi aqui, acho que passei na prova", comenta Frota. "Já fiz tudo na vida: fumei, cheirei, viajei o mundo. Agora, estou focado na Câmara." >
Ele brinca que, após a maratona da Previdência, já foi "batizado" para fazer parte do que chama de "tropa de choque" do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ingressando no grupo capitaneado pelos líderes da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e do PP, Arthur Lira (AL).>
Encerrada a primeira etapa de análise da reforma da Previdência na Câmara, Frota diz, sem titubear, que a proposta só foi aprovada e avançou no Congresso graças a Maia. >
"Essa reforma da Previdência, da maneira como está sendo feita e construída, com toda certeza não é do Jair Bolsonaro (PSL). É a reforma da Previdência do Rodrigo Maia", disse à Folha de S.Paulo na tarde de sexta. >
"Sempre comparo com o futebol: já que o centroavante, que é o Bolsonaro, não fez o gol, ele [Maia] veio da defesa e fez. O importante é a bola entrar.">
O texto-base foi aprovado na noite de quarta (10) por 379 votos a 131. Na véspera da votação, Frota já havia dito à Folha de S.Paulo que foi Maia quem buscou os votos a favor da reforma, e não o governo. >
"O governo não buscou esse voto. Quem buscou foi o Rodrigo. Fomos nós que ficamos aqui, passamos noites e noites trabalhando voto por voto", afirmou. "Acompanhei diariamente a preparação, a montagem, a maneira como ele se portou diante das bancadas, assumindo o papel que era do governo.">
Frota disse ter passado toda a quarta tentando virar votos a favor do projeto, assumindo uma posição que não lhe foi entregue oficialmente pelo Palácio do Planalto. "Não sou articulador do governo. O governo tinha que estar aqui dentro com a tropa dele montada. Isso foi desgastante", disse.>
Diante da vitória com 71 votos a mais do que o necessário, às 3h25 da madrugada de quinta (11), o ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou uma mensagem para o deputado agradecendo seu empenho. >
"Muito obrigado pelo seu belo trabalho de defesa da Nova Previdência, amigo Frota.">
Frota viu a mensagem às 4h30, quando levantou da cama para fazer uma caminhada de 40 minutos. Pouco antes das 7h, ele já estava na Casa de Maia com o correligionário e presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar. >
"A equipe do Guedes me pediu para fazer o meio campo entre ele e o Rodrigo. Fui lá e fiz", disse.>
A relação entre o presidente da Câmara e o ministro da Economia desandou depois da série de críticas de Guedes aos parlamentares. >
Desde o dia 20 de fevereiro, quando entrou para a linha de frente da articulação da Previdência na comissão especial da Câmara, Frota passou a falar diariamente com Guedes. Os telefonemas aconteciam entre as 6h e as 7h30. >
Além do trabalho de articulador, Frota disse também ter incorporado o papel do que chama de "coordenador de momentos de crise". >
"Tiveram momentos em que eu estava em casa com a minha filha de 4 meses e o Paulo Guedes ligando, de um lado, e o Rodrigo, de outro", contou. >
De acordo com o deputado, um dos episódios mais críticos até aqui foi o anúncio de retirada da capitalização do texto. >
"O grande problema para o Paulo foi ter tirado a capitalização, que era o grande coração [da reforma para ele]. Quando tiraram a capitalização, ele explodiu", disse Frota. >
Nesse período, o deputado neófito também adquiriu o hábito de mandar, todos os dias, mensagens motivacionais no grupo de WhatsApp da equipe do secretário da Previdência e do Trabalho, Rogério Marinho. >
Na manhã de sexta (12), antes da retomada da análise da reforma pelo plenário da Câmara, não foi diferente. >
"Vamos lá. Falta apenas um tempo de jogo. Sei que está todo mundo cansado, mas todo mundo quer ganhar. Agora é mão no peito, cabeçada no queixo, e vamos passar por cima igual a um trem. E vamos ganhar. Pode falar para todo mundo", disse Frota no áudio de 22 segundos. >
Eleito na onda do bolsonarismo para o primeiro mandato, Frota não tem poupado críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Na manhã desta sexta, depois da votação de a reforma entrar pela madrugada, o deputado subiu à tribuna para rebater o que chamou de "bolsonaristas desiludidos". >
Os apoiadores de Bolsonaro foram às redes sociais atacar a decisão do PSL, partido do presidente, de trabalhar para aprovar regras mais vantajosas para a aposentadoria de policiais. >
"Se esses bolsonaristas estão em frenesi e nervosos pela decisão que tomamos a favor dos policiais, eles não deveriam estar aqui nas redes, eles deveriam estar lá na rampa do Palácio [do Planalto], porque o erro vem de lá", disse Frota. >
Na semana passada, Bolsonaro disse que "errou" por não ter incluído regras mais brandas para policiais federais e rodoviários na reforma da Previdência. Passou a atuar para que o Congresso fizesse a mudança no texto da proposta. >
Frota não faz questão de esconder as críticas ao modo de governar de Bolsonaro. Na manhã deste domingo (14), ele foi ao Twitter cobrar nova postura do presidente para a votação em segundo turno da Previdência na Câmara, prevista para 6 de agosto. >
"O governo Bolsonaro precisa entender que vem aí o segundo turno da Previdência e muitas outras pautas importantes. Está na hora de o Bolsonaro dar valor ao Congresso e respeitar os deputados que fizeram um grande trabalho aprovando a Previdência", escreveu.>
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