> >
Traficantes impõem medo e terror na Grande Vitória

Traficantes impõem medo e terror na Grande Vitória

Selecionamos alguns registros já noticiados sobre a Leitão da Silva, Terra Vermelha, Piedade, Central Carapina e Condomínio Ourimar

Publicado em 3 de abril de 2018 às 19:33

Crédito: Marcelo Prest

O terror e clima de tensão em Cariacica desde a tarde desta segunda-feira (2) é mais um capítulo da novela da vida real a qual todos são obrigados a assistir: a violência, que toma conta, cada vez mais, do cotidiano de pessoas e das páginas de jornais. Traficantes impõem medo e terror em todos os municípios da Grande Vitória, conforme já publicado inúmeras vezes no Gazeta Online. Relembre:

BANDIDOS FAZEM DA LEITÃO DA SILVA PALCO PARA DEMONSTRAÇÃO DE PODER

Nesta quinta-feira (30), bandidos colocaram o terror na Leitão da Silva após uma pessoa ter sido baleada no morro São Benedito Crédito: Marcelo Prest

Ser cercada por uma área onde gangues do tráfico de drogas estão presentes altera, por vezes, a rotina de quem transita ou trabalha na Avenida Leitão da Silva, em Vitória. A via tem fluxo intenso de veículos, um comércio forte e interliga vias principais como a Avenida Vitória, Marechal Campos e a Rio Branco, mas tudo para quando criminosos escolhem a avenida para palco de demonstração de poder.

No dia 25 de outubro de 2017, lojistas da Avenida Leitão da Silva tiveram que baixar as portas dos estabelecimentos após um bando armado ordenar o fechamento do comércio. O grupo formado por pelo menos 10 homens com rostos cobertos por camisas desceram o bairro da Gurigica por uma escadaria que dá acesso à Leitão da Silva e fizeram ameaças, por volta das 11 horas. 

O que motivou a ação criminosa foi um toque de recolher pelas mortes de Felipe de Araújo da Rocha e Dener Santos Batista Gomes, ambos de 23 anos. A dupla estava em uma moto quando bateram em um ônibus que subia a ladeira de acesso ao bairro Gurigica. O medo se instalou no comércio e algumas lojas ficaram fechadas até o fim do dia.

No dia 26 de outubro de 2016, lojistas de outro trecho da Avenida Leitão da Silva também ficaram reféns de confusão e toque de recolher devido a um protesto.

Na época, a retaliação criminosa foi em razão da morte de um adolescente, baleado na região dos bairros da Penha e Itararé. Revoltados, manifestantes desses bairros foram até à Avenida Leitão da Silva e jogaram pedras e pedaços de madeira em lojas e carros. Até um veículo dos Correios, que passava pela avenida, foi depredado e teve malotes roubados. Um outro carro foi incendiado.

Na versão da PM, divulgada naquela época, o adolescente Wenderson de Souza Pereira morreu durante a ação policial. Segunda a polícia, no momento da abordagem o garoto estaria traficando e reagiu à voz de prisão, entrando em luta corporal com um dos PMs, mas acabou baleado durante o embate.

Já moradores disseram que o adolescente não era criminoso, e que havia saído de casa para comprar pão, quando foi abordado.

No dia a dia da criminalidade ligada ao tráfico de drogas estão os moradores desses bairros que estão ao redor da Avenida Leitão da Silva.

Qualquer situação que altere a “rotina” do tráfico na região popularmente chamada de Complexo da Penha, a primeira a ser afetada é a população de cerca de 35 mil pessoas, segundo o registro do último senso do IBGE.

A área reune seis bairros: São Benedito, Bonfim, Bairro da Penha, Itararé, Gurigica e Consolação, e em mais dois bairros vizinhos, Jaburu e Maruípe, que também são afetados.

O medo toma conta e se a ordem é fechar portas as crianças acabam ficando sem aulas e quem precisa de ônibus para ir ao trabalho também não consegue, pois as linhas param de circular.

A insegurança também fecha postos de saúde e quem precisa de consulta fica na mão. A descrição dessas situações são recorrentes em bairros onde a lei do tráfico faz de moradores de bem reféns.

Em 2016, até o Campus da Ufes de Maruípe chegou a ser fechado devido à ordem dos bandidos.

HOMENS MASCARADOS E ARMADOS ASSUSTAM COMERCIANTES NA LEITÃO DA SILVA 

Em torno de 10 homens mascarados e armados obrigaram comerciantes a fechar várias lojas na Avenida Leitão da Silva, em Vitória, no dia 26 de novembro de 2017.

No início da tarde, a situação já estava controlada, de acordo com a Polícia Militar (PM). A polícia garantiu que reforçou o policiamento no local para manter a região segura.

Segundo testemunhas, por volta das 11h, os homens entraram nos estabelecimentos, gritaram que o morro está em luto e impuseram o toque de recolher. Segundo o major Gustavo, do 1º BPM, a motivação é um acidente entre uma moto e um ônibus, em Gurigica, que resultou na morte de dois homens.  

Ainda de acordo com pessoas que trabalhavam na região, após a ação, algumas lojas chegaram a ser reabertas, mas voltaram a fechar as portas, porque os bandidos estão ligando para os estabelecimentos e ameaçando invadir os locais. 

BANDIDOS DESCEM MORRO E 'TOCAM TERROR' DE NOVO NA LEITÃO DA SILVA 

Crédito: Internauta | Whatsapp

Em dezembro de 2017, o comércio foi todo fechado. Segundo relato de testemunhas, grupos desceram o morro atirando e também jogando cones de trânsito na via. Uma mulher que passava na hora da confusão ouviu os disparos e também algumas pessoas jogando pedra no meio da via. Ela conseguiu dar à ré e sair do local.

De acordo com os policiais que estiveram na ocorrência, tudo começou por volta de 15 horas, quando a PM foi ao morro São Benedito para averiguar uma denúncia de tráfico de drogas. Quando chegaram ao local, foram recebidos a tiros e revidaram os disparos. Um jovem de 17 anos foi baleado e socorrido em estado grave. Mais tarde, a morte de João Vitor Correia da Paixão foi confirmada. 

Por volta de 17h50, três criminosos da região desceram o morro e resolveram fazer um toque de recolher na Avenida Leitão da Silva. Segundo testemunhas, dois dos bandidos usaram uma touca ninja, enquanto o outro não escondeu o rosto. Eles exigiram que todos os comerciantes abaixassem as portas. Depois, foram para a avenida, pegaram o material da obra que acontece na avenida e jogaram no meio das pistas para impedir o tráfego de veículos.

Os criminosos chegaram a parar um ônibus municipal, que faz a linha 051 (Bela Vista x Consolação). Todos os passageiros saíram correndo e os bandidos jogaram gasolina dentro do coletivo na intenção de colocar fogo no veículo. Enquanto os criminosos jogavam o líquido inflamável, uma viatura da PM passou pelo local e conseguiu impedir o incêndio. Porém, novamente houve troca de tiros na região e os bandidos conseguiram fugir para o morro.

Ainda segundo os policiais, os PMs cercaram os morros São Benedito, Gurigica e Bairro da Penha.

Um morador de 26 anos, que preferiu não se identificar, contou que ouviu vários tiros e que a comunidade infelizmente está acostumada com essa situação. “Não é a primeira vez que isso acontece. Tenho muito medo de ser vítima de bala perdida porque os moradores ficam no meio do confronto entre os bandidos e policiais”, desabafou.

Os representantes da empresa Grande Vitória estiveram no local da confusão para prestar assistência ao motorista do coletivo que foi parado pelos bandidos. No entanto, o motorista da empresa não foi localizado.

Viaturas da Polícia Militar reforçaram a segurança tanto na Avenida Leitão da Silva quanto na Marechal Campos.

BANDIDOS ATIRAM EM LOJA E DEPREDAM CARROS NA LEITÃO DA SILVA 

Terror na Leitão da Silva Crédito: Marcelo Prest | GZ

Um empresário teve a loja alvejada por tiros e o carro depredado na tarde do dia 30 de novembro de 2017, durante a confusão na Avenida Leitão da Silva, em Vitória. Policiais informaram que criminosos fizeram um toque de recolher no local. 

De acordo com o empresário, que preferiu não se identificar, um grupo de 40 pessoas desceu, armado e quebrou os vidros do veículo que estava estacionado em frente à loja. "Além disso, ainda mexeram dentro do carro. Disseram que eles iam colocar fogo, mas alguém teria avisado que era comerciante do local e eles desistiram".

Outras testemunhas disseram que vários carros foram danificados durante a confusão. Alguns motoristas que não conseguiram dar à ré e sair da avenida, tiveram os veículos atingidos por pedras.

Um dos funcionários, no momento da confusão, pediu para a loja ser fechada, pois temia que os bandidos entrassem. "Eu abaixei as portas correndo. Eles dispararam dois ou três tiros no portão. Eu quase morri do coração. Uma cliente, que tem mais de 80 anos, passou mal dentro da loja". Ainda não há estimativa do prejuízo.

POLICIAIS SÃO RECEBIDOS A TIROS EM CENTRAL CARAPINA 

Uma intensa troca de tiros assustou moradores de Central Carapina, na Serra, no dia 20 de dezembro de 2017. Tudo começou quando policiais militares que faziam rondas na região foram recebidos a tiros.

De acordo com o aspirante oficial Rodrigues, da Força Tática do 6º Batalhão (Serra), era por volta de 15 horas quando uma viatura foi ao local após a polícia receber denúncias de tráfico de drogas na região.

"Quando os policiais passavam pela rua Distrito Federal, criminosos em uma área de mata que fica em ciam da rua tentaram uma emboscada, recebendo os policiais a tiros. Os PMs revidaram e houve troca de tiros", contou.

Os policiais pediram reforço e outras equipes foram na região. Ao todo, participaram da ação a Companhia Especializada de Operações com Cães da PMES (Ceoc), o Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer), a Força Tática e a Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp).

Os criminosos fugiram para a área de mata. Durante as buscas, a polícia encontrou uma espingarda calibre 12 que foi abandonada pelos bandidos no quintal de uma casa. Já os cães, encontraram uma pequena quantidade de maconha. 

POLÍCIA PRENDE TRIO ACUSADO DE LEVAR TERROR A CENTRAL CARAPINA 

Estão na cadeia três homens acusados de promover o terror em Central Carapina, na Serra. O trio, de acordo com a polícia, vinha praticando tiroteios constantes no bairro com o único intuito de amedrontar moradores da região. A conta do último ataque, ocorrido no final de janeiro de 2018, é de espantar: seis casas atingidas pelos tiros, um morador baleado no peito e mais de 100 disparos feitos.

Era um sábado, quando moradores da Rua São Paulo foram acordados às 6 horas da manhã, com as rajadas de tiros. O alvo do ataque era a casa onde mora a família do traficante Fábio Aguiar, o Fabinho Cerol, que está preso desde agosto de 2017, cumprindo pena por homicídio.

Apesar de terem um alvo certo, nada impediu Vitor Lucas da Silva Santos, 22 anos; Josué Júnior da Silva, 20; Carlos Henrique Xavier, 22, e Paulo Sergio Oliveira Júnior, 25, de atirarem em outras casas.

“Eles estavam fortemente armados e foram para matar mesmo. Não se importaram em atingir outras residências. Na hora dos tiros, estavam na casa três crianças e três mulheres, sendo uma delas idosa. Isso não fez a menor diferença para eles”, frisa o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra.

Os buracos de bala ficaram espalhados nos muros, janelas, portas e paredes de quase todas as casas da rua. Nas imagens feitas pela polícia dá para se ter uma dimensão do ataque feito pelo grupo que pertence à “Gangue da Vala”, rival ao grupo de Fabinho Cerol.

“Um morador acordou assustado com os tiros e foi na janela do quarto ver o que estava acontecendo e acabou atingido com um tiro no peito. Por sorte, não morreu. Viram ele e atiraram na maldade”, ressalta Sandi Mori.

Vitor foi preso no dia 7 de fevereiro. Já Josué e Carlos Henrique, foram capturados no dia 6, durante uma operação da DCCV. Paulo Sérgio é o único que ainda estava foragido.

O delegado destacou a forma violenta com que Vitor e Josué agiam no bairro. Os dois ficaram presos por dois anos, por homicídio, e saíram da cadeia. Foi então, que os tiroteios começaram no bairro.

Josué é acusado de matar a namorada em 2015 e também os irmãos Ronildo Correa, 32, e Ronilson Correa, 35. O trio preso foi encaminhado para o Centro de Triagem de Viana.

O delegado Rodrigo Sandi Mori destacou que Central Carapina, na Serra, foi o bairro onde mais se matou em 2017. Foram 20 homicídios, sendo todos deles elucidados, além de 36 homicidas presos. 

A primeira é a da Vala, com quatro bocas de fumo, o chefe da quadrilha, liderava o esquema de dentro da cadeia. Outra “cabeça”, segundo a polícia, era Fabinho Cerol, mas foi expulso e perdeu a área. A terceira gangue, a Favelinha, é a que menos lucra com o tráfico, por ter pontos de vendas no final do bairro.

ESTUDANTE RELATA TERROR DE BANDIDOS EM CENTRAL CARAPINA 

Ação policial no bairro Central Carapina, na Serra, terminou com um morto e viaturas apedrejadas Crédito: Fernando Madeira

Nem mesmo aqueles que só queriam estudar escaparam dos momentos de terror que aconteceu na tarde do dia 20 de fevereiro de 2018, em Central Carapina, na Serra. Um estudante de 25 anos contou à reportagem as dificuldades que enfrentou ao tentar ir à escola.

VOCÊ JÁ MOROU EM CENTRAL CARAPINA. POR QUE SAIU?

Saí por causa da violência do tráfico. Meu pai era traficante e morreu no bairro há alguns anos. Para mim, era complicado continuar. Desde então, eu saí. A gente não aguenta mais essa violência. O povo não aguenta mais essa violência. A gente quer uma providência das autoridades competentes. A gente se sente incapaz com tudo isso.

MAS SUA ESCOLA É NO BAIRRO. VOCÊ TENTOU ESTUDAR?

Eu estudo em um colégio aqui e não sabia o que estava acontecendo. Às 17 horas, eu entrei no bairro e vi um monte de criminosos com capuz e armados. A escola estava fechada... Quero mudar de vida, me formar, mas é difícil até estudar. Eu vi os bandidos gritando que iriam colocar o terror, que eles eram o comando. Falaram que iriam cortar as luzes do bairro, que era toque de recolher. Foi quando decidi sair do bairro e retornar para a BR 101.

AO RETORNAR PARA A BR, A POLÍCIA TE ORIENTOU?

Quando voltei para BR 101, o policial mandou colocar mão na cabeça e subir. Eu obedeci, mas foi difícil. Me senti envergonhado como estudante e pessoa de bem. Não esperava ser tratado assim pela polícia. Senti medo, vergonha, tudo junto. É muito difícil passar por tudo isso só por querer estudar.

VOCÊ JÁ FOI MORADOR DO BAIRRO. A SITUAÇÃO SEMPRE FOI DIFÍCIL ASSIM?

Na minha infância era um pouco mais tranquilo, não tinha tanta guerra do tráfico. Atualmente está mais perigoso. Sempre há gente vendendo drogas, com armas para cima e para baixo colocando terror na população. Difícil viver nessa situação... E a gente se sente incapaz. As autoridades precisam tomar uma providência.

CENTRAL CARAPINA: "TIROTEIOS SÃO FREQUENTES E VÃO ATÉ DE MADRUGADA"

Uma moradora de Central Carapina, que prefere não ser identificada, disse que a violência no bairro era constante, com tiroteios que iam até de madrugada. Ela relatou que até alunos não podem estudar em uma das escolas da região, por ameaças de grupos rivais.

No dia 20 de fevereiro de 2018, um jovem de 18 anos morreu em confronto com a Polícia Civil, que foi ao local para prender um traficante, que tinha mandado de prisão aberto. A situação gerou revolta na população, que queimou pneus, depredou uma viatura policial e chegou a causar confusão na BR 101.

COMO FOI A SITUAÇÃO NO BAIRRO?

Foi muito assustador e apavorante. Minha filha chorou muito. Teve marcas de bala na minha casa, além de cápsulas caídas dentro de casa - de 12mm. A única coisa que eu queria era pegar minha filha e sair correndo.

VOCÊS FICARAM SEM ENERGIA. COMO FOI?

Ficamos sem energia durante à noite. Teve muita fumaça porque as pessoas colocaram fogo (em pneus). Algumas pessoas passaram pela rua gritando. Foi desesperador. Todo dia tem tiroteio ali. Não sabemos mais o que fazer.

COMO TEM SIDO ESSA INSEGURANÇA NO BAIRRO?

Frequentemente tem tiroteio, geralmente a partir de uma hora da manhã. Tem muito, inclusive até perto da escola. Muitos alunos aqui de cima não podem estudar lá embaixo, na escola Jones (José Nascimento). Muitas pessoas querem estudar, mas têm que ir para fora do bairro porque não podem ir lá embaixo.

ELES SÃO COAGIDOS?

Muito. Eu estudava e ficava com muito medo de ir lá, porque moro mais na parte de cima. Quem mora aqui não pode ir lá embaixo. Não podemos levar nossos filhos lá na pracinha para brincar por causa de tiroteio. Então é muito assustador.

CENTRAL CARAPINA: GUERRA DO TRÁFICO MATA 20 NO BAIRRO MAIS VIOLENTO DO ESPÍRITO SANTO 

Pedreiro morto a pauladas: crime entrou para estatísticas de homicídios Crédito: Bernardo Coutinho

Aos 10 anos, não são as histórias dos contos de fadas que marcam as lembranças de Ana (nome fictício). O barulho dos tiros e a imagem de corpos ensanguentados não saem da memória da menina, que assistiu às execuções de duas pessoas enquanto brincava na porta de casa, em Central Carapina, na Serra.

Ana viveu esse terror em março de 2017, quando ela, os irmãos mais novos e a mãe ainda moravam no bairro que é, atualmente, o mais violento do Espírito Santo, segundo dados de homicídios registrados na região em 2017.

Só nos sete primeiros meses de 2017, 20 pessoas foram assassinadas na região. O dado assusta ainda mais quando comparado com todo o ano de 2016, quando foram seis mortos. O número de Central Carapina é maior do que o registrado em todo o município de Viana, que até o final de setembro registrou 17 mortes.

Nos três primeiros meses de 2017, Central Carapina parecia uma terra sem lei, segundo a impressão de quem convivia com a insegurança no local. O bangue-bangue entre traficantes resultou em 15 mortes. Em abril, a Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra iniciou uma ação na região, levando 36 pessoas para a cadeia.

“Entre as vítimas, há os que integravam as gangues, assim como há quem morreu devido às regras próprias do poder paralelo desses bandos”, explicou o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da DCCV da Serra.

Após as desarticulações das quadrilhas, Central Carapina ficou três meses sem registrar assassinatos. Mas, em setembro, três pessoas foram mortas. Em uma semana, os assassinos foram presos. E, no meio dessa guerrilha, ainda há uma população de quase sete mil moradores que tenta manter a rotina: ir para a escola, ter lazer, sair e voltar para o trabalho em paz.

CENTRAL CARAPINA FICA SEM ÔNIBUS E COMÉRCIO FECHADO APÓS CONFRONTO 

Batalhão da Cimesp fez abordagens em Central Carapina Crédito: Marcelo Prest

Depois de um confronto entre bandidos e policiais que terminou com uma morte em Central Carapina, na Serra, no dia 20 de fevereiro de 2018, o clima ainda era de tensão no bairro. Parte do bairro ficou sem energia. Escolas, postos de saúde e o comércio local ficaram fechados. Ônibus ficaram sem circular e alguns só voltaram ao bairro com escola policial. A Força Tática e a Companhia Independente de Missões Especiais (Cimesp), da Polícia Militar, permaneceram no bairro.

A dona de casa Maria do Carmo Furtado Santos, de 42 anos, levava a mãe, dona Lúcia, de 68 anos, para o médico. Ela teve que subir até a BR 101 a pé, porque os ônibus não estavam passando direito. 

Uma moradora que prefere não ser identificada disse que a insegurança era frequente, com muitos tiroteios até durante a madrugada. “Muito desesperador. Todo dia tem tiroteio, geralmente a partir de uma hora da manhã na pracinha. Inclusive na escola. Muitos alunos que estudam na parte de cima não podem estudar lá embaixo porque não deixam”, afirma.

De acordo com o comandante da 1ª Companhia do 6º Batalhão, capitão Maurício Alessandro Pinto, a presença da PM nas ruas do bairro Central Carapina fez com que a população se sentisse mais tranquila, mas a situação não se normalizou. 

CENTRAL CARAPINA: TIROTEIO TERMINA EM MORTE E VIATURAS APEDREJADAS

Homicídio em Central Carapina, na Serra Crédito: Fernando Madeira

Um jovem de 18 anos morreu durante um confronto com a polícia no bairro Central Carapina, na Serra, no dia 20 de fevereiro de 2018. A morte causou indignação em moradores do bairro, que apedrejaram duas viaturas, sendo uma delas a do delegado que comandava a ação.

A revolta se estendeu e terminou com carros quebrados e um protesto na BR 101. Ônibus deixaram de circular no bairro e escolas e parte do comércio ficaram fechados.

Uma equipe da Delegacia de Crimes Contra à Vida (DCCV) da Serra chegou a Central Carapina, por volta das 14h30, para cumprir um mandado de prisão contra Paulo Sérgio de Oliveira Júnior, 25 anos, suspeito dos dois últimos homicídios ocorridos no bairro.

A informação da polícia é de que ele estava dentro de uma casa, na Rua Ceará. A residência foi cercada por uma equipe de sete policiais. Quando entraram pelos fundos do imóvel, os investigadores já se depararam com Deusimar Lucas Cunha Neves.

O jovem, que já tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas e foi detido há 15 dias por suspeita de homicídio, estava armado com uma pistola calibre ponto 40, segundo a PC. Deusimar apontou a arma para os policiais e um deles atirou de imediato contra o jovem, que foi atingido por oito tiros, nas regiões das pernas e peito.

Os outros dois suspeitos que estavam na residência conseguiram fugir, inclusive Paulo Sérgio, que era alvo da operação. Contra ele constam cinco mandados de prisão em aberto por homicídio.

Na fuga, Paulo Sérgio deixou para trás uma pistola calibre 9 milímetros, modificada e com capacidade para 30 tiros. De acordo com a polícia, Deusimar era integrante da “Gangue da Vala”, uma das mais violentas de Central Carapina.

Familiares de Deusimar se revoltaram com a morte dele e jogaram pedras na viatura descaracterizada da DCCV da Serra. A pedra atingiu o vidro traseiro do veículo. Neste momento, foi solicitado o reforça da Polícia Militar.

A Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Perícia Criminal foram acionadas para o local e recebidas à pedradas assim que chegaram no bairro. O vidro de trás, onde fica o cofre da viatura, ficou estilhaçado com a pedrada. Moradores ainda atiraram pedras contra os policiais.

O clima no bairro ficou tenso e a equipe de reportagem, inclusive, se abrigou embaixo de uma escada para não ser alvo das pedradas também.

Para ajudar a controlar a situação no bairro, foram deslocadas para o local equipes da Força Tática e Grupo de Apoio Operacional (GAO) da PM, e do Grupo de Operações Táticas (GOT) da PC, além de investigadores da DCCV da Serra, DHPP e da perícia.

Na casa alvo da operação, a polícia descobriu um muro onde os suspeitos praticavam tiro ao alvo. O local estava repleto de marcas de balas e, segundo a polícia, era usado para o treinamento de traficantes.

Os conflitos no bairro  tem sido constantes, motivados por gangues que disputam o controle do tráfico de drogas na região.

CENTRAL CARAPINA: BANDIDO APONTA ARMA PARA PM'S E É BALEADO

 

Fachada da delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, onde o caso foi registrado Crédito: Fernando Madeira

Um criminoso, que não teve a identidade revelada pela polícia, foi baleado na perna ao apontar uma arma para policiais militares que faziam ronda no bairro Central Carapina, na Serra, na tarde do dia 3 de março de 2018. Com ele, foi encontrada uma pistola calibre 380, com dois carregadores e 20 munições. Ferido, o bandido foi socorrido e levado para um hospital. 

O caso aconteceu 11 dias após moradores do bairro presenciarem um confronto entre traficantes e policiais civis que resultou na morte de um jovem.

De acordo com a polícia, tudo começou durante um o patrulhamento no bairro Central Carapina, após os PMs receberam a informação de que indivíduos estariam armados no bairro. Foi montado um cerco na região e a equipe se deparou com um suspeito com as mesmas características da denúncia.

Ao perceber a aproximação da viatura, os policiais afirmaram que o homem fez menção de atirar contra os policiais, que revidaram. O suspeito boi baleado na perna e levado ao Hospital Jayme dos Santos Neves, na Serra. A polícia afirmou que com ele foi apreendida uma pistola calibre 380, dois carregadores e 20 munições do mesmo calibre.

MUROS SÃO PICHADOS COM AMEAÇAS A DELEGADO EM CENTRAL CARAPINA

Ameaças a delegado em Central Carapina, na Serra Crédito: Caíque Verli | CBN

Muros do bairro Central Carapina, na Serra, amanheceram cobertos com ameças ao titular da Delegacia de Crimes Contra a Vida do município , o delegado Rodrigo Sandi Mori. Era ele quem comandava a ação policial que terminou com a morte de Deusimar Lucas Cunha Neves, 18 anos, na tarde do dia 20 de fevereiro de 2018.

Frases como "Vai morre Sendimori (sic)", "Sedimori tá jurado (sic)" e "Bala no Sandimore (sic)" apareceram pichados nos muros do bairro. Há ainda muitas mensagens de luto por Deusimar, que foi atingido por oito tiros na porta de uma casa onde a polícia ia cumprir um mandado de prisão. O alvo do mandado era Paulo Sérgio de Oliveira Júnior, 25 anos, que escapou da polícia. 

Ameaças a delegado em Central Carapina, na Serra Crédito: WhatsApp | Gazeta Online

TIROTEIO, MORTE E TERROR EM CENTRAL CARAPINA  

No dia 5 de julho de 2009, bandidos de duas facções inimigas que agiam no bairro Central Carapina, na Serra, se enfrentaram promovendo tiroteios, atirando contra as casas uns dos outros, e disparando pelas ruas na intenção de impor o terror entre os moradores.

Na guerra das gangues, pelo menos três pessoas foram assassinadas desde o início de julho na região. Além de se atacarem, os criminosos andavam com armas à mostra pelas ruas e atiravam a qualquer hora do dia para amedrontar a população local.

No dia 5 do mesmo mês, as duas quadrilhas se encontraram e promoveram um tiroteio em Central Carapina. Durante a troca de tiros, ninguém saiu ferido. No entanto, o grupo comandado pelo traficante Vinícius se reuniram e, desta vez, fizeram uma vítima.

Nilson da Cruz Alves dos Santos, de 31 anos, foi executado com 23 tiros na porta da residência onde morava. Segundo informações policias, ele era integrante da quadrilha de "Marobá", e foi morto pelo bando rival.

Antes de ser executado, Nilson atendeu a um chamado. Quando ele apareceu na porta foi assassinado. Os disparos, conforme relatou o delegado Josafá da Silva, foram efetuados de pistolas e revólveres calibre 38.

Posteriormente ao homicídio, o traficante "Marobá" foi até a casa de Vinícius e, junto com o bando, alvejou o imóvel com dezenas de tiros. Durante todo o dia, policiais militares e civis estiveram no bairro tentando localizar os membros das quadrilhas. O delegado Josafá da Silva afirmou que pelo menos 10 pessoas foram identificadas como integrantes desses grupos.

CENTRAL CARAPINA: VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA 

Policiais militares fazem revista em suspeitos em Central Carapina, na Serra Crédito: Marcelo Prest | AG

Em fevereiro de 2018, em menos de 24 horas a ação de criminosos foi capaz de mobilizar inúmeras equipes policiais e de alterar a rotina da população nos dois maiores municípios do Estado, assustando todos os capixabas: enquanto em Central Carapina, na Serra, um toque de recolher foi imposto por traficantes após um jovem de 18 anos ser morto pela polícia, em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha, clientes de um bar tornaram-se reféns para que assaltantes pudessem explodir uma agência bancária.

De janeiro a setembro de 2017, 20 pessoas foram assassinadas em Central Carapina, considerado o bairro mais violento do Estado. Todos estes crimes foram solucionados pela Delegacia de Crimes Contra Vida da Serra, que nesse mesmo período colocou 36 suspeitos na prisão.

Mas, à tarde, a criminalidade mostrou que pode ser persistente. Depois de cercar uma casa na Rua Ceará, a fim de cumprir um mandado de prisão contra Paulo Sérgio de Oliveira Júnior, 25 – suspeito dos dois últimos homicídios ocorridos no bairro – sete policiais civis se depararam com Deusimar Lucas Cunha Neves, 18. Segundo a polícia, o jovem já tinha passagem por tráfico e apontou uma arma na direção da equipe. Por oferecer perigo, ele foi morto com oito tiros.

A morte desencadeou a revolta de moradores, que apedrejaram viaturas e iniciaram um protesto na BR 101. Um toque de recolher também foi imposto por traficantes, que cortaram parte da energia do bairro (reestabelecida na manhã de ontem) e determinaram que escolas ficassem de portas fechadas.

CHEFÃO DO TRÁFICO É PRESO EM CENTRAL CARAPINA 

Josimar Cardoso dos Santos, o "Jojo", 32 anos, foi preso por agentes da DCCV da Serra Crédito: Divulgação / PCES

Um dos bandidos que ordenava toques de recolher e assassinatos em Central Carapina, na Serra, foi preso, por volta das 11h, do dia 27 de fevereiro de 2018. Josimar Cardoso Santos, o Jojo, de 32 anos, foi capturado durante operação da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra, junto com outros três comparsas.

De acordo com o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da unidade, o criminoso comandava a Gangue da Vala, responsável por grande parte dos homicídios de Central Carapina. Jojo estava com um mandado de prisão em aberto por um assassinato cometido a sangue frio, em plena festa de Réveillon deste ano. A vítima foi Clemilson da Silva Ferreira.

Após a execução, Josimar mandou que um comparsa, Josué Júnior da Silva, que já havia sido preso dia 8 de fevereiro, desovar o corpo no bairro Diamantina. “O objetivo era incriminar a quadrilha rival. Mas com as investigações conseguimos descobrir que o Josimar havia sido o autor do homicídio”, ressaltou Mori.

Na manhã do dia 27, por volta das 11h, policiais da DCCV da Serra foram até um possível endereço de Jojo e, ao chegarem de surpresa, encontraram o chefe da gangue da Vala.

Com ele, estavam José Carlos Muniz da Silva Júnior, 26, Carlos André Ramos da Silva, 30, e Henrique Souza dos Anjos, 21. Os bandidos estavam preparando uma carga de crack para a venda.

O delegado ressaltou a importância da prisão de Josimar. Segundo Sandi Mori, ele foi o responsável pelo clima de tensão imposto aos moradores do bairro. Bandidos decretaram um toque de recolher e apedrejaram viaturas após a morte de Deusimar Lucas Cunha Neves, 19 anos, em confronto com policiais civis.

Somente Paulo Sérgio de Oliveira Júnior, o Docinho, 25, ainda é procurado. O bandido é considerado um dos mais perigosos e atua como braço armado da gangue da Vala. “Nós não vamos parar enquanto não pegarmos o Paulo Sérgio. Estamos desarticulando essas quadrilhas e trabalhando para trazer tranquilidade aos moradores de Central Carapina”, concluiu Sandi Mori.

CENTRAL CARAPINA: MORADOR MORREU POR SE RECUSAR A OBEDECER TRAFICANTE 

Na guerra do tráfico, também morre quem não atira. Na lista dos 20 mortos no bairro, há quem nunca empunhou uma arma ou vendeu uma bucha de maconha. Outras vítimas foram alvos dos próprios parceiros de facção ou durante os enfrentamentos com rivais na luta por um objetivo: espaço para traficar e poder dentro de Central Carapina.

Geraldo Martins foi assassinado com vários tiros dentro de sua padaria Crédito: Marcelo Prest

Entre os que pagaram com a vida por não aceitar as leis dos traficantes estava o padeiro Geraldo Martins Soares, 56 anos. Comerciante, marido, pai, trabalhador que acordava às 5 horas e morador de Central havia sete anos. Ele foi morto no início da manhã do dia 18 de fevereiro.

“Acordei com os tiros. Morávamos em cima da padaria. Mas tiro tinha todo dia, só não imaginava que era meu marido o alvo deles”, lamentou a viúva do padeiro, que não quer ser identificada. O padeiro foi morto porque não cumpriu a ordem de “toque de recolher” imposto pela Gangue da Vala.

O vaivém entre as áreas da Vala e da Favelinha, como trabalho exigia, foi o suficiente também para que traficantes assassinassem o entregador de material de construção Wedson de Almeida Miranda, em 9 de janeiro.

“As idas frequentes dele para fazer entrega fizeram os traficantes do grupo da Favelinha acreditarem que ele estivesse passando informações para outros grupos”, contou o delegado Rodrigo Sandi Mori.

Já Maicon Douglas Azevedo foi morto por estar no lugar errado e na hora errada. Ele estava acompanhado de Renato de Souza Freitas, que deixou de morar em Central Carapina após ser jurado de morte.

No dia 12 de fevereiro, porém, eles foram a um jogo de futebol na comunidade. A ameaça de morte foi cumprida e Maicon executado junto do amigo.

No mês de março, uma aposentada de 60 anos foi atingida por bala perdida, quando chegava em casa, acompanhada da neta.

“Antes das prisões, era tiroteio quase todo dia. Eu tinha que jogar minha filha pequena no chão com medo de sermos baleadas. Agora podemos antes na rua. Só não sabemos por quando tempo a paz vai durar”, desabafou uma moradora, de 23 anos.

MORRO DA PIEDADE: MEDO, FAMÍLIAS EXPULSAS E MULHERES AGREDIDAS 

No dia 25 de março, um dia depois dos irmãos Damião Marcos Reis, de 22 anos, e Ruan Reis, de 19 anos, serem executados a 200 metros de casa no Morro da Piedade, em Vitória, um morador do local conversou com a equipe do Gazeta Online sobre o clima de luto e medo na comunidade, que já existia antes das execuções. 

O homem, que preferiu não se identificar por motivo de segurança, disse que cinco famílias foram expulsas do morro por pessoas envolvidas com o tráfico de drogas, uma delas há um mês. 

Contou ainda que mulheres tiveram o cabelo cortado e levaram "tapa no rosto na frente de todo mundo". 

Sobre a morte dos jovens, o morador afirmou que foi uma cena de horror, e no domingo crianças brincavam nas mãos com cápsulas dos tiros disparados no crime. Foram mais de 60 disparos nos assassinatos. 

EM CARTA, MORADORA DA PIEDADE RELATA MEDO E DOMÍNIO DO TRÁFICO 

O silêncio imposto por traficantes aos moradores do no morro da Piedade, em Vitória, foi rompido. Uma carta feita por uma mulher que mora há 30 anos na comunidade deixou a mostra como pessoas de bem vivem reféns do medo. No documento, ela pede socorro às autoridades.

”Ficamos muito tristes ao ver famílias sendo agredidas e ameaçadas por bandidos, que aterrorizam a comunidade, com armas apontadas em suas cabeças, colocando medo em pessoas trabalhadoras e do bem (sic)”, descreveu a moradora entre as linhas da folha de caderno.

Carta enviada por moradora do morro da Piedade, em Vitória Crédito: Reprodução
Carta enviada por moradora do morro da Piedade, em Vitória Crédito: Reprodução

O bairro ainda vive o luto da execução dos irmãos Ruan Reis, 19 anos, e Damião Reis, 22, mortos com mais de 20 tiros cada um, na madrugada do dia 25 de março. Os jovens cresceram na comunidade e participavam de projetos sociais.

No dia do crime, quatro criminosos invadiram a casa onde eles moravam e perguntaram “cadê o patrão?”. Ruan disse que não sabia sobre o que falavam, por isso, foi levado pelo grupo. Assim que soube que o irmão havia sido levado, Damião foi atrás de Ruan e ambos foram assassinados.

Segundo a carta, essa é uma história que pode se repetir a qualquer instante enquanto o tráfico continuar a dominando o bairro.

“Com a guerra do tráfico, várias pessoas foram baleadas e mortas na comunidade e nas vizinhas, como Fonte Grande, Moscoso e Piedade. É lamentável saber que dois rapazes que não tinham envolvimento com o tráfico, eram trabalhadores e jovens, foram assassinados. Nos perguntamos todos os dias até quando vamos conviver com tanta violência?”, desabafou no manifesto escrito.

Em outro trecho, ela pontuou de onde vem o medo maior: “Ou fazemos o que eles querem ou somos expulsos ou até mesmo mortos, pois não temos escolhas”, destacou.

Ao final dos relatos, a moradora pediu um posicionamento da polícia. “Convivemos com o medo, violência e com a a morte todos os dias. Pedimos às autoridades que, por favor, venham olhar por nós, estamos reféns de bandidos”, conclui.

FAMÍLIA DO TRÁFICO DOMINA PIEDADE E IMPÕE TERROR, DIZ MORADOR EXPULSO

Vivendo tão perto dos palácios da Fonte Grande e Anchieta, sedes do Governo do Espírito Santo, moradores do Morro da Piedade, em Vitória, passaram por tempos difíceis. Lidaram com o luto recente da morte dos irmãos Damião Reis, 22 anos, e Ruan Reis, 19 anos, executados com mais de 40 tiros no dia 25 de março - que todas as pessoas ouvidas pela equipe do Gazeta Online disseram ser inocentes - e sofreram com o domínio que uma família do tráfico, segundo testemunhas, impõe à comunidade.

Após a publicação da reportagem do Gazeta Onlinedenunciando a atuação de traficantes na região, outros moradores procuraram a Redação para contar o drama de quem vive na área e a situação delicada das pessoas expulsas do local. Algumas, só com a roupa do corpo.

De acordo com um morador expulso da Piedade, essa família que comanda o tráfico de drogas no local veio fugida de Cariacica há aproximadamente oito anos. Primeiro, se instalaram no Morro da Fonte Grande, onde teria expulsado sete famílias, em seguida, foi para a Morro da Piedade. "A gente nem imaginava como eles eram. A mãe rouba e tem mandado de prisão, tem filho preso e outros soltos", diz o homem, que não será identificado por questões de segurança.

"A GENTE ESTÁ À MERCÊ DOS BANDIDOS"

Obrigado a sair de casa pelos traficantes, o morador precisou deixar a comunidade e só conseguiu levar poucos objetos. "Naquela hora, se eu tenho uma arma ali, teria feito uma besteira. Eu tô cansado de tudo. Se eu morrer hoje, é a mesma coisa. Pra mim, tanto faz. Procurei as autoridades e o Ministério Público. Mas tive que sair. A gente está à mercê dos bandidos. Estou escondido em um lugar, pagando aluguel sem poder, um mês eu pago, deixo o outro atrasado. Saí para não acontecer uma tragédia", desabafa.

Segundo o ex-morador, algumas dessas casas abandonadas por pessoas ameaçadas na Fonte Grande e na Piedade foram apedrejadas e estão à venda pelos criminosos. Mas quando o dono do imóvel tenta vender para outra pessoa, os bandidos não deixam. 

Ele afirma que cinco famílias foram expulsas recentemente da Piedade. Dessas, algumas pessoas foram agredidas e outras tiveram armas apontadas para a cabeça. "Eles são um terror. É um absurdo isso. Botaram uma mulher para descer. Se ela subir, morre. Eles acham que a gente tem que compactuar com eles. E a mãe dessa família (que domina a região) fala que tem que matar mesmo", enfatiza.

Outro morador, que também não será identificado, confirmou a história de que uma família comanda o tráfico na região. Sem dar muitos detalhes, ele explicou que há uma briga no morro envolvendo a ex-mulher de um traficante local. Esse fato tem ligação com algumas das expulsões, mas não com todas.

A situação das mulheres é muito delicada. "Lá é o seguinte: se as mulheres não ficarem com eles (traficantes), mulher nova de 15, 16 anos, eles cortam o cabelo e batem nelas. Por exemplo: se o pai da menina for falar com eles, é arriscado até matarem", relata um morador.

Uma outra pessoa reforça que mulheres foram agredidas e ameaçadas.

PROTESTO E TOQUE DE RECOLHER EM VILA VELHA

Protesto e toque de recolher em Vila Velha Crédito: Victor Muniz | Gazeta Online

Na manhã do dia 26 de fevereiro de 2018, moradores da região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, interditaram a Rodovia do Sol na altura do bairro 23 de Maio. O motivo seria a morte de Leandro de Paula Almeida, de 28 anos, que entrou em confronto com a Polícia Militar no domingo, na parte da noite. Por conta disso, moradores atearam fogo em móveis, madeiras e pneus e fecharam o trecho que dá acesso ao bairro pela Rodovia do Sol, ao lado do viaduto do bairro.

Na versão da Polícia Militar, durante um patrulhamento, os policiais foram recebidos no bairro com disparos. Leandro, que estava armado, teria corrido. Ao realizar buscas na região da Grande Terra Vermelha, a polícia achou um dos indivíduos ferido, com uma arma calibre 38 com 6 munições - quatro intactas e duas deflagradas. O indivíduo foi socorrido e encaminhado para o Hospital Estadual Antônio Bezerra de Faria, em Vila Velha, mas não resistiu aos ferimentos.

Segundo os familiares da vítima, Leandro estava no bairro com um alvará de soltura. O crime que ele cometeu não foi informado. No momento em que a polícia foi fazer a abordagem, ele estava sem o alvará em mãos e saiu correndo. Neste momento, os policiais atiraram sem que Leandro atirasse de volta. A família também informou que ele não estava armado.

Revoltada, a população do bairro ainda depredou um ônibus do sistema Transcol. O veículo foi apedrejado e pichado com dizeres de "luto" e xingamentos contra a Polícia Militar. O veículo foi para o DPJ de Vila Velha e seguiu para a garagem.

A situação nos bairros 23 de Maio e Ulysses Guimarães era de toque de recolher. A PM e a Tropa de Choque estiveram no local para impedir que os moradores voltassem a fazer barricadas. O comércio do bairro continua fechado e ônibus foram apedrejados.

CONDOMÍNIO OURIMAR: DO SONHO DA CASA PRÓPRIA AO PESADELO DO TRÁFICO

Um condomínio popular dominado pelo crime: assim é Ourimar, na Serra. Localizado às margens da Rodovia ES 010, a poucos metros da praia de Manguinhos, o conjunto habitacional tem cerca de dois mil moradores, divididos em 608 apartamentos, que vivem sob regras impostas por traficantes desde 2016, quando foi criado.

A maioria dos habitantes do condomínio vive refém do medo. São trabalhadores que sonhavam com a casa própria, mas que se viram obrigados a seguir à risca as leis criadas por traficantes. "Os moradores são retirados do local na mira de armas e, se discordarem, sabem que serão mortos", denunciou um ex-morador.

E quem enfrenta a presença dos traficantes sofre punições. Somente em 2017, foram registradas 48 ocorrências de famílias que foram expulsas violentamente dos apartamentos. Gente que precisa de um teto para criar os filhos e ter uma vida digna. "Morar em Ourimar é lutar pela sobrevivência", resume uma moradora do condomínio.

Por segurança, os moradores e ex-moradores ouvidos pela reportagem não são identificados. "Foi uma felicidade vir morar aqui, eu tinha expectativa de viver em segurança, pois vinha de um bairro perigoso e queria ter paz e conforto. Mas não foi bem isso que encontrei em Ourimar", lamentou um morador de 56 anos.

E não precisa nem entrar no condomínio para saber que existem leis paralelas. Logo na chegada, pichado nos muros ao lado do acesso principal, o recado é claro: "Abaixe os vidros (do carro) e farol", acompanhados do desenho de uma arma. Depois de passar, a vigilância começa. “Os traficantes fazem patrulhamento dia e noite, como se fossem policiais", contou uma ex-moradora, em denúncia à polícia.

EXPULSÕES E MEDO

A tomada do condomínio Ourimar pelos criminosos foi rápida e rasteira. "Era um amigo ou um parente que ia visitar o morador, depois passou a vender droga aqui ou ali. Daí a pouco tinha uma boca de fumo e gente armada ameaçando morador."

Os moradores sabem que negar a presença e as exigências dos meliantes que comercializam drogas é um desafio. "Já colocaram arma no rosto do meu neto pequeno só porque meu genro entrou no prédio com o carro", contou uma moradora.

Os apartamentos que forçadamente são desocupados passam a ser residência dos bandidos ou dos parentes deles. "Ambulância não entrava mais lá pois os funcionários têm medo. Nem sempre conseguimos receber as correspondências, pois os entregadores têm receio pela fama provocada por um grupo de criminosos", desabafa uma vizinha.

Em setembro de 2017, um traficante, vestido com um colete a prova de balas e empunhando uma arma longa, entrou no apartamento de uma mulher e exigiu que o filho dela passasse a atuar no tráfico de drogas praticado pela facção. Não era um pedido, mas uma ordem. Por se recusar, a família foi obrigada a abandonar o imóvel.

PORTÕES MONITORADOS POR CRIANÇAS

Atulamente, para ultrapassar os portões que fecham os blocos do condomínio durante o dia, o motorista tem que aguardar crianças de 5 a 7 anos. São elas que têm a missão de abrir os portões, da maneira mais lenta possível. "É uma estratégia que ajuda a retardar a entrada de policiais ou inimigos, dando tempo para qualquer traficante que reside em Ourimar fugir ou esconder drogas e armas. Eles sabem que qualquer pessoa adulta terá que ter calma para lidar com as crianças", afirmou o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCVV) de Serra, que atua na área.

Com 608 possibilidades de esconderijo, divididos em prédios praticamente idênticos e ainda com possibilidade de fuga por mata, o condomínio virou um quartel que oferece proteção e conforto para os traficantes. "Às 16 horas começa o movimento. Entra e sai de motos e carros. Às 7h some todo mundo, trocam de apartamentos para tirar o foco e enganar a polícia. A maioria era de fora e veio chegando e tomando o lugar", explica um morador.

A área de Ourimar é cercada de mata, uma rota de fuga dos bandidos que tomaram conta do local. A cerca que rodeava o condomínio foi arrancada para que os bandidos tenham acesso, de forma rápida, à rodovia ES 010 e o bairro vizinho, Vila Nova de Colares.

VALE TUDO PARA NÃO CHAMAR A ATENÇÃO DA POLÍCIA

A mesma população que sofre com a violência e medo também encontrou nos traficantes apoio para as dificuldades que vivenciam diante da ausência do estado. São os mesmos traficantes, seus algozes, que fornecem transporte para hospital e gás de cozinha para quem não tem dinheiro. "Ele era o 'governador' do condomínio. Não queriam polícia ali dentro, por isso tentava tratar bem os moradores", conta uma moradora ao falar sobre Brian Lopes Oliveira, um dos criminosos que chegou à chefia da facção dentro de Ourimar e que hoje está preso.

Se alguém passava mal, os traficantes davam dinheiro para o morador pagar o táxi para ir ao pronto-socorro. Se remédios eram a necessidade, o lucro do comércio de drogas também bancava. Até cesta básica era doada. Os traficantes interviam em brigas de marido e mulher. Tudo para que a polícia não fosse comunicada sobre o que acontecia no condomínio.

Em troca, o poder paralelo obrigava qualquer morador a permitir a entrada dos bandidos nos apartamentos, a qualquer hora e dia, para servir de esconderijo em perseguições policiais ou de inimigos. "Os traficantes pagaram um técnico de internet para 'puxar' ilegalmente a internet de moradores que contratam o serviço corretamente. Eles distribuíram a internet para os outros residentes, escolhidos pelos traficantes, para que, em troca, vigiassem os locais de acesso aos prédios", afirma o delegado Rodrigo Sandi Mori.

A vigilância de quem colabora com a "lei e a ordem" do tráfico faz com que quando uma viatura da Polícia Militar ou da Polícia Civil, mesmo descaracterizada, entra na área de Ourimar, o som que percorre as ruas internas é o dos assovios altos. "O objetivo é avisar a quem interessa que a polícia entrou. Cada vez que a polícia entra, alguém é expulso pois os traficantes escolhem alguma família para expulsar e pagar pela prisão de algum traficante. É um terror constante", completou Sandi Mori.

TRAIÇÃO, TIROS E MORTES NA BUSCA PELO PODER

Marcos Antônio da Silva Xavier, o Mata Rindo, foi o primeiro criminoso a impor leis dentro de Ourimar. Segundo investigações da Polícia Civil, ele era temido por moradores e tinha como aliado Brian Lopes de Oliveira. As atitudes do “chefão”, porém, desagradavam até o próprio amigo. O líder do bando não repartia o dinheiro do comércio de drogas, era arrogante com os morares e temia ser traído.

Em 4 de junho, Mata Rindo é assassinado. A morte dele deu início a uma gananciosa busca pelo posto de "síndico" do tráfico no condomínio. Brian assumiu o status de Mata Rindo, ao lado de Douglas Fernandes Pinto, o Drogba. Porém, a liderança de Brian dura pouco e ele acaba preso no dia 11 de julho.

Na sucessão do cargo entra Drogba. Segundo a polícia, após assumir a chefia, ele manda matar Daniel de Almeida Moraes, que era gerente do tráfico de Brian e Mata Rindo. Por ser um cargo de confiança, Drogba coloca seu amigo de infância, Alan Lucas Camilo Leme, no posto. Mas o mandato de Drogba também durou pouco. Após três meses, ele foi preso pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Serra pela morte de Mata Rindo e outras três pessoas, no dia 20 de outubro, junto do amigo Alan.

Como ser chefe era o desejo de todos, caiu no colo de Jabez Luiz da Conceição Filho, o Baiano, a responsabilidade do posto. Mas o poder subiu à cabeça e ele não agradou. Segundo a polícia, ele era violento e não tinha diálogo com os moradores. Com isso, Baiano foi assassinado no dia 8 de novembro. Os acusados do crime são Helisson Silva de Souza, Marlon Rosa Machado e um adolescente de 17 anos.

Helisson permaneceu 15 dias como chefe do tráfico, até em mais uma operação da DCCV de Serra colocá-lo na prisão, junto com os comparsas, dando um fim a uma geração que implantou o comércio de drogas e medo aos moradores de bem de Ourimar.

"Ouvimos socorro de moradores quando vamos lá. A DCCV entrou na região depois que o crime aconteceu, pois nossa função é investigar e prender autores quando o homicídio já ocorreu. Porém, estamos trabalhando integrados com a Polícia Militar, Ministério Público, Justiça e a Prefeitura para que ações conjuntas sejam feitas com objetivo evitar que os prédios sejam ponto de abrigo e domínio de meliantes”, enfatizou o delegado.

Apesar das ações, o próprio delegado diz não poder afirmar que não haverá mais crimes dentro de Ourimar. “Temos consciência de que o tráfico pode se reestruturar, por isso as ações de prevenção são necessárias", afirmou Sandi Mori.

"CONDOMÍNIO DE GENTE, NÃO DO TRÁFICO"

A situação em Ourimar fez com que ações imediatas, fora do alcance da polícia, começassem a ser aplicadas na região. Segundo o secretário de Defesa Social de Serra, Coronel Jailson Miranda, a prefeitura organizou um grupo formado pelas polícias Civil e Militar, Ministério Público e secretarias para intervir de maneira integrada no condomínio.

Coube à prefeitura instalar projetos sociais e de infraestrutura para o condomínio. Um exemplo é a reclamação frequente de moradores sobre a dificuldade em ter acesso a ônibus, pois há poucas linhas disponíveis e o ponto do coletivo é distante. "Estamos fazendo esse levantamento para que os moradores tenham mobilidade e infraestrutura", garantiu coronel Miranda.

Em novembro, duas câmeras de monitoramento foram instaladas na entrada do condomínio, tanto para inibir crimes como para ajudar nas investigações. Para reinstalar a presença da legalidade dentro de Ourimar, também foram retiradas as barracas que formavam uma feira livre no local. Projetos sociais profissionalizantes e cursos de informática também estão sendo oferecidos aos moradores.

O terreno no entorno de Ourimar recebeu limpeza e iluminação para dar mais acessibilidade às viaturas da Polícia Militar que fazem o patrulhamento na área. "O trabalho tem sido intenso. Não temos nenhuma dificuldade em entrar no condomínio e contamos com o apoio da população", afirmou o major Max Werneck, comandante da 14ª Companhia Independente da Polícia Militar.

Além disso, os moradores que não têm autorização e documentação para residir vão ter que sair. “Hoje tem síndico nos dois blocos do condomínio. Buscamos dar tranquilidade e esperamos que os moradores de Ourimar voltem a ter crença no Estado para melhorar a vida de quem vive lá. É um trabalho em todas as frentes e de forma harmoniosa, buscando sempre ouvir e envolver a comunidade que lá reside", declarou o secretário.

O olhar do poder público para os apartamentos de Ourimar fez nascer esperança em que mora lá e vive cercado pelo medo. "Quero não ter que acordar no meio da noite por causa de barulho de tiros, quero ter lazer para mim e para meus vizinhos e ver as crianças brincando na área comum. Desejo que se torne um condomínio de gente e não do tráfico", disse, ainda esperançoso, um morador de 56 anos.

POLÍCIA PRENDE CHEFE DE FACÇÃO QUE COMANDA CONDOMÍNIO OURIMAR  

A Polícia Civil afirmou que prendeu o chefe da facção criminosa do Condomínio Ourimar no dia 17 de janeiro de 2018. Fábio Rodrigo Anchieta de Carvalho, vulgo “P2”, comandava uma  facção de Feu Rosa, e assumiu também o comando no Condomínio Ourimar, após a prisão de Helisson Silva Souza, no dia 16 de novembro de 2017.

Ele já tinha um mandado de prisão preventiva pelo homicídio de Henrique Alves, que aconteceu em outubro de 2017, na frente do condomínio. Na ocasião, Henrique teria ido visitar a namorada e foi confundido com um membro da facção rival. Os outros dois suspeitos desse crime já foram presos em outubro de 2017, pela Delegacia de Crimes Contra a Vida de Serra. 

De acordo com o delegado Rodrigo Sandi Mori, em um período de cinco meses, a DCCV Serra realizou cinco operações no local e prendeu 15 homicidas. “Todos os crimes cometidos na região foram investigados e elucidados, sendo o preso de hoje o único que até então se encontrava foragido”.

TRAFICANTES DE OURIMAR IMPEDEM ENTRADA DE AMBULÂNCIA NO CONDOMÍNIO

Imagem aérea do condomínio Ourimar Crédito: Divulgação | PMES

A audácia dos traficantes que tomaram conta do condomínio Ourimar, na Serra, não para. No dia 9 de março de 2018, bandidos armados impediram que um morador recebesse atendimento médico de urgência dentro do residencial. Eles obrigaram a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a parar na entrada na entrada de Ourimar e fizeram ameaças aos socorristas.

O socorro de emergência médica era para atender um morador que estava desmaiada após uma crise convulsiva. Ao chegar ao condomínio, por volta das 14 horas, a ambulância foi abordada por bandidos exibindo armas. Eles exigiram que os socorristas abrissem as portas da ambulância. Para as vítimas, o objetivo era furtar equipamentos médicos. Porém, os socorristas argumentaram para que desistissem do crime e conseguiram fazer com que eles não levassem os materiais.

Os bandidos, então, ameaçaram a equipe e disseram que deveriam abandonar o local o mais rápido possível, caso contrário, atirariam. A ambulância deixou Ourimar sem prestar socorro ao morador que necessitava do atendimento. A Polícia Militar foi acionada e realizou patrulhamento na região após os funcionários do Samu deixarem o local, porém, nenhum suspeito foi localizado.

Essa não foi a única ação criminosa de bandidos que fazem dos moradores de bem de Ourimar reféns do medo e da apreensão. Pela primeira vez desde que traficantes passaram a usar o local como ponto de moradia, esconderijo da polícia e comércio de drogas, uma pessoa foi assassinada dentro de um dos apartamentos durante um culto evangélico. Dois autores do crime foram presos pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Serra. Segundo a polícia, os moradores abandonaram o apartamento após o crime com medo. No ano passado, foram registradas sete mortes decorrentes da força da presença do tráfico.

No dia 06 de janeiro, o motorista de uma caminhonete, de 60 anos, foi assaltado dentro do condomínio. Ele levou um soco no rosto e depois foi esfaqueado no peito. Devido à violência que sofreu, ele desmaiou e foi socorrido por Policiais Militares, acionados por moradores do condomínio, para o Hospital Jayme dos Santos. A caminhonete e os pertences do motorista foram levados pelos criminosos.

"O medo nos sufoca no lugar que é o nosso lar. Temos que entrar mudos e sair calados para onde quer que formos. Moradores já foram expulsos esse ano. A lei agora é de que quem abrir a boca, morre. Não sabemos mais o que fazer, nem descer dos apartamentos à noite podemos mais, ninguém mais fica na área comun do condomínio por medo de sofrer nas mãos de pessoas armadas e sem limites", desabafou um ex-morador que não será identificado por segurança.

Se não for pela ordem explicita dos traficantes para sair, há quem desista de morar lá. "Quem tem ajuda para sair e ficar morando de favor na casa dos outros, vai embora. E são pessoas de bem que sofrem com isso tudo", completou o ex-morador.

E quem sai nem sempre leva o que tem. "Eu e minha família não voltaremos pra lá. Parte das nossas coisas foram roubadas quando deixamos o apartamento este ano. Até roupa levaram. O que sobrou, conseguimos pegar dias depois. Antes, ainda tínhamos certa tranquilidade. Agora, quem não tem medo de morar ali?", desabafou uma ex-moradora que deixou um dos apartamentos por medo.

HOMEM É PRESO COM ARMA DENTRO DE CONDOMÍNIO DA SERRA 

Homem é preso com arma dentro de condomínio da Serra Crédito: Montagem Gazeta Online/Divulgação PM

Um homem foi preso depois de uma troca de tiros envolvendo quatro policiais militares e dois suspeitos no condomínio Ourimar, na Serra, na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2018. Com ele, uma arma de fabricação caseira calibre 28 e cinco munições foram apreendidas. Os policiais não conseguiram identificá-lo, porque ele estava sem documentos. 

De acordo com a Polícia Militar (PM), quatro policiais chegaram ao local e viram um homem com uma arma de fogo, semelhante à calibre 12. Quando entraram no condomínio, os PMs deram conta do segundo suspeito, também armado. Em seguida, a troca de tiros começou. Os policiais efetuaram 24 disparos, segundo o boletim de ocorrência. 

Instantes depois, os homens fugiram. Um deles, o que foi preso, se escondeu embaixo de um carro que estava estacionado no local. O suspeito alegou que havia sido baleado na troca e tiros e foi encaminhado para o Hospital Jayme Santos Neves, também na Serra. 

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais