Aos 85 anos, a aposentada Iracema Ferreira de Barros pôde viver, na tarde desta sexta-feira (18), um dos últimos desejos que, segundo ela, tinha pedido a Deus para realizar: ver o acusado de mandar a filha, Vanuza de Barros, ser julgado pelo crime.
"Tinha muito de morrer antes do julgamento. Agora me sinto aliviada, não tem nada pendente", confidenciou à reportagem de A Gazeta, via telefone, horas depois de Sergio Magalhães Gaudio, ex-companheiro de Vanuza, ser condenado a 21 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado.
Gaudio, hoje com 77 anos, foi considerado culpado pelo Tribunal do Júri e apontado como mandante do crime. Ele teria contratado um pistoleiro para executar a mulher na porta da clínica onde ela trabalhava, em Jardim Camburi, Vitória, em outubro de 2001.
Um dos motivos seria uma traição que ele descobriu, após contratar um detetive para seguir Vanuza. Além disso, estava por trás da morte um interesse financeiro em receber o seguro de vida que fez no nome da mulher, dois meses antes da mandar matá-la.
Iracema acompanhou o julgamento, que aconteceu no Fórum Criminal de Vitória, desde às 9h. Saiu de Baixo Guandu, onde mora e onde a filha está enterrada, sem saber por qual decisão esperar. Disse que preferiu jogar para Deus.
A decisão veio depois de sete horas e 30 minutos de julgamento em sentença proferida pela juíza de Direito Livia Bissoli Lage.
"A culpabilidade é exacerbada, sendo extremamente reprovada a conduta do réu, restando comprovado que ele planejou e premeditou detalhadamente o delito junto com terceiras pessoas, sendo seu idealizador e principal responsável pelo crime", registrou a juíza, sentenciando-o à pena de 21 anos, 10 meses e 15 dias de prisão.
Iracema teve 10 filhos. Vanuza era uma das mais novas. "Ela era muito trabalhadora", destaca a aposentada. Talvez, por isso, ouvir do ex-companheiro da filha, agora condenado pelo crime, que Vanuza "não fazia nada" tenha sido tão duro.
"Ele teve a coragem de dizer isso, mas ela sempre trabalhou. Quando não era no shopping, era montando o próprio negócio, trabalhando em clínica. Quem não fez nada foi ele, que viveu todo esse tempo aproveitando a vida, à custa do seguro que recebeu dela, enquanto eu sofria", desabafou.
Iracema lembra que Vanuza foi morar com Gaudio aos 26 anos. Eles tinham um relacionamento conturbado, e o empresário era bastante ciumento. Ela, contudo, nunca imaginou que ele poderia mandar matar a filha.
Nos últimos anos, enquanto aguardava o julgamento, a idosa diz ter esperado um pedido de perdão do companheiro de Vanuza, algo que nunca aconteceu, nem mesmo no tribunal, onde ela nem sequer conseguiu encarar Gaudio. "Eu não consegui olhar na cara dele, abaixei o rosto e fiquei olhando para o chão", contou.
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