Publicado em 21 de abril de 2019 às 23:32
Jovens envolvidos nesses crimes moram, geralmente, em bairros de vulnerabilidade social e têm a família desestruturada. Quando há a figura do pai, geralmente está preso ou é alcoólatra, viciado, traficante ou tudo isso se mistura. A instituição familiar está quebrada, temos de recuperá-la. Quando um garoto desse erra e tem o apoio de uma família estruturada, ele se recupera.>
A análise é do titular do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado José Lopes. Segundo ele, o crime mais atraente para os jovens é o tráfico. Com armas e dinheiro, os adolescentes deixam o mundo da invisibilidade de suas comunidades. Há casos de garotos que não têm estudo, não têm nada em casa, moram numa comunidade de baixa renda e escolhem o tráfico de drogas. É ilegal, mas é comércio. No tráfico, ganham 150 reais por noite, portam uma arma e se destacam, claro que de forma negativa, mas pelo menos são visualizados, aponta.>
A gente observa que o adolescente sempre foi aproveitado no crime por algum maior de idade. Geralmente, ele não aprendeu a ter limite com a família. Quando ele fala: minha mãe não liga para mim, meu pai não me enxerga, desconta na sociedade. Ele precisou de limite e não teve, acrescenta o delegado.>
>
Na opinião do professor de mestrado em Segurança Pública, Pablo Lira, a legislação brasileira não acompanha o cenário atual. Os problemas de segurança pública da época em que as leis foram criadas são completamente diferentes dos que observamos hoje. Portanto, o jovem não se sente dissuadido de cometer um crime ou portar uma arma em público. Está cada vez mais audacioso, avalia.>
APÓS SER CHEFE DO TRÁFICO, ELE FAZ PREGAÇÕES EM IGREJAS>
Envolvido no crime quando ainda era criança e preso por oito anos acusado de comandar o tráfico de drogas e de executar rivais na Grande Santa Rita, em Vila Velha. Esse era o perfil de Leonardo Moraes, que aos 17 anos, já era conhecido como Leozinho Prostituto. Hoje, aos 26, Leonardo responde aos processos judiciais em liberdade e faz pregações religiosas em igrejas localizadas em bairros de vulnerabilidade social.>
O que faz o jovem de hoje entrar no mundo do crime é busca pela felicidade em lugares errados. Comigo foi assim: meus pais não puderam me dar o que eu queria e comecei a traficar. O que mais causa frustração na juventude é buscar a felicidade no crime e nas drogas. Pelo fato de ser novo, o jovem não tem noção do grau de profundidade de onde está entrando, comenta.>
Suspeito de envolvimento em 26 assassinatos e 60 tiroteios, Leonardo pontua que os jovens, cada vez mais, estão exercendo funções de destaque no comando de bocas de fumo e facções criminosas que atuam na Grande Vitória.>
Os assassinos de hoje são garotos de 16 a 17 anos que muitas vezes nem têm consciência do que está por vir. Eles chegam, matam e pronto. No tráfico da rua, quem toma conta é garoto.>
De acordo com Leonardo, assim como aconteceu com ele, as consequências dos atos criminosos que um jovem pratica são percebidas com o passar do tempo. No começo, parece que tudo são flores. O crime te dá dinheiro, poder, carro, bajuladores e mulheres. Só que vai chegar um tempo que vai apertar, seus amigos vão sumir, o dinheiro vai acabar e os mandados de prisão vão chegar. As mulheres vão embora e a cadeia aparece.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta