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Mesmo após assaltos, comerciante no ES desiste de fechar as portas

Mesmo após assaltos, comerciante no ES desiste de fechar as portas

Orlando Busatto chegou a fechar a lanchonete administrada por ele no Centro de Vitória. Com apoio da família e amigos, ele tenta se reerguer, mesmo com prejuízo de R$ 50 mil

Publicado em 1 de junho de 2019 às 02:01

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Orlando Busatto. (Bernardo Coutinho)

Com um prejuízo calculado em mais de R$ 50 mil após sofrer assaltos e arrombamentos, o comerciante Orlando Busatto, 69 anos, chegou a desistir de trabalhar na lanchonete administrada por ele há cerca de seis anos na Avenida Princesa Isabel, no Centro de Vitória. Alvo de arrombamento nos dias 6 e 13 de maio deste ano, o estabelecimento ficou fechado por uma semana.

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Trabalho com minha esposa e outras duas funcionárias. Estou cansado e sem esperança de que a situação da insegurança pública melhore por aqui. Só não desisti e fechei as portas de vez por causa das duas funcionárias. Eu também preciso trabalhar, mas eu não tive coragem de demiti-las. Estamos insistindo juntos

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Na madrugada do último dia 13, os ladrões invadiram o local pelo pelo telhado e fugiram levando cinco botijas de gás, três ventiladores de parede, uma máquina de moer carne de 80kg, mais de 40 kg de comida, televisão, microondas, além de panelas, utensílios de cozinha e boa parte do estoque de mercadorias.

Após o assalto registrado no dia 13 de maio, o senhor desistiu de trabalhar como comerciante?

Desisti. Cansei de tanto descaso, tanto roubo e tanto prejuízo com assalto e arrombamento. Só no mês de maio, perdi mais de R$ 40 mil em mercadorias e material de trabalho. Até hoje a gente não faz misto quente porque roubaram a chapa. Não tive dinheiro para comprar outra. Cheguei a fechar a lanchonete por uma semana. Fiquei desestimulado de trabalhar.

O que te fez mudar de ideia?

Olha, muitos clientes e amigos me deram força. Minha filha comprou algumas coisas e eu usei o cartão de crédito para comprar outras e voltar a funcionar. Mas eu só voltei porque trabalho com minha esposa e outras duas funcionárias. Estou cansado e sem esperança de que a situação da insegurança pública melhore por aqui. Só não desisti e fechei as portas de vez por causa das duas funcionárias. Eu também preciso trabalhar, mas eu não tive coragem de demiti-las. Estamos insistindo juntos”, disse Orlando. Alguns amigos fizeram até vaquinha para me ajudar a comprar as coisas de volta. Mas eu já disse que não vou querer. Agora em junho vamos ver o que foi arrecadado e já disse que vou doar tudo para um asilo.

Há quanto tempo o senhor é comerciante?

Sou comerciante desde que me entendo por gente. Comecei a trabalhar aos 18 anos. Estamos aqui nessa lanchonete há cerca de cinco anos.

E nesse período, quantas vezes foram alvo de assaltos e arrombamentos?

Ai, meu filho, foram tantas vezes… Só aqui, que eu me lembre, foram quatro arrombamentos e três assaltos. Os arrombamentos foram sempre à noite e de madrugada e os assaltos, à tarde, por volta das 15 horas. E quando vem de dia, eles não poupam a gente e nem os clientes. Levam dinheiro e celular de todo mundo que puderem levar. É sempre horrível. Eu chamei a polícia, registrei boletim de ocorrência, informei o que tinha sido levado mas até agora nada foi recuperado. O que entristece é que a gente não deixa de cumprir com nossas obrigações e pagamento de imposto, mas quando precisa, não temos de volta os impostos pagos. É revoltante a gente chegar no local de trabalho e encontrar tudo revirado, tudo sujo e quebrado. Quem já sentiu isso em casa ou no emprego sabe do que estou falando.

E, por causa da insegurança, tem adotado alguma medida para se proteger e evitar os ataques?

Estou em estado de nervo e nem durmo mais direito por causa disso tudo que aconteceu. A gente abre pela manhã e fecha logo após o almoço. Não tem condição de ficar até muito mais tarde porque acaba ficando perigoso. Agora suspeitamos de quase tudo, é muito ruim trabalhar assim. A loja de eletrodoméstico que funciona aqui na frente da lanchonete está mudando de endereço por causa da violência e porque a região fica deserta. A gente não vê policiamento toda hora. A violência é tanto que, ultimamente, todo comerciante tem uma história de assalto ou furto para contar por aqui.

RETORNO APÓS 32 ASSALTOS

"Os bandidos já assaltaram minha padaria 32 vezes. Nem sei mais qual foi o tamanho do meu prejuízo. Eu não aguentava mais de tanto assalto e arrendei tudo em 2013. Fiquei chateado com tudo isso. O antigo arrendatário não quis mais e então eu voltei a trabalhar em novembro do ano passado."

O desabafo é de um comerciante de 59 anos, proprietário de uma padaria que funciona de o ano 2000 no Centro de Vitória. Ele contou que em 13 anos de funcionamento foram registrados em se estabelecimento 32 assaltos, 12 arrombamentos e um carro roubado. Em um deles, ocorrido em janeiro de 2013, a filha dele foi vítima de dois bandidos armados.

"Minha filha veio de Rondônia para estudar e trabalhar comigo. Em um desses assaltos, ela foi rendida e teve uma arma apontada para o rosto dela. Cheguei na hora e vi que era um assalto e fiquei desesperado quando o bandido disse que ia atirar na cabeça dela. Entrei na frente da arma e pulei no indivíduo, mas ele fugiu correndo", disse.

À época, os bandidos fugiram levando R$ 400, mas acabaram presos. Após o crime, a padaria foi alvo novamente e então o comerciante desistiu do negócio. "Fiquei chateado com tudo aquilo e arrendei. Minha filha foi embora com medo e nunca mais quis voltar para o Estado. Hoje ela está formada e casada", explicou.

Ele explicou que, atualmente, o Centro da capital está mais seguro. Atualmente ele tem 15 funcionários, sendo que dois são filhos dele. "Em comparação com aquela época, a região está mais segura. Hoje eu tenho câmera de segurança, fico mais atento e passo mais tempo na padaria", disse.

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