Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 23:08
"É uma angústia, uma dor, um vazio que fica na gente. Esse tempo todo esperando que a justiça realmente seja feita". O desabafo é de Elson Cabral Filho, de 60 anos, que há três anos espera pela condenação do assassino da filha. Ele pai é de Ana Clara Félix Cabral, na época com 19 anos, morta com cinco tiros dentro do carro do ex-policial militar Itamar Rocha Lourenço Júnior. Ele é acusado de cometer o crime.>
O crime aconteceu em fevereiro de 2015 e Itamar deveria ter ido a juri popular em 2016, mas uma série de recursos pedidos pela defesa tem retardado o julgamento do caso. De acordo com a advogada da família de Ana Clara, Karlla Kenia Fernandes, a defesa de Itamar já recorreu até ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o crime não fosse julgado logo.>
"Não tem mais o que recorrer, mas eles (defesa) ficam interpondo recursos. Tudo que eles podiam fazer no Tribunal de Justiça já fizeram, estão no STF agora. Acredito que estejam fazendo isso para a sociedade esquecer um pouco do crime. O que nos tranquiliza é que esse atraso não é do Judiciário. Tecnicamente não tem como ele ser posto em liberdade. Mas a família fica ansiosa querendo ver justiça, embora nada alivie a dor. Para família foi ontem, é uma dor que não passa. Mas é só aguardar mesmo, acredito que ainda esse ano ele (Itamar) vai a júri popular", esclareceu a advogada.>
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A dor da família de Ana Clara não tem fim, e a cada nova mulher que morre vítima de feminicídio, as memórias daquele 4 de fevereiro de 2015 vêm à tona.>
"Está muito claro como aconteceu, as testemunhas, o crime desvendado. Mesmo assim a gente fica aflito, tem um pouco de medo que caia no esquecimento. De lá para cá já aconteceram com tantas meninas e jovens, e cada vez que a gente vê uma historia, a dor aumenta. É uma sensação de impunidade muito grande. Nós da família ainda não conseguimos achar uma forma de lidar com isso. Apesar de ele ter sido preso, o que a gente quer é a condenação. Queremos ter a certeza de que a justiça foi feita. Temos confiança de que ele será condenado", afirma o pai de Ana Clara.>
Enquanto os anos passam e a condenação de Itamar não ocorre, a família de Ana Clara tenta conviver com a dor e a saudade. "Ainda não conseguimos achar uma forma de lidar com isso. A vida de uma família que passa por isso nunca mais vai ser a mesma", conclui Elson.>
O CASO>
O crime aconteceu após Ana Clara e Itamar, que haviam acabado de reatar a relação, saírem de uma festa em um quiosque na praia de Camburi. Ana Clara foi morta dentro do carro de Itamar com cinco tiros nas costas. O corpo dela foi jogado em uma ribanceira na Rodovia do Contorno, na Serra.>
Após o crime, Itamar notificou a polícia dizendo que ao sair de um motel, em Cariacica, com a namorada, parou para urinar. Ele contou que nesse momento o carro dele, onde Ana Clara estava, foi cercado por criminosos, que teriam sequestrado a estudante.>
Durante aquele dia, a família de Ana Clara divulgou fotos da moça, que ainda estava desaparecida. Mas, na ocasião, a versão do então soldado não convenceu a polícia. Para um amigo, ele contou onde estava o corpo de Ana Clara e já durante a noite ele levou os policiais até lá, mesmo não confessando crime, nem dizendo a motivação e dinâmica do assassinato.>
Itamar foi levado para o Quartel da Polícia Militar e os advogados dele passaram a defender a tese de que o soldado sofria de problemas psiquiátricos. Em janeiro de 2016, ele foi para o presídio comum.>
EXPULSO DA PM>
Cinco meses depois do crime, Itamar foi expulso da Polícia Militar após sofrer processo administrativo interno. A corregedoria da PM considerou que o "comportamento do soldado denegriu a imagem da corporação". Desde então, o ex-militar está preso na na Penitenciária de Segurança Média I, em Viana.>
Ele não reúne qualidades que são exigidas de um policial. Queremos policiais que enalteçam, pratiquem boas ações. Obtivemos relatos, durante o processo, de que ele era extremamente violento e já teria agredido a namorada fisicamente e verbalmente. Ele não agiu como um policial, declarou na ocasião, o então corregedor da PM, coronel Ilton Borges.>
RECURSOS>
Em agosto de 2016, Itamar foi pronunciado réu e a Justiça decidiu que ele iria à júri popular. No entanto, desde então, a defesa do ex-PM recorre da pronúncia. Um primeiro recurso, ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo, foi negado. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Enquanto os recursos não são julgados, os prazos do processo ficam suspensos.>
Um habeas corpus pedindo a soltura do acusado também corre no STJ. Itamar ainda não foi julgado, mas segue preso desde 19 de janeiro de 2016 na Penitenciária de Segurança Máxima I, em Viana, segundo a Secretaria de Estado da Justiça. Antes disso, ele esteve preso no quartel da PM, até ser expulso da corporação.>
Para a defesa de Itamar, a Justiça está caminhando em um ritmo razoável. "É um processo difícil e controverso, onde a Justiça vai ter que prevalecer", afirmou o advogado José Carlos Nascif.>
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