Publicado em 25 de agosto de 2019 às 10:09
Ninguém sabe onde ele está. Frio e preciso, o sniper tem uma missão: dar um tiro certeiro. "Ele não pode errar", ressalta o especialista em segurança, Jorge Aragão.>
Os snipers, ou atiradores de elite, são policiais altamente capacitados, que desenvolvem um trabalho especial dentro da Polícia Militar. Eles são treinados para ter um tiro perfeito e agir em meio a situações adversas, sob alta pressão.>
O trabalho do sniper é acionado apenas em casos de alto risco, onde há presença de reféns, como aconteceu na manhã desta terça-feira (20) quando um ônibus com 37 pessoas foi sequestrado na ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro.>
"Se há grave ameaça à vida de terceiros, faz parte da doutrina da polícia posicionar um sniper, prepará-lo. Isso não quer dizer que ele vai ser usado, mas ele precisa estar pronto para atuar", explica o coronel Nylton Rodrigues.>
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No caso do Rio de Janeiro, após quase 4 horas de negociações, o comandante geral do Batalhão de Operações Especiais (Bope) decidiu pela tática letal para resolver o conflito. O sequestrador foi morto por disparos feitos por um sniper. Todos os reféns foram liberados do ônibus sem ferimentos.>
"Do ponto de vista policial, a atuação foi perfeita. Neste tipo de situação, que você tem uma pessoa ameaçando a vida de várias outras, a polícia tem que trabalhar com o pior cenário possível e fazer de tudo para que ele não aconteça. No caso, era que todos aqueles passageiros morressem", analisa o especialista Jorge Aragão.>
O uso do sniper, contudo, é a última opção em uma tentativa de resolução de conflito. "Ele só vai agir depois que uma gama de outras possibilidades já foram usadas, quando não tem mais jeito", declarou o coronel da reserva da Polícia Militar, Gustavo Debortoli.>
O processo que antecede a ação de um atirador de elite é longo. De acordo com Debortoli, inicialmente é feito o isolamento do local. Com a ajuda de um psicólogo e da família, é traçado um perfil do criminoso. Em seguida são iniciadas as negociações, e o posicionamento do sniper.>
Após todas as tentativas de negociações falharem, o atirador é acionado. Porém, a decisão de atirar não parte dele, mas do comandante da operação. Cabe ao sniper decidir o melhor momento para o disparo.>
PRECISÃO>
O sniper é um atirador de precisão e treinado para resolver a situação no primeiro tiro. Efetuar vários disparos, como foi visto no desfecho da ação da polícia no Rio de Janeiro, não é comum, de acordo com o coronel da reserva Gustavo Debortoli.>
"Em tese o sniper efetua apenas um disparo, que é letal. Ele é rigorosamente treinado para não errar e controlar a situação com um único tiro. Até porque, ele pode causar um dano colateral ao realizar outros disparos", ressaltou.>
Segundo a perícia do Rio de Janeiro, foram encontradas três perfurações no sequestrador morto pelo sniper na Ponte Rio-Niterói. O número de tiros não foi informado, já que as perfurações podem indicar a entrada e saída de um mesmo tiro. No local, testemunhas informaram que aproximadamente seis disparos foram ouvidos. >
O especialista em segurança, Jorge Aragão, pontua, porém, que condições adversas podem ter feito com que o atirador fizesse mais de um disparo, como o fato de não saber se o sequestrador segurava uma arma.>
INTERFERÊNCIA POLÍTICA>
A decisão de atirar é tomada pelo comandante da operação. É ele quem sinaliza para colocar o sniper em ação. Contudo, a interferência política, de pessoas do governo, ainda acontece neste tipo de situação. >
"A última palavra é do comandante, que está o tempo todo em contato com todo mundo, negociador, atirador, psicólogo. Mas é claro que existe o governador que, se não autorizar aquele disparo, não vai ser feito", defende Jorge Aragão. >
O ex comandante da PM, coronel Nylton Rodrigues, confirma que em alguns casos há interferência política, o que, segundo ele, não é ideal. Ele explica que este tipo de influência pode prejudicar na hora da decisão, que deveria ser exclusiva do comandante. >
"É uma decisão técnica, que tem que ser tomada por quem está vivendo aquela situação. O comandante baseia a decisão no risco do refém, no comportamento do sequestrador, em fundamentos técnicos. A partir do momento que o nível político começa a interferir, isso atrapalha", declarou.>
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